“O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.” (Dn.7.27)
Desde aquele fatídico dia em que Satanás
tentou Eva (Gn.3), os homens almejam e lutam pelo poder. Antes mesmo dos reinos
se formarem, os homens já faziam guerra entre si. Então, por inveja e orgulho,
Caim matou Abel (Gn.4.8), e Lameque se vingou de dois homens (Gn.4.23). Desde,
então, reinos acendem ao poder e caem por mãos de novos reinos. Nem mesmo o
racionalismo do século XIX evitou que a soberba do coração humano cultivasse a
guerra. Logo, duas grandes guerras mundiais assolaram o século XX, deixando profundas
marcas na humanidade. Desse modo, a sociedade vive uma constante tensão, porque
a paz de hoje é apenas a preparação para a guerra de amanhã.
E como se não bastasse os contínuos
conflitos na história humana, a Palavra de Deus nos mostra que a realidade
cósmica é bem mais ampla e tensa, pois envolve a realidade invisível. Portanto,
a criação tem testemunhado, desde a queda do homem, uma atmosfera bélica que
envolve seres visíveis e invisíveis, pois “a
nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef.6.12), que atuam com o
propósito de impedir a glorificação do nome de Deus e a salvação dos pecadores
perdidos (Zc.3.1-10).
Contudo, nada nesse hostil ambiente
cósmico está fora do alcance e do controle do Criador. Cada mínimo detalhe da
vida (Mt.10.30) é conhecido por Deus, muito antes de vir a existir. Então, de
forma esplendidamente gloriosa, Deus revela seu senhorio sobre toda a história,
sem nunca se corromper com ela. Deus planeja a obra inteira sem jamais cometer
um só pecado, pois Ele é completamente e profundamente Santíssimo (Is.6.3;
Hc.1.13). Mas, como Deus pode ser o arquiteto da história humana marcada por
tantos pecados? A narrativa de Gênesis 37 a 50 nos mostra como o Senhor é sábio
e poderoso para administrar as ações dos homens, com o fim de cumprir seus
santos propósitos salvíficos, sem jamais ser responsável pelos pecados dos
pecadores. Nas palavras de José: “Vós, na
verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer,
como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn.50.20).
É no decurso da história humana, marcada
por tantos pecados e horrendas guerras (Juízes), que a jornada redentora
percorre seu caminho reto, mas atribulado, sobrevivendo, pelo poder de Deus,
aos muitos ataques de Satanás, do mundo e do pecado (Rt.1.1). É no mais
escandaloso vale sombrio (Sl.23.4) repleto de ossos secos (Ez.37) que a graça
divina percorre seu caminho vivificador, deixando seus preciosos rastros de
misericórdia (Jn.4.2) por onde tocam seus formosos pés (Rm.10.15). E a cada
certa distância percorrida, o Senhor, graciosamente, revela a seus filhos
elementos formadores do projeto redentor, clareando a mente de seu povo para “compreender, com todos os santos, qual é a
largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de
Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a
plenitude de Deus” (Ef.1.18-19).
Então, para confortar a igreja, maltratada
pelo mundo que “jaz no maligno”
(1Jo.5.19), algumas vezes Deus lhe revelou o que haveria de acontecer em dias
futuros, convocando-a, assim, a tão somente confiar em seu poder, pois aquele
que anuncia o que há de vir é poderoso para cumprir sua Palavra (Is.44.7). É
exatamente o que encontramos no livro do profeta Daniel. Estando os judeus
espalhados pelas cidades do Império Babilônico, Deus usou alguns de seus servos
para manifestar sua glória ao mundo gentílico (Daniel 1-6), anunciando, também,
o que haveria de vir, a fim de que toda a terra soubesse que o Deus de Israel
era o verdadeiro e único Deus, Criador e Senhor da criação.
O livro do profeta Daniel é dividido em
duas grandes partes: 1) Daniel 1 a 6 é composto de narrativas de sinais e
maravilhas operados por Deus, principalmente através da vida de Daniel,
Sadraque, Mesaque e Abede-nego. Cada um desses seis primeiros capítulos narra
uma história diferente: Daniel 1: A firmeza e sabedoria dos filhos de Deus;
Daniel 2: Deus revela o futuro ao imperador; Daniel 3: O livramento da fornalha
de fogo; Daniel 4: A humilhação do imperador; Daniel 5: A escritura na parede;
Daniel 6: O livramento da cova dos leões. Cada capítulo é um sinal
extraordinário de Deus, mostrando sua real presença com seu povo, mesmo em
terra estrangeira; confirmando, assim, a mensagem que deveria ser transmitida
não somente aos judeus como também ao mundo: A redenção se aproxima. 2) a
segunda parte do livro, Daniel 7 a 12, é formada por visões que Deus dera ao
profeta, falando sobre os dias subsequentes (as 70 semanas = 490 anos) até a
chegada do Messias prometido, o Ungido do Senhor, e com Ele a vinda do Reino de
Deus.
E como as partes do livro de Daniel casam
em um único propósito literário? Analisando o livro inteiro, podemos dizer que
seu tema é: A redenção se aproxima. Essa mensagem está presente em todas as
visões da segunda parte do livro: Daniel 7 a 12. Porém, o anuncio da chegada do
Reino aparece muito antes do capítulo 7, pois Deus revela a vinda de seu Filho através
do sonho de Nabucodonosor, interpretado pelo profeta Daniel (Dn.2). Logo, o
propósito do livro é apresentado no início da obra, sendo confirmado pouco a
pouco por meio dos sinais que se seguem, incluindo a manifestação da sabedoria
divina no capítulo 1, através da vida de Daniel, Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego.
Podemos dizer, então, que, assim como a
mensagem do Evangelho, “a qual, tendo
sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a
ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e
vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade”
(Hb.2.3-4), também a revelação da proximidade do Reino de Deus, no livro do
profeta Daniel, é confirmada por todos os sinais e maravilhas manifestos pelo
Senhor através de seus servos, perante os olhos de reis, oficiais, magos e
povos participantes de dois impérios: Babilônico e Medo-Persa. Desse modo,
podemos afirmar que o livro do profeta Daniel possui uma notável unidade em que
todas as partes concorrem para o cumprimento do propósito central: Anunciar ao
mundo que a redenção se aproximava, então o Reino eterno de Deus finalmente
estaria entre os homens.
A Palavra de Deus é um livro divino de
múltiplo autores escrito com uma fantástica diversidade literária. E em um
único livro, podemos encontrar mais de um gênero literário, como ocorre em
Daniel (textos narrativos e textos apocalípticos). Faz parte dessa riqueza literária
os textos chamados de proféticos, ou seja, textos que anunciam antecipadamente
coisas que aconteceriam no futuro, quer seja próximo quer seja distante aos
dias do autor do livro; repletos de figuras de linguagens e símbolos. E independente
de qual seja o anuncio profético, podemos dizer que a existência de profecias é
por si só um elemento confortador da Escritura para os verdadeiros filhos de
Deus, pois indica aos leitores devotos que Deus é o Senhor de tudo, inclusive
da história, e, portanto, tem todas as coisas debaixo de seu poderoso, perfeito
e fiel controle.
De todas as visões sobre os acontecimentos
que se dariam entre o reino da babilônia e a chegada do Reino de Deus, podemos
afirmar que a mais acessível aos leitores se encontra no sonho de Nabucodonosor
(Dn.2). Nessa visão, Deus revela ao imperador que cinco reinos surgiriam sobre
a terra, sendo o primeiro deles o reino já presente, o império babilônico. O
sonho é bastante objetivo e se passa em torno, apenas, de uma grande estátua
(Dn.2.31). No final, algo novo surge: “uma
pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de
barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o
bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio,
e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas, a pedra que feriu
a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra”
(Dn.2.34-35).
Pela primeira vez, no livro, Deus revela a
chegada de seu Reino eterno. A narrativa é leve, sem figuras tenebrosas nem
conflitos assustadores. Nesse capítulo, o imperador tem um sonho que o
aterroriza (Dn.2.1). Assombrado pelo sonho, Nabucodonosor exige que alguém do
império lhe revele o conteúdo do sonho e sua interpretação, sem que o rei dê
qualquer informação (Dn.2.2-13). Diante da sobre-humana exigência, ninguém se
mostra capaz de satisfazê-la, e todos os sábios imperiais são condenados à
morte. Nesse momento, o profeta Daniel aparece pedindo um prazo, certo que Deus
poderia capacitá-lo a realizar a proeza exigida pelo rei (Dn.2.14-18). E tendo,
o Senhor, revelado tudo ao profeta, este vai a Nabucodonosor para contar-lhe o
conteúdo do sonho, seguido de sua interpretação (Dn.2.18-45).
O momento extraordinário carrega consigo
uma mensagem e um sinal. O sonho de Nabucodonosor é a mensagem divina sobre a
proximidade do Reino divino. E o sinal é a capacidade dada por Deus a Daniel
para saber com exatidão qual sonho o rei havia sonhado e sua precisa
interpretação. Apesar de Nabucodonosor ficar perturbado com o sonho, e
grandemente admirado com o dom divino dado ao profeta, Daniel não demonstra
qualquer temor, preocupação ou perplexidade com a revelação. Deus havia
revelado o sonho do rei ao profeta na noite anterior (Dn.2.19), de modo que o
profeta teve todo o restante da noite e o dia seguinte para meditar na visão e
em sua interpretação. Mesmo assim, Daniel não expressa qualquer espanto por
causa da revelação divina.
É interessante observarmos que o profeta
estava diante da revelação da chegada do Reino eterno do Messias, mas deixa
dúvidas sobre sua real compreensão a respeito da dimensão do que isso significava.
Seu coração bendiz ao Senhor por ser o Todo-Poderoso, mas não faz alusão à
grandiosa salvação que estava para se manifestar, nem ao caráter santo e eterno
do Reino que haveria de surgir gloriosamente: “Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade,
porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações,
remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos
inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em
trevas, e com ele mora a luz” (Dn.2.20-22). Nesse
primeiro momento, Deus não faz menção do fim do judaísmo (a queda de Jerusalém
em 70 d.C.).
A partir do capítulo sete do livro, o foco
encontra-se na revelação dos anos subsequentes ao profeta, culminando com o
centro da mensagem profética visionária dada por Deus: a chegada do Reino
messiânico. As visões variam os detalhes das informações, mas todas elas
preparam o povo de Deus para o tempo da redenção. No capítulo nove, Deus revela
o tempo que deveria ser esperado até a chegada do Reino divino: 490 anos
(Dn.9.24-26 – As setenta semanas de Daniel). E no capítulo doze, Deus explicita
que junto à chegada do Reino messiânico seria posto fim ao judaísmo. Por isso,
as visões que ocorrem nos capítulos sete a doze deixam o profeta abalado. A
chegada do Reino divino traria mudanças significativas para o mundo inteiro.
Para entendermos bem as visões de Daniel,
é preciso ter o foco certo. Quando o intérprete está focado no “fim do mundo”
costuma ler as profecias como alusões ao “fim do mundo”. Mas, seria esse o foco
da Escritura? Jesus nos ensinou que a Palavra de Deus tem como centro a vida e
obra de Cristo (Lc.24.27; Rm.11.36; Cl.1-2; Hb.1-2; Ap.1.8; 21.6; 22.13). Conforme
a Escritura, Cristo é a imagem do Deus invisível, o Redentor de toda a criação,
o herdeiro de todo o universo. Ele é o Criador, o Senhor e o Salvador. E quando
voltar, fará com que seu Reino eterno seja estabelecido em plenitude para todo
o sempre (Mt.25.31-46; Rm.14.17; Ap.5.10; 22.5). Portanto, nada é mais
importante do que o anuncio da chegada do Filho de Deus ao mundo e o
estabelecimento de seu Reino entre os homens (Mt.1-2; Lc.1-2). E é sobre isso
que Deus trata, nas visões dadas ao profeta Daniel.
As visões do profeta Daniel são ricas em
figuras, uma característica da literatura apocalíptica. Elas abordam desde os
dias do profeta, que está no primeiro ano do reinado de Belsazar (aproximadamente
555a.C.), até dias distantes, chegando a fazer menção do fim do Império Romano
(476d.C.), forte inimigo do povo de Deus nos dias neotestamentários (Ap.17-18).
Contudo, o foco das visões encontra-se na chegada do Reino divino. E para
mostrar a glória do Reino celestial, Deus revela ao profeta a turbulenta
história dos reinos passageiros que antecederiam a vinda do Messias. O povo de
Deus não deveria temer ante os reinos hostis dos homens, pois eles passarão
como o orvalho da manhã. Todavia, o Senhor cumpriria sua Palavra, dada a
milhares de anos, desde Adão e Eva, trazendo o Reino de seu Filho (2Sm.7), que
jamais seria abalado (Dn.7.25-27).
No capítulo 7 de Daniel, aparecem quatro
reinos que antecedem ao reinado do Messias. Nem todos os capítulos fazem
referência aos mesmos reinos. No sonho de Nabucodonosor (Dn.2), aparecem cinco
reinos: Babilônico, Medo-Persa, Grego, Generais Gregos e Romano. Em Daniel 7,
temos quatro reinados: Babilônico, Medo-Persa, Grego e Romano. No capítulo 8,
encontramos os reis da Média e da Pérsia, o reino Grego de Alexandre, o Grande,
a divisão do império entre os Generais de Alexandre e um último rei hostil que
se ocuparia em atacar o Príncipe dos príncipes, chamado de: o Ungido, no
capítulo 9. O mesmo ocorre no capítulo 11 de Daniel. Esse último reino é sempre
descrito como terrível e cruel. Esse é o abominável reino de Apocalipse, a
Grande Meretriz (Ap.17-18), o Império Romano.
Durante os três impérios: Babilônico,
Medo-Persa e Grego, o povo de Deus esteve espalhado por diversas províncias,
vivendo relativamente em paz. A reputação de alguns judeus, como o profeta
Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, deram aos israelitas um bom status
perante os olhos dos imperadores, ainda que vários indivíduos, de povos
pertencentes ao império, alimentassem ódio contra os judeus (ver livros de
Esdras, Neemias e Ester). A relação entre a Judeia e esses três impérios pode
ser considerada normal, comparada com as demais províncias dominadas pelos
impérios, afinal nenhum povo estava satisfeito com ter que se submeter a outro
povo. Mas, era possível viver com certa tranquilidade.
Todavia, conforme as palavras do profeta,
o quarto reino seria diferente de todos os anteriores, destacado pela amplitude
de sua crueldade, pois “o quarto animal,
terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro;
ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava”
(Dn.7.7). Esse quarto animal assustador surgiria após o terceiro reino cair
(grego), uma referência ao Império Romano. E podemos ver tal animosidade nos
dias do Novo Testamento quando diversos governantes perseguiram os filhos de
Deus, desde o nascimento do Senhor Jesus (Mt.2 - Herodes) até as visões do
livro de Apocalipse (Ap.13 – Tito Flávio Domiciano).
Apesar do terror transmitido ao leitor,
por meio da repetida descrição da insolência e crueldade do quarto reino, o
capítulo sete de Daniel possui um caráter muito mais fortalecedor e consolador
do que amedrontador. Devemos observar que o profeta faz repetidas (cinco vezes)
referências ao soberano controle divino e sua graça derramada sobre aqueles que
esperam em Deus (Dn.7.9-10, 13-14, 18,22, 26-27), de modo que: “O reino, e o domínio, e a majestade dos
reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu
reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão”
(Dn.7.27). Assim, o contraste cumpre seu papel retórico de realçar o poder de
Deus e a sua graça salvadora, convidando os filhos de Deus a tão somente
confiar nas promessas do Senhor.
Portanto, mesmo que a maldade do mundo
seja grande e terrível (1Jo.5.19); mesmo que Satanás tente destruir o povo de
Deus e impedir o plano redentor do Senhor, o Criador-Redentor Todo-Poderoso
cumprirá todas as suas promessas (Is.43.13), pois é Rei absoluto sobre tudo e
todos e está sentado em seu trono para governar com poder e julgar toda a
criação com justiça (Dn.7.9). Portanto, a igreja não deve temer o mundo, mesmo
quando estiver à mercê de seu poder (Mt.10.28), porque Deus sempre estará acima
de todos os homens: “o Altíssimo tem
domínio sobre o reino dos homens; e o da a quem quer e até ao mais humilde dos
homens constitui sobre eles.” (Dn.4.17).
Tendo em vista que o propósito do Senhor
não é aterrorizar seu povo com as visões, mas fortalece-lo para os dias maus, Deus
aparece como grande Rei e Juiz, com poder inigualável e justiça impecável.
Inicialmente, homens maus recebem o governo do mundo, mas, por suas inumeráveis
obras más, o reino é tirado deles e dado aos filhos de Deus que suportaram
pacientemente a maldade do mundo ao longo de seu governo. Ainda que o profeta
Daniel tenha ficado perturbado (Dn.7.28), a visão anuncia a glória do Reino
divino, dado aos filhos de Deus para desfrute eterno. Assim, Deus convida seu
povo à paciência e perseverança. Similarmente, em Apocalipse, em meio a toda
tribulação acometida contra os filhos de Deus, por quatro vezes a igreja
aparece vitoriosa, a despeito de todo sofrimento e morte (Ap.7.9-17; 11.15-19;
15.2-4; 19.1-10), pois sua vitória encontra-se em perseverar fielmente até o
fim (Ap.13.10). Esse reinado é representado pelo milênio, mas é concretizado
por ocasião da vinda do Filho do homem, Jesus Cristo, que virá “com as nuvens do céu” (Dn.7.13).
Todavia, algo assusta o profeta. Junto à
referência da chegada do Reino de Deus, ocorre a revelação da morte do Messias
(//Is.53), a queda de Jerusalém e a destruição do Santuário (Dn.7.25; 8.24;
9.26; 10.14; 11.41; 12.11). Portanto, nem todas as notícias das visões pareciam
boas. A falta de compreensão sobre o que significava tudo aquilo deixou o
profeta perplexo. Deus estava anunciando o fim do judaísmo, a queda de
Jerusalém, a grande tribulação judaica, mencionados por Jesus durante seu
ministério (Mt.24; Lc.21). Não eram boas notícias de fato, contudo tais
informações não deveriam sobrepor a promessa da chegada do Reinado Messiânico.
Resta-nos, agora, a pergunta: Como as
visões de Daniel podem ser aplicadas aos nossos dias? O cumprimento das
profecias ocorreu no decurso do período interbíblico, culminando com a vinda do
Messias e seu Reino eterno. Encontramos ainda o cumprimento preciso da queda de
Jerusalém e a destruição do império Romano, inimigo da igreja de Cristo. Como,
então, podemos aplicar profecias que se cumpriram no passado, à realidade de
cristãos de gerações tão distantes?
A primeira importante aplicação de todo e
qualquer texto bíblico que já tenha se cumprido na história é o chamado à
confiança no Senhor. Quando as profecias se cumprem, Deus prova seu poder e sua
fidelidade. O Senhor evidencia que a Sua Palavra é a Verdade que jamais erra
nem falha. Portanto, os cristãos são exortados a confiar em todas as promessas
do Senhor. Tal exortação cumpre, também, o papel consolador, chamando todo
servo de Deus a descansar o coração no Criador e Provedor (Mt.6.25-34), de modo
que “não andeis ansiosos de coisa alguma;
em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela
oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp.4.6), pois, assim, “a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”
(Fp.4.7).
Portanto, não importa o que Satanás tente
contra nossas vidas ou que o mundo faça para destruir a igreja, ela sempre será
vitoriosa, por causa de Cristo Jesus. Essa verdade deve confortar seu coração,
a fim de encontrar paz para a alma nos dias mais difíceis, pois o Senhor tem
tudo sobre perfeito controle. E mesmo que não parece, todas as coisas estão
debaixo de seus olhos, pois Ele é Senhor de tudo e todos. Então, entregue sua vida
completamente a Cristo e espere nEle, “porque
vem, vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, consoante a
sua fidelidade” (Sl.96.13).
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