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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Jonas (3.1-10) - A imutável misericórdia divina


Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn.3.4)

A Palavra do Senhor não muda, porque o Criador não muda! E o conhecimento do caráter imutável de Deus é de extrema importância para a vida do cristão, pois o mundo a nosso redor muda o tempo todo. As pessoas são instáveis e inconstantes, mudando de acordo com as circunstâncias à volta. Diante desse contexto volúvel, o cristão precisa de promessas seguras que tragam serenidade ao coração (Fp.4.7; 2Tm.2.13). É preciso olhar para a imutabilidade de Deus no qual encontramos promessas fiéis e verdadeiras (que não mudam), de modo que o cristão possa descansar a mente e o coração no Senhor, mesmo nos dias mais difíceis, quando se depara com os próprios pecados do coração: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm.23.19).

Após o grande peixe vomitar Jonas em terra (Jn.2.10), a Palavra do Senhor veio novamente ao profeta: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e proclama contra ela a mensagem que eu te digo” (Jn.3.2). Deus não mudou seu plano por causa da dureza de coração de Jonas. Apesar do profeta ter desobedecido, o Senhor continuou seu plano original: fazer Sua Santa Palavra conhecida dos ninivitas. A repetição da ordem para que Jonas pregasse a Nínive deve nos chamar a atenção para: 1) As misericórdias do Senhor dispensadas sobre a vida de Jonas, de modo que o profeta estava recebendo a segunda oportunidade de mostrar obediência a Deus; 2) O interesse do Senhor na cidade de Nínive e que, portanto, de algum modo Ele seria glorificado naqueles habitantes, quer pela salvação de cidadãos convertidos após ouvirem a Palavra divina quer pela condenação daqueles que rejeitassem a pregação anunciada pelo profeta.

O livro reafirma, então, que o SENHOR não é apenas o Deus de Israel, mas o Senhor de toda a criação e de todos os habitantes da terra. As cidades estão diante de Seus olhos, não importa quão distantes elas estejam de uma vida de adoração ao Senhor. Toda justiça praticada pelos homens e qualquer injustiça presente na sociedade são alvos do olhar divino que conhece todas as coisas, pois nada se esconde de seus olhos (2Cr.16.9). Jonas experimentou essa verdade muito bem quando tentava fugir do chamado divino (Jn.1-2). E por mais que quisesse ignorar que o Senhor o acompanhava, não conseguiu fugir da realidade. A onipresença de Deus já havia sido revelada para as nações quando o Senhor enviou dois anjos à cidade de Sodoma e Gomorra e, logo em seguida, derramou sobre ela seu santo juízo (Gn.18-19). Portanto, todos os seres humanos deveriam temer o Criador, o Deus de Israel; assim como, também, deveriam buscar nEle as ternas misericórdias.

Jonas não tem outra opção senão obedecer a Deus dirigindo-se para Nínive, a fim de pregar a Palavra do Senhor. Nínive é qualificada como “cidade mui importante diante de Deus” (Jn.3.3). Mas, qual seria a razão dessa importância? O profeta menciona o tamanho da cidade que exigia três dias para percorrê-la (Jn.3.3), além de possuir mais de 120 mil pessoas (Jn.4.11). Deus dirige sua Palavra para a cidade de Nínive também nos livros dos profetas Naum e Sofonias. Além disso, devemos frisar que o livro de Naum é direcionado especificamente para a cidade de Nínive: “Sentença contra Nínive. Livro da visão de Naum, o elcosita” (Na.1.1). Portanto, essa cidade realmente era importante para Deus, tanto na salvação da geração de Jonas quanto na instrumentalidade para castigo de Israel (Tribos do Norte), pois, nos dias do rei Oséias, Salmaneser subiu contra Samaria e a tomou espalhando os israelitas pelo Império Assírio (2Rs.17). Encontramos, ainda, Jesus fazendo referência ao testemunho dos ninivitas como instrumento para a condenação dos judeus do primeiro século: “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Mt.12.41).

Com muita indisposição, Jonas percorreu a cidade pregando a Palavra de Deus fielmente, conforme havia sido ordenado pelo Senhor (Jn.3.2). Vemos, no livro de Jonas, que a pregação fiel é muito mais importante do que a disposição do coração, pois é através da fiel pregação da Palavra do Senhor que Deus é glorificado e vidas são salvas. O coração do homem é corrupto e suas emoções instáveis. Portanto, a vontade humana não pode guiar a decisão de fazer ou não fazer o que é certo, obedecer ou não obedecer a Deus. Ou seja, mesmo quando o coração do homem (ou da mulher) está completamente indisposto a fazer aquilo que Deus ordena (amar, servir, ser submissa etc.), deve fazê-lo em obediência à Palavra do Senhor. Paulo nos aponta essa direção em Filipenses “Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei” (Fp.1.18). Então, mesmo que o profeta não tivesse um coração nobre, que desejasse a salvação dos ouvintes, mostrou-se obediente ao pregar a Palavra de Deus com fidelidade.

No entanto, a infidelidade contra a Palavra de Deus (por mais bonita que possa parecer a pregação e por mais apaixonante que possa parecer o desejo de ver pessoas se sentirem bem) é algo abominável ao Senhor. Os falsos profetas eram pessoas amáveis à vista e gostavam de profetizar bênçãos sobre as pessoas quando Deus reservava para elas grandes castigos. Eles eram muito semelhantes aos falsos profetas de nossos dias que só pregam coisas agradáveis à vista e fazem as pessoas sorrirem mesmo quando vivem longe da graça divina. Foi assim que agiram os profetas anunciadores da vitória do rei Acabe que, na verdade, Deus queria matar por ter sido um péssimo rei (1Rs.22). É contra os falsos profetas, anunciadores de coisas boas não proferidas pelo Senhor, que Jeremias e Ezequiel profetizam, dizendo: “tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr.6.13-14; 8.10-11). “Minha mão será contra os profetas que têm visões falsas e que adivinham mentiras; não estarão no conselho do meu povo, não serão inscritos nos registros da casa de Israel, nem entrarão na terra de Israel. Sabereis que eu sou o SENHOR Deus. Visto que andam enganando, sim, enganando o meu povo, dizendo: Paz, quando não há paz [...] os profetas de Israel que profetizaram a respeito de Jerusalém e para ela têm visões de paz, quando não há paz, diz o SENHOR Deus” (Ez.13.9-10,16).

É fundamental observarmos o conteúdo da pregação que salvou a vida de uma nação inteira: “Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn.3.4). Com o coração ainda duro, Jonas não facilitou em nada o arrependimento dos ninivitas; nem poderia. Contudo, a pura e fiel pregação da Palavra de Deus seria suficiente para que toda uma cidade tivesse o coração rasgado pelo Espírito do Senhor, a tal ponto de se humilharem diante do Deus de Israel suplicando misericórdia e perdão; mesmo que não tenham recebido um chamado direto e claro ao arrependimento e mudança de atitude. O anuncio do juízo vindouro da parte de Deus (após quarenta dias) trouxe esperança ao coração dos ouvintes. Isso significa que o caráter misericordioso do Senhor tornara-se conhecido das nações ao longo dos anos em que a Palavra e os feitos do Senhor se manifestaram no meio e através da nação de Israel: “Pois a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens. Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória” (Sl.57.10-11).

Não foi preciso que Jonas dissesse: “- Deus ama vocês”; nem foi o que Deus ordenou que o profeta pregasse. Antes, ele proferiu duras palavras ao povo: “- Deus castigará vocês por causa de todos os seus pecados” (Jn.3.4). Foram essas duras palavras que tocaram o coração daquela cidade ímpia. Os ninivitas se achegaram ao Deus de Israel, não por terem recebido palavras bonitas e cativantes, mas por terem sido verdadeiramente tocados pelo Espírito de Deus, a fim de reconhecerem os pecados de uma vida completamente contrária à santidade do Criador. Então, sem que o profeta dissesse mais nada, o rei da cidade ordenou a todos os súditos: “convertam-se, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos” (Jn.3.8). Os ninivitas experimentaram o poder da Palavra divina que opera eficazmente por meio do agir do Espírito do Senhor (Ez.36-37), pois a Palavra de Deus “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm.1.16).

O anuncio divino sobre a queda da cidade não era o bater do martelo do Grande e Soberano Juiz de toda a terra. O fato de o Senhor enviar seu profeta para anunciar a destruição da cidade, quarenta dias antes do proclamado juízo, era um sinal de que o Senhor estava pronto para perdoar aqueles pecadores caso viessem a se converter de seus maus caminhos. Não foi assim com Sodoma e Gomorra que recebeu a visita dos anjos e o juízo definitivo em um só momento (Gn.18-19). Portanto, a pregação fiel da Palavra de Deus, por mais dura que venha a ser, sempre será um gracioso chamado ao arrependimento, ao dar tempo para que o pecador se converta. O intervalo entre a pregação da Escritura e o dia do juízo é o tempo dado por Deus para que o homem se arrependa de seus pecados, a fim de que não seja condenado. E, por isso, ao perdoar os ninivitas, Deus não estava mudando sua Palavra, mas mostrando a misericórdia que estava implícita na pregação.

Os ninivitas experimentaram as ternas misericórdias do Senhor que, em alguma medida, poderiam ter sido conhecidas antes através da história e da lei de Israel, pois a jornada de Israel não era desconhecida dos povos vizinhos (Ex.15.14; Dt.2.25; 4.6 etc.): “faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Ex.20.6). Na manifestação das misericórdias de Deus, tornou-se conhecido, também, o caráter imutável do Senhor, pois Deus não deixou de cumprir sua antiga Palavra, tratando com misericórdia aqueles que o buscaram humildemente, com coração arrependido: “Tu salvas o povo humilde, mas, com um lance de vista, abates os altivos” (2Sm.22.28). A imutabilidade do Senhor, então, serve de grande consolo e ânimo para os pecadores que se voltam para Deus em busca de ajuda, socorro, graça e misericórdia, pois lhes garante que jamais serão frustrados: “Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia, para livrar-lhes a alma da morte, e, no tempo da fome, conservar-lhes a vida. Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo. Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome. Seja sobre nós, SENHOR, a tua misericórdia, como de ti esperamos.” (Sl.33.18-22).

Portanto, devemos entender corretamente Jonas 3.10: “Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez”. O termo traduzido por “se arrependeu” (NRM) expressa uma mudança (na Septuaginta = metanoew) conforme ocorre quando uma pessoa está triste por causa do luto, mas o ânimo é alterado por causa do consolo (Gn.5.29; 24.67; 37.35; 38.12; 50.21 etc.). Ou seja, Jonas nos diz que Deus estava irado com a cidade de Nínive por causa de seus muitos pecados, por isso enviou o profeta para pregar. Mas, após os ninivitas ouvirem a Palavra de Deus e se converteram de seus maus caminhos, a ira do Senhor passou; Deus deixou de estar irado contra aquele povo (cf. Gn.6.6-7). Por conseguinte, o texto não depõe contra o caráter imutável de Deus, anunciado em toda a Escritura. Antes, revela-nos que a ira do Senhor pode ser aplacada, dando-nos firme esperança na suficiência e eficácia da obra redentora do Messias prometido: Cristo Jesus. Por essa razão, podemos afirmar que a ira do Senhor e a misericórdia de Deus permanecem imutáveis e, por isso, estarão presentes no último dia, quando Cristo voltar trazendo: juízo divino sobre todos aqueles que tiverem rejeitado a Palavra divina, mas graciosa salvação para todos quantos tiverem se arrependido de seus pecados por meio da confiança na justiça do justo e justificador Jesus. Então, corra para Cristo enquanto há tempo!

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