Não minta!

“Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade.” (Sl.31.5)

Deus é a Verdade! E, como todos os demais atributos de Deus, a Verdade é santa e boa, justa e agradável estando em harmonia com o amor, a paciência, a benignidade, a mansidão, a justiça e todas as demais virtudes, afinal tudo em Deus é igualmente santo, justo e bom (Is.6.3). O Salmista louva a Deus, bendizendo sua transparência que reluz claramente: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR, Deus meu, como tu és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, coberto de luz como de um manto.” (Sl.104.1-2). Tudo em Deus é límpido, pois Ele é a Verdade e não há qualquer engano nEle. Jesus, o Filho de Deus, foi claro em se apresentar como a própria Verdade, pois “Nele, tudo subsiste” (Cl.1.17): “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo.14.6); e, quando intercedia por sua igreja, junto ao Pai, rogou a Deus que permitisse seu povo ser transformado pela Verdade que procede do Senhor: “Santifica-os na Verdade; a tua Palavra é a Verdade” (Jo.17.17).

A Verdade é a realidade. Não apenas a realidade visível, mas, também, a realidade invisível. A realidade sobre quem Deus é e sobre quem nós somos. A realidade sobre o passado, o presente e o futuro. A Verdade é a realidade de como você está, se realmente bem ou não. A Verdade é a realidade de suas intenções naquilo que você faz ou diz. A Verdade é a realidade sobre seus sentimentos a respeito de Deus ou de uma pessoa. O que você diz é verdadeiro quando condiz com a realidade. A Verdade não é subjetiva, pois não depende do sujeito. Ela independe daquilo que pensamos, sentimos ou queremos. A Verdade é o que é e ninguém pode negar ou desfazer a realidade, pois, ainda que tentemos rejeitá-la, ela estará sempre lá. Por essa razão, os homens serão julgados pela Verdade, como alguém que é conduzido para a mais clara luz tornando-se visível a todos. 

Portanto, quando você mente, você foge da realidade. Após ter pecado contra o Senhor, Adão tentou fugir da Verdade de que havia transgredido a Palavra de Deus por seu próprio querer, ainda que induzido pela mulher. De semelhante modo, a mulher tentou negar a realidade de que havia desejado a glória de Deus e desobedecido ao Senhor tentada por sua própria cobiça, ainda que Satanás tenha sido o instrumento que despertou tal mal no coração de Eva (Gn.3). Posteriormente, Caim tentou negar a Verdade de que estava com inveja e ódio de seu irmão Abel, porque Deus havia aceito tanto o coração dele quanto a oferta que dedicara ao Senhor de “seu rebanho e da gordura deste” (Gn.4.4). A mentira de Caim logo fora revelada por suas atitudes, pois ao se levantar para matar o próprio irmão, Caim estava mostrando seus reais sentimentos. A mentira na boca e nas atitudes de todos esses personagens são fugas da realidade, a negação da Verdade.

Ao se distanciar de Deus, o ser humano deixou de ter sua vida fundamentada na Verdade. Antes da queda de Adão e Eva, o ser humano expressaria seus sentimentos de modo sincero. Quando não gostassem de algo, o homem afirmaria que não gostou de algo; e quando pensasse algo a respeito de alguém ou de algum assunto, ele expressaria isso com franqueza. O amor, a justiça e a bondade andariam juntos à Verdade tornando a vida límpida. Porém, ao negar Deus, o homem negou a própria Verdade, porque Deus é a razão e o propósito de todas as coisas, a origem de tudo e aquele que dá significado a tudo, quer visível quer invisível. Deus trouxe a realidade à existência e nEle tudo existe. Deus é a Verdade!

Logo, quando você mente com seus sentimentos; quando você mente com suas palavras; quando você mente com suas intenções; quando você mente com suas ideias; você está negando não somente a realidade, mas Aquele que é a origem da realidade: Deus. A mentira é a negação da Verdade e Deus é a Verdade. A Palavra de Deus afirma que o diabo, um ser maligno em tudo o que faz, é o pai da mentira, pois foi ele quem trouxe a mentira ao mundo, negando a Verdade que Deus havia criado e anunciado para Adão, no jardim do Éden, conforme Jesus afirmou: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo.8.44).

Desde, então, a mentira contamina tudo o que o homem faz, sente, pensa e diz. Todos os dias, pessoas dizem que gostam uma das outras, quando não estão dispostas nem mesmo a servi-las com puro coração. Diariamente, sorrisos pretendem disfarçar os sentimentos mais profundos de tristeza, raiva, inveja, maldade, desgosto etc. O vendedor sorri para agradar o cliente enquanto o coração está furioso com a demora, as muitas perguntas e, até, o simples fato de precisar estar ali para atender. O negociante deprecia o produto que deseja comprar por baixo preço e, logo em seguida, tece maravilhosos elogios para aqueles a quem deseja vender o mesmo produto por um preço acima do valor merecido. O político aperta a mão dos possíveis eleitores com sorriso nos lábios, quando seu único propósito é ser consolidado no poder, onde poderá enriquecer fraudulentamente. Membros de um concílio eclesiástico sorriam e acenam, mas, logo saindo o indivíduo, fazem os comentários mais perniciosos e engendram as formas mais malignas para derrubar aquele a quem odeiam. 

A mentira destrói as relações pessoais, faz sucumbir nações inteiras e está contaminando todo o cristianismo, pois seus frutos são sempre malignos. Mas, o coração entorpecido da sociedade não sente a diferença entre a verdade e a mentira. O relativismo, o subjetivismo e o pluralismo atrofiaram o senso humano, incapacitando o homem a julgar entre o certo e o errado. Assim, a cristandade vem sucumbindo negando a Verdade, pouco a pouco, até que a religião se torne uma completa mentira.  Desvio de dinheiro, roubo de documentos, atribuição de falsa identidade para obter vantagem ou causar dano a alguém, espionagem ilegal quebrando o direito de sigilo confessional de ministros, tentativa de anulação de atos sagrados biblicamente realizados (batismo, profissão de fé, ordenação de presbítero). Tudo em nome de mentiras, pois a Verdade sobre a ambição do coração jamais será reconhecida. Uma sociedade em que as pessoas não dizem a verdade sobre o que sentem e o que pensam, nem se dispõe a viver relações verdadeiras, cultivando intenções e ações verdadeiramente boas, justas, amáveis e fiéis está destinada à ruina completa.

A mentira arruína as obras dos homens, tornando-os dissimuladores até naquilo que é bom. Quantas vezes pessoas fazem o bem sobre o pretexto de bondade quando, na verdade, é a vaidade do coração que alimenta o interesse filantrópico, instrumento para o orgulho de si mesmo. Assim, até o bem que o pecador realiza esconde as verdadeiras intenções pecaminosas, pois o real interesse é ser exaltado por todos. Foi assim que muitos imperadores, reis, governantes procederam no passado, aclamados por todos como sumo benfeitores quando seus aparentes atos de bondade eram formas de escravizar os sentimentos do povo, tornando-se deuses para aqueles que governavam. Ainda hoje, políticos, dentro e fora da cristandade, são bajulados por seus aparentes atos bondosos que escondem a verdade sobre a vaidade de um coração orgulhoso.

A corrupção da cultura brasileira mergulhada na mentira tem contaminado todas as esferas sociais. Quantas vezes pastores se associaram com intuitos malignos, com o fim de derrubar outros que não lhe agradam por alguma razão? Sem que os membros saibam, pastores e presbíteros perseguem outros com o fim de destruí-los secretamente. Igrejas são perseguidas pelo simples fato de não fazerem a vontade daqueles que entronizaram a si mesmos como deuses da religião. Desse modo, os mesmos que pregam nos púlpitos, com aparência de piedade, falando sobre o perdoar setenta vezes sete, o amar a todos indistintamente, o viver com integridade, sinceridade e bondade, secretamente planejam todo tipo de maldade contra os indesejados. Em vez de pastorearem de acordo com a verdade, agem como políticos mentirosos. Quando deveriam acertar tudo em acordo com a Palavra de Deus, cultivando diálogos sinceros e piedosos, preferem agir ocultamente com maldade.

Não apenas as palavras devem ser verdadeiras, mas os pensamentos, as intenções e os sentimentos também. Deus vê a Verdade dentro e fora de nós. Ele não quer apenas sorrisos de simpatia quando o coração esconde sentimentos opostos. Não adianta falar, é preciso que suas palavras sejam verdadeiras. Não é suficiente ser esperto e astuto no uso de leis forjadas pelos homens ao mesmo tempo negando a Verdade revelada por Deus para ser nossa única regra de fé e prática. A Verdade não é aquilo que você quer mostrar nem aquilo que os homens pensar ver. A Verdade é aquilo que é sem qualquer fantasia ou fingimento. A Verdade é aquilo que Deus vê em você mesmo que os homens não vejam. A Verdade é justa, pura e boa!

Não é bom viver fora da verdade! Por isso, o apóstolo João afirma: “Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus” (3Jo.11). Jesus edificou sua igreja sobre a Verdade, a Palavra de Deus (Ef.2.20) e jamais lhe ensinou qualquer mentira. A disciplina do Senhor sobre seu povo e a condenação dos ímpios que o rejeitam é segundo a Verdade, Verdade esta que é pregada a igreja para sua santificação e anunciada ao mundo para a salvação daqueles que creem e condenação daqueles que negam, como nos diz o apóstolo Paulo: “Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas” (Rm.2.2). Logo, o cristão não deve viver segundo a mentira, não convém fugir da realidade, não é possível ser cristão e negar a Deus. Pastores mentirosos, presbíteros dissimuladores, diáconos fingidos e membros vivendo enganosamente tornam a cristandade em um culto ao diabo, pai da mentira. Toda mentira é pecado, não importa se contada apenas em sua mente ou em seu coração, no sussurro do celular ou em um perfil falso de uma rede social.

Portanto, não minta nem por sentimento, nem por pensamento, nem por palavras, nem por atitudes. Sua mentira é uma negação da Verdade, uma rejeição do próprio Deus, por isso não convém a nenhum cristão. Precisamos resgatar a Verdade como fundamento da sociedade, a começar com a vida eclesiástica. Seja um amigo verdadeiro, seja um trabalhador honesto, seja um pastor/presbítero de verdade. Pare de fingir que gosta quando não gosta; para de fingir que tem amor quando há desprezo no coração; para de engar nas pessoas: reuniões secretas, planos maliciosos, emboscadas maldosas, tentativas de derrubar o próximo. Nada disso procede da Verdade, nada disso é bom, justo, amável e santo. Lembre-se o que nos adverte a Escritura: “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os MENTIROSOS, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte” (Ap.21.8)