“Começou
Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda
quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn.3.4)
A Palavra do Senhor não muda, porque o Criador não muda! E o
conhecimento do caráter imutável de Deus é de extrema importância para a vida
do cristão, pois o mundo a nosso redor muda o tempo todo. As pessoas são
instáveis e inconstantes, mudando de acordo com as circunstâncias à volta.
Diante desse contexto volúvel, o cristão precisa de promessas seguras que
tragam serenidade ao coração (Fp.4.7; 2Tm.2.13). É preciso olhar para a
imutabilidade de Deus no qual encontramos promessas fiéis e verdadeiras (que
não mudam), de modo que o cristão possa descansar a mente e o coração no
Senhor, mesmo nos dias mais difíceis, quando se depara com os próprios pecados
do coração: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que
se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado,
não o cumprirá?” (Nm.23.19).
Após o grande peixe vomitar Jonas em terra (Jn.2.10), a
Palavra do Senhor veio novamente ao profeta: “Dispõe-te, vai à grande cidade
de Nínive e proclama contra ela a mensagem que eu te digo” (Jn.3.2). Deus
não mudou seu plano por causa da dureza de coração de Jonas. Apesar do profeta
ter desobedecido, o Senhor continuou seu plano original: fazer Sua Santa
Palavra conhecida dos ninivitas. A repetição da ordem para que Jonas pregasse a
Nínive deve nos chamar a atenção para: 1) As misericórdias do Senhor
dispensadas sobre a vida de Jonas, de modo que o profeta estava recebendo a
segunda oportunidade de mostrar obediência a Deus; 2) O interesse do Senhor na
cidade de Nínive e que, portanto, de algum modo Ele seria glorificado naqueles
habitantes, quer pela salvação de cidadãos convertidos após ouvirem a Palavra
divina quer pela condenação daqueles que rejeitassem a pregação anunciada pelo
profeta.
O livro reafirma, então, que o SENHOR não é apenas o Deus de
Israel, mas o Senhor de toda a criação e de todos os habitantes da terra. As
cidades estão diante de Seus olhos, não importa quão distantes elas estejam de
uma vida de adoração ao Senhor. Toda justiça praticada pelos homens e qualquer
injustiça presente na sociedade são alvos do olhar divino que conhece todas as
coisas, pois nada se esconde de seus olhos (2Cr.16.9). Jonas experimentou essa
verdade muito bem quando tentava fugir do chamado divino (Jn.1-2). E por mais
que quisesse ignorar que o Senhor o acompanhava, não conseguiu fugir da
realidade. A onipresença de Deus já havia sido revelada para as nações quando o
Senhor enviou dois anjos à cidade de Sodoma e Gomorra e, logo em seguida,
derramou sobre ela seu santo juízo (Gn.18-19). Portanto, todos os seres humanos
deveriam temer o Criador, o Deus de Israel; assim como, também, deveriam buscar
nEle as ternas misericórdias.
Jonas não tem outra opção senão obedecer a Deus dirigindo-se
para Nínive, a fim de pregar a Palavra do Senhor. Nínive é qualificada como “cidade
mui importante diante de Deus” (Jn.3.3). Mas, qual seria a razão dessa
importância? O profeta menciona o tamanho da cidade que exigia três dias para
percorrê-la (Jn.3.3), além de possuir mais de 120 mil pessoas (Jn.4.11). Deus
dirige sua Palavra para a cidade de Nínive também nos livros dos profetas Naum
e Sofonias. Além disso, devemos frisar que o livro de Naum é direcionado
especificamente para a cidade de Nínive: “Sentença contra Nínive. Livro da
visão de Naum, o elcosita” (Na.1.1). Portanto, essa cidade realmente era
importante para Deus, tanto na salvação da geração de Jonas quanto na
instrumentalidade para castigo de Israel (Tribos do Norte), pois, nos dias do
rei Oséias, Salmaneser subiu contra Samaria e a tomou espalhando os israelitas
pelo Império Assírio (2Rs.17). Encontramos, ainda, Jesus fazendo referência ao
testemunho dos ninivitas como instrumento para a condenação dos judeus do
primeiro século: “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a
condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está
quem é maior do que Jonas” (Mt.12.41).
Com muita indisposição, Jonas percorreu a cidade pregando a
Palavra de Deus fielmente, conforme havia sido ordenado pelo Senhor (Jn.3.2).
Vemos, no livro de Jonas, que a pregação fiel é muito mais importante do que a
disposição do coração, pois é através da fiel pregação da Palavra do Senhor que
Deus é glorificado e vidas são salvas. O coração do homem é corrupto e suas
emoções instáveis. Portanto, a vontade humana não pode guiar a decisão de fazer
ou não fazer o que é certo, obedecer ou não obedecer a Deus. Ou seja, mesmo
quando o coração do homem (ou da mulher) está completamente indisposto a fazer
aquilo que Deus ordena (amar, servir, ser submissa etc.), deve fazê-lo em
obediência à Palavra do Senhor. Paulo nos aponta essa direção em Filipenses “Uma
vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer
por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei”
(Fp.1.18). Então, mesmo que o profeta não tivesse um coração nobre, que
desejasse a salvação dos ouvintes, mostrou-se obediente ao pregar a Palavra de
Deus com fidelidade.
No entanto, a infidelidade contra a Palavra de Deus (por
mais bonita que possa parecer a pregação e por mais apaixonante que possa
parecer o desejo de ver pessoas se sentirem bem) é algo abominável ao Senhor.
Os falsos profetas eram pessoas amáveis à vista e gostavam de profetizar
bênçãos sobre as pessoas quando Deus reservava para elas grandes castigos. Eles
eram muito semelhantes aos falsos profetas de nossos dias que só pregam coisas
agradáveis à vista e fazem as pessoas sorrirem mesmo quando vivem longe da
graça divina. Foi assim que agiram os profetas anunciadores da vitória do rei
Acabe que, na verdade, Deus queria matar por ter sido um péssimo rei (1Rs.22).
É contra os falsos profetas, anunciadores de coisas boas não proferidas pelo
Senhor, que Jeremias e Ezequiel profetizam, dizendo: “tanto o profeta como o
sacerdote usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo,
dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr.6.13-14; 8.10-11). “Minha mão
será contra os profetas que têm visões falsas e que adivinham mentiras; não
estarão no conselho do meu povo, não serão inscritos nos registros da casa de
Israel, nem entrarão na terra de Israel. Sabereis que eu sou o SENHOR Deus.
Visto que andam enganando, sim, enganando o meu povo, dizendo: Paz, quando não
há paz [...] os profetas de Israel que profetizaram a respeito de Jerusalém e
para ela têm visões de paz, quando não há paz, diz o SENHOR Deus”
(Ez.13.9-10,16).
É fundamental observarmos o conteúdo da pregação que salvou
a vida de uma nação inteira: “Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de
um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida”
(Jn.3.4). Com o coração ainda duro, Jonas não facilitou em nada o
arrependimento dos ninivitas; nem poderia. Contudo, a pura e fiel pregação da
Palavra de Deus seria suficiente para que toda uma cidade tivesse o coração
rasgado pelo Espírito do Senhor, a tal ponto de se humilharem diante do Deus de
Israel suplicando misericórdia e perdão; mesmo que não tenham recebido um
chamado direto e claro ao arrependimento e mudança de atitude. O anuncio do
juízo vindouro da parte de Deus (após quarenta dias) trouxe esperança ao
coração dos ouvintes. Isso significa que o caráter misericordioso do Senhor
tornara-se conhecido das nações ao longo dos anos em que a Palavra e os feitos
do Senhor se manifestaram no meio e através da nação de Israel: “Pois a tua
misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens. Sê
exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória”
(Sl.57.10-11).
Não foi preciso que Jonas dissesse: “- Deus ama vocês”; nem
foi o que Deus ordenou que o profeta pregasse. Antes, ele proferiu duras
palavras ao povo: “- Deus castigará vocês por causa de todos os seus pecados”
(Jn.3.4). Foram essas duras palavras que tocaram o coração daquela cidade
ímpia. Os ninivitas se achegaram ao Deus de Israel, não por terem recebido
palavras bonitas e cativantes, mas por terem sido verdadeiramente tocados pelo
Espírito de Deus, a fim de reconhecerem os pecados de uma vida completamente
contrária à santidade do Criador. Então, sem que o profeta dissesse mais nada,
o rei da cidade ordenou a todos os súditos: “convertam-se, cada um do seu
mau caminho, e da violência que há nas suas mãos” (Jn.3.8). Os ninivitas
experimentaram o poder da Palavra divina que opera eficazmente por meio do agir
do Espírito do Senhor (Ez.36-37), pois a Palavra de Deus “é o poder de Deus
para a salvação de todo aquele que crê” (Rm.1.16).
O anuncio divino sobre a queda da cidade não era o bater do
martelo do Grande e Soberano Juiz de toda a terra. O fato de o Senhor enviar
seu profeta para anunciar a destruição da cidade, quarenta dias antes do
proclamado juízo, era um sinal de que o Senhor estava pronto para perdoar
aqueles pecadores caso viessem a se converter de seus maus caminhos. Não foi
assim com Sodoma e Gomorra que recebeu a visita dos anjos e o juízo definitivo
em um só momento (Gn.18-19). Portanto, a pregação fiel da Palavra de Deus, por
mais dura que venha a ser, sempre será um gracioso chamado ao arrependimento,
ao dar tempo para que o pecador se converta. O intervalo entre a pregação da
Escritura e o dia do juízo é o tempo dado por Deus para que o homem se
arrependa de seus pecados, a fim de que não seja condenado. E, por isso, ao
perdoar os ninivitas, Deus não estava mudando sua Palavra, mas mostrando a
misericórdia que estava implícita na pregação.
Os ninivitas experimentaram as ternas misericórdias do
Senhor que, em alguma medida, poderiam ter sido conhecidas antes através da
história e da lei de Israel, pois a jornada de Israel não era desconhecida dos
povos vizinhos (Ex.15.14; Dt.2.25; 4.6 etc.): “faço misericórdia até mil
gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Ex.20.6). Na
manifestação das misericórdias de Deus, tornou-se conhecido, também, o caráter
imutável do Senhor, pois Deus não deixou de cumprir sua antiga Palavra,
tratando com misericórdia aqueles que o buscaram humildemente, com coração
arrependido: “Tu salvas o povo humilde, mas, com um lance de vista, abates
os altivos” (2Sm.22.28). A imutabilidade do Senhor, então, serve de grande
consolo e ânimo para os pecadores que se voltam para Deus em busca de ajuda,
socorro, graça e misericórdia, pois lhes garante que jamais serão frustrados: “Eis
que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua
misericórdia, para livrar-lhes a alma da morte, e, no tempo da fome,
conservar-lhes a vida. Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo.
Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome. Seja sobre
nós, SENHOR, a tua misericórdia, como de ti esperamos.” (Sl.33.18-22).
Portanto, devemos entender corretamente Jonas 3.10: “Viu
Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se
arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez”. O termo traduzido
por “se arrependeu” (NRM) expressa uma mudança (na Septuaginta =
metanoew) conforme ocorre quando uma pessoa está triste por causa do luto, mas
o ânimo é alterado por causa do consolo (Gn.5.29; 24.67; 37.35; 38.12; 50.21
etc.). Ou seja, Jonas nos diz que Deus estava irado com a cidade de Nínive por
causa de seus muitos pecados, por isso enviou o profeta para pregar. Mas, após
os ninivitas ouvirem a Palavra de Deus e se converteram de seus maus caminhos,
a ira do Senhor passou; Deus deixou de estar irado contra aquele povo (cf.
Gn.6.6-7). Por conseguinte, o texto não depõe contra o caráter imutável de
Deus, anunciado em toda a Escritura. Antes, revela-nos que a ira do Senhor pode
ser aplacada, dando-nos firme esperança na suficiência e eficácia da obra
redentora do Messias prometido: Cristo Jesus. Por essa razão, podemos afirmar
que a ira do Senhor e a misericórdia de Deus permanecem imutáveis e, por isso,
estarão presentes no último dia, quando Cristo voltar trazendo: juízo divino
sobre todos aqueles que tiverem rejeitado a Palavra divina, mas graciosa
salvação para todos quantos tiverem se arrependido de seus pecados por meio da
confiança na justiça do justo e justificador Jesus. Então, corra para Cristo
enquanto há tempo!
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