“Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes” (Tg.5.10-11)
Toda e qualquer pessoa precisa de consolo em algum momento da vida. Isso se dá porque a realidade do pecado é para todos, tanto ricos quanto pobres, quer doutos quer indoutos, seja homem seja mulher, da infância à velhice. Não significa que sempre estaremos passando por problemas nem que todas as pessoas passarão exatamente pelas mesmas angústias. Significa que a realidade é a mesma para todos ainda que suas implicações possam ser variadas em modo e grau.
Portanto, você que está lendo esse texto não é a única pessoa que já passou e/ou está passando por tribulações. Meninos e meninas, homens e mulheres do mundo inteiro estão sendo provados, tentados, perseguidos, privados, frustrados, maltratados. O sofrimento entrou no mundo por meio do pecado de Adão (Gn.3) e somente sairá através da consumação da obra redentora de Cristo, por ocasião da volta de Jesus (Ap.21). Então, o que devemos fazer enquanto esperamos Ele voltar?
Existem muitas formas corriqueiras de se consolar as pessoas frente a sofrimentos da vida. Algumas dessas maneiras visam apenas causar um bem-estar momentâneo: “Não se preocupe, vai dar tudo certo!” Outras são cômicas: “Quando casar, sara!” Em alguns momentos é mais fácil consolar: “Eu já passei por isso, também, não se preocupe.” Mas, há momentos que desafiam o ser humano a oferecer um consolo eficaz, como ocorre em caso de perda de pessoas queridas. Diante de tudo isso, devemos perguntar: Qual seria a melhor forma de consolar as pessoas?
À primeira vista, pode parecer fácil consolar. Para alguns, basta falar algumas palavras bonitas ou dar algumas promessas genéricas ou mesmo fazer a pessoa sorrir quando ela gostaria de chorar. Todavia, consolar de uma forma qualquer é subestimar a realidade da angústia que a pessoa está passando. Não podemos subestimar a natureza do sofrimento presente nesse mundo. Antes, precisamos compreender a natureza do sofrimento para darmos resposta adequada para ele.
Então, o que é o sofrimento? É uma dor física e/ou mental-emocional decorrente da fraqueza humana. Sentimos dor, não apenas porque algo é capaz de ferir, mas, sobretudo, porque somos capazes de sentir dor. Ou seja, a sensibilidade do corpo e da mente-coração é que nos faz sentir dor. Pessoas com analgesia congênita não sentem dor, mesmo quando são cortadas ou furadas, mesmo quando estão para dar à luz.
Portanto, o sofrimento não se trata apenas de fatores externos, mas principalmente de fatores internos. A queda de Adão sujeitou o mundo à opressão de Satanás que vive para perturbar o ser humano (1Jo5.19); a desobediência de Adão também trouxe ao mundo seres nocivos como as pragas e os parasitas que consomem e destroem a criação (Gn.3.17-18). Mas, nada disso causaria tanta dor no ser humano se a natureza humana fosse forte o suficiente para suportar todas esses males. É fundamental, então, que realcemos o fato de que o pecado ainda trouxe ao mundo o sofrimento, ou seja, a sensibilidade extrema frente às adversidades que surgem na vida.
Algo em Adão mudou após a desobediência. Primeiramente, Gênesis nos diz que “abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueiras e fizeram cintas para si” (Gn.3.7). Devemos observar que, conforme a Palavra de Deus, o pecado mudou algo dentro de Adão e Eva. A realidade externa não havia mudado, pois tanto o homem quanto a mulher sempre estiveram nus desde a criação deles. O que mudou foi algo dentro deles, de modo que passaram a olhar a nudez de forma diferente.
Mais adiante, a Escritura nos diz que Deus castigou a mulher com a dor de parto: “E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos.” (Gn.3.16). Nessa palavra divina, vemos que não foi apenas a forma de ver o mundo que mudou em Adão e Eva. Também mudou o corpo deles. Como castigo, o homem e a mulher passaram a ser frágeis, sensíveis à dor. Com a sensibilidade aumentada, dar à luz a uma criança seria algo doloroso. O ser humano tornou-se um ser sensível.
Ou seja, se, antes do pecado, adão caísse ao chão, estando ainda no Éden, ele sentiria pouquíssima dor. Portanto, Adão e Eva não sofreriam por causa de ferimentos, pois a sensibilidade à dor seria pequena. Ao dar à luz, a mulher sentiria pouquíssima dor, não lhe causando, portanto, espanto no trabalho de parto. Desse modo, a dor não era um problema para o homem e a mulher, pois eles eram fortes, resistentes, de pouca sensibilidade.
Evidentemente, não podemos ignorar que os fatores externos ajudavam, já que, no Éden, nenhuma das criaturas era carnívora; não havia parasita nem vírus para adoecer o ser humano; muito menos o próprio homem pensaria em fazer mal a outro ser humano. Logo, os fatores externos também auxiliavam na formação de um verdadeiro paraíso, onde a dor estava, praticamente, ausente, pois Deus criou tudo para viver em harmonia e o ser humano para suportar todas as desventuras.
Como dissemos anteriormente, o sofrimento é uma dor. E essa dor possui mais razões internas do que externas, por isso certos animais não sentem dor, mesmo expostos a fortes ataques. A resistência deles dificulta a sensação de dor. Contudo, não é apenas a dor física que incomoda o ser humano. Podemos até dizer que a dor física é o menor dos problemas. O sofrimento mental-emocional é ainda mais marcante do que a dor física e precisamos saber lidar com ele também.
Como demonstramos pela Escritura, a dor possui razões internas ao homem. Com a queda de Adão, sua natureza humana foi mudada, tornando-se frágil, sensível. Essa sensibilidade faz com que o homem facilmente sinta dores. Dentre essas dores estão os sofrimentos da alma. Com o pecado, o ser humano ficou sensível a todo tipo de angústia em sua mente-coração: a ausência de alguém que se ama; a frustração diante de expectativas; o desejo não atendido; o medo da solidão; a dor do abandono; a angústia da derrota etc. Muitas circunstâncias da vida podem causar dor ao coração de uma pessoa.
Todos esses sofrimentos possuem dois fatores: um externo e outro interno. O fator externo é a circunstância real: ausência, expectativa ou desejo não atendidos, ser abandonado, estar sozinho, ser derrotado etc. Ou seja, realmente algo ruim aconteceu com a pessoa e ninguém vai negar isso. Todavia a reação da pessoa diante do problema pode variar. Algumas pessoas sofrem profundamente diante de qualquer desses problemas. Mas, outras não se sentirão tão incomodadas com tais acontecimentos.
Atos 5:40-41 Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. 41 E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome
2 Coríntios 4:8-9 Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; 9 perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos
2 Corinthians 11:24-29 Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; 25 fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; 26 em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; 27 em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. 28 Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. 29 Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?
Nesses três textos, vemos homens fortes de mente-coração, capazes de resistir às mais intensas dores físicas e enfrentar as mais profundas realidades adversas para a alma sem se desesperarem. E conforme a história dos mártires, muitas mulheres dos primeiros séculos da era cristã também suportaram todo tipo de atrocidade praticada pelos romanos contra os cristãos. Mulheres tão aparentemente frágeis, mas tão fortes por dentro. Com essa força, os cristãos perseveraram frente às mais duras ameaças e na perseverança venceram os inimigos da igreja, quer com a vida quer pela morte. O que fazia essas pessoas tão fortes?
Através da conversão ocorre uma mudança no ser humano. Essa mudança, apesar de invisível, é profundamente real, transformando tanto a forma como se lê a realidade (Rm.12.1-2) quanto o modo como a pessoa será capaz de encarar o mundo que ainda jaz no maligno (1Jo.5.19). A conversão de Paulo mudou profundamente sua vida, não apenas porque fora chamado para ser apóstolo, mas porque Cristo passou a operar em seu viver: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” (Gl.2.20).
A certeza da presença de Deus (Sl.23.4), o operar do Espírito Santo produzindo frutos de justiça (Gl.5.22-23), a alegria da salvação (Sl.51.12; Fp.4.4), a confiança nas promessas do Senhor (Fp.4.6-7), a esperança da vida eterna (Cl.3.1; Ap.21) mudam a forma como o homem lida com os sofrimentos da vida (Rm.8.18-25). Por isso, Paulo fala com tanta convicção: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp.4.7). Os sofrimentos não deixarão de existir, como podemos ver na vida dos apóstolos, mas a forma como olhamos para eles e lidamos com eles mudará completamente, como podemos ver na igreja primitiva (At.5.41; 1Ts.4.13-18).
A nova realidade humana, inaugurada pela obra redentora de Cristo e aplicada ao coração dos pecadores através do poder da Palavra e do Espírito do Senhor, fortalece a mente-coração do homem, a fim de que persevere por toda sua vida frente às mais profundas e amplas lutas que sobrevierem: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef.6.10). “Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Is.40.30-31).
A nova vida operada pela Palavra e o Espírito de Deus é uma demonstração da gloriosa vida que Deus trará para seus filhos quando Jesus voltar. Ou seja, se somos capazes de encarar as lutas presentes através do poder de Deus, quanto mais viveremos a paz de Deus quando o mal for retirado da criação. Desse modo, o agir de Deus fortalecendo a mente-coração do cristão no tempo presente aponta para a vida eterna, alimentando em nós uma viva esperança, pois a promessa do Senhor é: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap.21.4).
Existe um verdadeiro consolo que provém de Deus. Esse consolo é Cristo em nós operando poderosa e graciosamente na vida de pecadores que se entregam completamente a Ele para uma viver segundo a esperança de Cristo Jesus. Nele, a mente-coração é fortalecida e os olhos ganham um novo alvo para se fixar: a vida eterna. Em Jesus, os olhos veem o sofrimento com os olhos do Senhor, ou seja, como instrumento para o cumprimento da vontade de Deus quer trabalhando nossas vidas quer usando nossas vidas para abençoar muitas. Por meio desse novo olhar a mente-coração ganhará força e até alegria em Deus.
Portanto, a forma correta de lidarmos com o sofrimento é através da Verdade do Evangelho capaz de mudar o presente dentro do homem e dar-lhe uma viva esperança para o futuro. Não precisamos negar a realidade da dor, mas devemos saber como lidar com essa realidade segundo a Verdade do Evangelho. Então, quando você precisar consolar alguém, dê a ela mais que bonitas palavras, dê a Palavra de Deus, a Verdadeira solução para mente-corações passando por um mundo repleto de tribulações.
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