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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Não tolere os falsos profetas


 Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1Jo.4.1)


Você tem lido a Bíblia? Você tem estudado a Palavra de Deus com dedicação e oração? A falta de conhecimento da Palavra de Deus nos torna vulneráveis diante dos falsos profetas. Por isso, inclusive, Deus chama e envia homens para ensinar a Palavra do Senhor com fidelidade e combater aqueles que querem induzir o erro no meio da igreja, contaminando o corpo de Cristo com mentiras do diabo. O pastor, então, deve ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem. Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão” (Tt.1.9-10).


A perplexidade me alcançou ao ver o número de jovens cristãos que dão atenção às mais tolas palavras de falsos profetas que transformam os ignorantes em seus discípulos. Minha perplexidade não vem da existência de falsos profetas, pois Cristo advertiu seus discípulos que “surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt.24.24) e o apóstolo Paulo disse aos presbíteros de Éfeso que “entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (At.20.29-30). Minha perplexidade vem da facilidade com a qual jovens cristãos, que poderiam ser maduros no conhecimento da Palavra de Deus, se tornam mediadores de falsos profetas, quer por gosto em “contendas teológicas” quer por falta de “maturidade teológica”. Tendo pastores fiéis e pasto verdejantes, correm para a lama como porcos e não ovelhas. Não deveria ser assim!


Um fato importante que deve ser considerado é a natural inclinação do coração humano para aquilo que não presta. Não é sem razão que falsos profetas conseguem muito mais discípulos do que pastores fiéis. Observe-se que as mesmas pessoas que curtem, compartilham e dão ibope para os falsos profetas não estão lendo a Palavra divina assiduamente, de modo que aparentando interesse na teologia mostram na prática que não tem qualquer amor à Escritura, apenas um leviano interesse por contendas entre irmãos, ignorando a exortação do apóstolo Paulo a Timóteo: “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro.” (1Tm.6.3-5)


Devemos considerar ainda que os falsos profetas não devem ser tolerados. Jesus e os apóstolos amaldiçoaram os falsos profetas. Cristo não foi tolerante nem manso ao dirigir palavras condenatórias contra os falsos mestres judeus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mt.23.15). Em sua carta aos Gálatas, Paulo exortou duramente os cristãos daquela cidade: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?” (Gl.3.1), pois os falsos profetas são pervertedores da Palavra de Deus: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl.1.6-7). Conforme a Escritura (Antigo e Novo Testamento) não há diálogo com os filhos do diabo que tentam perverter a Palavra de Deus (Dt.13), e muitos falsos profetas têm se levantado em nossos dias, atacando as bases do Evangelho: a doutrina justificação.


Também, na história da igreja, encontramos a firmeza com a qual pais da igreja, medievais e reformadores trataram os falsos profetas que ameaçavam a pureza doutrinária da igreja. Tamanha foi a reação da igreja contra os falsos profetas que se tornou popular a tradição de que o Bispo Nicolau de Mira esmurrou Ário durante o Concílio Ecumênico que ocorreu em Nicéia (325 A.D). A pureza doutrinária disponível no cristianismo do século XXI se deve ao zelo firme e intolerante de homens de Deus do passado que lutaram contra os falsos profetas, em vez de dialogar amistosamente com eles. Tomás de Aquino nos ajuda a meditar sobre o zelo por Deus em sua reflexão sobre a tentação de Jesus: 


Quando Cristo sofreu a injúria da tentação ao dizer-lhe o diabo - Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, não se perturbou nem o increpou. Mas quando o diabo, usurpando para si a honra devida a Deus, disse — Dar-te-ei todas estas coisas se prostrado me adorares — Cristo exasperou-se e repeliu-o dizendo — vai-te, Satanás; querendo ensinar-nos com esse exemplo que devemos suportar magnanimamente as injúrias, feitas a nós mas não toleramos, nem sequer para os ouvir, as injúrias feitas a Deus.” (Suma Teológica, Livro III, Questão 41, Artigo 4). 


Devemos, ainda, mencionar as sábias palavras atribuídas ao reformador João Calvino: “o cão late quando seu dono é atacado. Eu seria um covarde se visse a verdade divina ser atacada e continuasse em silêncio, sem dizer nada”. A piedade de grandes homens de Deus não os conduzia a um pacifismo vazio, presente em nossos dias, mas a um zelo fervoroso por Deus e sua Santa Palavra, de modo que os falsos profetas eram combatidos com veemência garantindo a proteção da igreja perante os lobos vorazes que queriam devora-la. O amor a Deus era a baliza que media o relacionamento com o próximo: cristão, pagão e herege.


Ainda que não seja sábio, Satanás é astuto e sabe agir com sutileza, a fim de enganar os menos doutos arrastando-os para a destruição como fez com Adão e Eva. Os passos seguidos por Satanás na tentação do Éden mostram a sagacidade do diabo (Gn.3.1-5) e a necessidade de cristãos serem qualificados a resistir aos ataques do adversário de nossas almas (Ef.6.10-18). Além de sagaz, Satanás é, também, ousado, como podemos ver na tentação de Jesus. Tentando Cristo, o diabo usou a fragilidade do homem, citou as Escrituras deturpando-a e, ainda, apelou para as ambições humanas. Satanás jamais aparece com dois chifres e um tridente com o fim de arrastar pessoas após si. Ele precisa ser carismático e bajulador para que suas mentiras se tornam atraentes. 


Gostaria de tomar por exemplo uma postagem recente de um falso profeta. Conforme o tal indivíduo deveríamos raciocinar da seguinte forma:


Todo mundo que tocou Jesus foi curado? Não.

Só foi curado quem tocou em Jesus? Não.

O corpo de Jesus curava? Sim!


Todo mundo que foi batizado é salvo? Não.

Só é salvo quem é batizado? Não.

O batismo salva? Sim.


Vejamos os problemas do argumento acima: Primeiramente, as frases são tratadas como axiomas sem que sejam. É verdade dizer que o mundo não foi curado por tocar em Jesus e, também, é verdade que muitas pessoas foram curadas sem tocar em Jesus. Todavia, não é verdade que o corpo de Jesus curava. A sutileza encontra-se em usar algumas premissas verdadeiras para iludir os destinatários que jugarão serem todas as frases verdadeiras. Todavia, afirmar que o corpo de Jesus curava é falso, pois nenhum dos evangelhos traz tal afirmação. A mulher que tinha hemorragia (Mt.9.19-22; Mc.4.24-34; Lc.8.43-48) não tocou no corpo de Jesus, mas na orla de suas vestes. Mesmo assim, não podemos afirmar que as vestes de Jesus curavam, pois foi a fé da mulher em crer que Jesus poderia curá-la que Cristo considerou a causa de ter recebido a cura da parte do Senhor: “E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. E, desde aquele instante, a mulher ficou sã.” (Mt.9.22). Desse modo, encontramos uma afirmação falsa na estrutura da argumentação.


Outro erro claro é a contradição existente em duas frases da segunda perícope: a primeira e a terceira. Ao afirmar que o batismo salva (terceira frase), o autor negou sua primeira frase:


“Todo mundo que foi batizado é salvo? Não”. 


Observemos a questão: Se o batismo salva é inevitável que entendamos que todas as pessoas batizadas sejam salvas, pois o batismo salva. Estamos tratando de uma questão básica da lógica chamada de terceiro excluído: uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo, ou ela é verdadeira ou ela é falsa. Ao afirmar que o batismo salva, o autor não pode afirmar que o batismo não salva. A proposição deve ser verdadeira ou deve ser falsa, não podendo ser as duas coisas ao mesmo tempo. Se nem todas as pessoas que foram batizadas foram também salvas, então o batismo não salva, pois nem todas as pessoas batizadas são salvas. As duas frases são contraditórias, portanto o argumento é ilógico. Além disso, a segunda frase é uma inferência, pois não há razões bíblicas para tal conclusão:


“Só é salvo quem é batizado? Não.” 


De que forma o autor chegou à conclusão de que pessoas não batizadas serão salvas? O Novo Testamento não oferece razões para isso e o Antigo Testamento não pode ser utilizado em favor da ideia. O comum argumento do ladrão da cruz que se converteu é imaturo, pois ignora que aquele ladrão era judeu circuncidado e que Cristo não havia consumado a redenção ainda, pois não havia morrido na cruz. Portanto, a segunda questão não passa de uma falácia que ilude os desavisados, como Satanás iludiu Eva.


Conclusão: Em vez de seguir postagens de falsos profetas, filhos do diabo, leia a Escritura, ore ao Senhor e busque orientação naqueles que tem o testemunho de serem zelosos com a Palavra do Senhor. Assim, você evitará de cair nas artimanhas do diabo. Lembre-se que o diabo não poupa criança, adolescente, mulher ou idoso. Seu desejo é destruir a igreja de Jesus não importando o que será necessário. Então, olhe para os falsos profetas como inimigos de Deus, como disse Paulo: “Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor?” (At.13.10)



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