“Não andeis ansiosos de coisa
alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições,
pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp.4.6)
Conforme
reportagem de 5 de junho de 2019, da revista Exame, o Brasil tem o maior número
de pessoas ansiosas do mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS). Considerando que os dados se baseiam apenas em informações oficiais,
podemos afirmar que a “epidemia de ansiedade” é ainda maior, pois boa parte das
pessoas sofre desse mal de modo privado.
Talvez
você já tenha sentido os sintomas da ansiedade: preocupação exagerada e
contínua, junto a certo medo diante de questões comuns à vida. A ansiedade não
precisa ter uma razão justa para se revelar. Pessoas ficam ansiosas frente a
problemas pequenos e solucionáveis da vida ou quando enfrentam grandes desafios
que vão além da própria capacidade para vencê-los. É possível uma pessoa ficar
ansiosa pela chegada de alguém ou até pela compra de algum objeto. É comum a ansiedade
em vésperas de uma prova e, principalmente, quando a data do pagamento de uma
conta está chegando, mas não se sabe ainda como será paga.
Torna-se
maior o problema da ansiedade por estar tão frequente no meio da igreja de
Cristo. Digo isto, não por pensar que o cristão está isento de doenças ou problemas.
Levanto a questão porque a ansiedade é um mal do coração e pode ser considerada
o oposto da plena confiança de quem descansa plenamente no Criador e
sustentador de todas as coisas (Mt.6.25-34). Ou seja, a ansiedade tem sido
encontrada em semelhante medida entre aqueles que afirmam crer no Senhor e
Salvador de suas vidas tanto quanto está presente entre os incrédulos, aqueles que
estão “separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef.2.11).
Por
essa razão, tanto Jesus exclamou: “não andeis ansiosos pela vossa vida”
(Mt.6.25) quanto Paulo exortou: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em
tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração
e pela súplica, com ações de graças” (Fp.4.6). A Escritura não considera a
ansiedade uma doença psicossomática nem um distúrbio químico da mente. Para a
Palavra de Deus, a ansiedade é um estado de espírito de quem não está contemplando
a presença real de Deus a seu lado. Por isso, a confiança no Senhor é apontada
como a vitória eficaz sobre a ansiedade.
Um
paralelo bíblico interessante encontra-se em 2 Reis 6.8-23. Conforme a narrativa,
“o rei da Síria fez guerra a Israel” (2Rs.6.8). Mas, todas as
empreitadas do rei da Síria eram frustradas, pois Eliseu revelava ao rei de Israel
quais eram os planos de ataque daquele rei pagão. Aborrecido com isso, o rei da
Síria manda soldados para prender Eliseu. Os soldados se dirigem a Dotã, cidade
onde o profeta estava, e a cercam. Então, o texto nos diz que o moço que servia
Eliseu, sem saber de nada, acordou cedo e saiu dando de cara com o exercito do
rei da Síria. Imagine a aflição daquele rapaz. Assim diz o texto:
Tendo-se levantado muito
cedo o moço do homem de Deus e saído, eis que tropas, cavalos e carros haviam
cercado a cidade; então, o seu moço lhe disse: Ai! Meu senhor! Que faremos? Ele
respondeu: Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão
com eles. Orou Eliseu e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos para que
veja. O SENHOR abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de
cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu (2Rs.6.15-17)
A
ansiedade se assemelha em muito ao que aconteceu na narrativa acima. A
preocupação do moço que servia o profeta Eliseu decorria de seu olhar
deficiente. O moço via o exército adversário, mas não conseguia ver a presença
do exército de Deus que estava ali para impedir que os inimigos fizessem
qualquer mal a eles. No momento em que o moço conseguiu contemplar toda a
realidade, então seu coração foi acalmado. Não havia o que temer, pois Deus
havia enviado seus anjos para proteger seus servos.
A
ansiedade decorre de um olhar deficiente que não está contemplando toda a
realidade. Quando aquilo que aflige o coração é solucionado, então o coração
volta a seu sossego. A incredulidade da ansiedade funciona da seguinte forma:
Se surge a fome e não há comida em casa nem dinheiro na carteira, então começa
o desespero cogitando a possibilidade de morrer de fome (preocupação demasiada
e medo desmedido). Mas, se surgir a fome enquanto a despensa está cheia ou a
carteira com dinheiro suficiente, o coração segue seu caminho com tranquilidade.
Promessas não são suficientes para aquietar um coração ansioso, porque este coração
se guia por aquilo que vê, apenas por aquilo que é palpável.
A
versão grega do Antigo Testamento faz uso do verbo "andar ansioso" (merimnáo), utilizado por Paulo em Filipenses 4.6, para se
referir às pessoas preocupadas com alguma coisa.
Êxodo 5.9 fala dos hebreus ansiosos tanto com o fardo de Faraó quanto com
desejo de ir embora. 2 Samuel 7.10 (1Cr.17.9) diz respeito à ansiedade
decorrente das guerras. No Salmo 38.18, Davi fala de uma ansiedade decorrente
de seus pecados. Em Provérbios 14.23, a versão grega diz que todo trabalho tem
ansiedade (preocupações).
No
Novo Testamento, Paulo usa o termo para se referir às preocupações com a vida
(1Co.7.32-34; Fp.2.20) e até sobre o cuidado de um irmão sobre o outro
(1Co.12.25). A ênfase do apóstolo, à igreja, sobre a ansiedade é: Não tenham
preocupações com a vida. Olhem para Cristo, a fim de viverem para Cristo
(Cl.3.1-4), e confiem nas promessas de Deus, pois o Senhor sempre cuida
daqueles que o amam (Fp.4.6-7).
Os
Salmos 42 e 43 nos mostram o coração de alguém com sintomas de ansiedade:
preocupação e medo. Longe de estar com depressão (como alguns pensam), o autor
desses salmos nos revela sua fraqueza diante da tribulação enfrentada, porque
seu coração está demasiadamente ansioso pelo retorno à Terra Santa e pelo culto
oferecido a Deus no Templo, pois os inimigos atacaram Jerusalém e o fizeram tal
como “forasteiro e peregrino” (Sl.42.12). Consciente de que não lhe cabe
a ansiedade, o autor se dirige à própria alma, dizendo: “Por que estás
abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois
ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl.42.5,11).
Para
vencer a ansiedade de sua alma, o autor canta louvores a Deus e o busca em
oração, lembrando assim que Deus é Senhor dos céus e da terra, não importando
onde estejam seus filhos (Sl.42.8; Sl.43.3). O salmista se lembra que o Senhor
é a esperança do aflito e está pronto para socorrer todo aquele que o invoca
sinceramente de todo seu coração (Sl.42.11), pois o Senhor é poderoso contra os
adversários, uma fortaleza contra “a opressão dos inimigos” (Sl.43.2).
Portanto, não haveria razão para a ansiedade de sua alma, mesmo que tudo a seu
redor estivesse em ruinas.
Diante
de tais lembranças, o Salmo 43 nos revela como a alma de seu autor se aquieta,
tendo encontrado em Deus a paz necessária para descansar o coração e esperar
pacientemente pelo auxílio divino: “Então, irei ao altar de Deus, de Deus,
que é a minha grande alegria; ao som da harpa eu te louvarei, ó Deus, Deus meu”
(Sl.43.4). A ansiedade é substituída por uma plena confiança na graça e no
poder do Senhor, trazendo paz ao coração daquele que antes estava aflito. Tudo
isso, porque a alma do autor desses Salmos atendeu à Palavra de Deus, a fim de
experimentar a eficácia do consolo divino.
Como
os filhos de Corá, muitos, em nossos dias, são tomados pela ansiedade quando
alcançados por grandes problemas. Facilmente o coração se esquece das
maravilhas operadas e reveladas por Deus nos dias passados. A alma olha para as
circunstâncias, ignorando a presença real do Senhor no meio de seu povo, pois
Ele prometeu jamais desamparar sua igreja (Mt.28.20). Na fraqueza do coração, o
homem se deixa levar pela ansiedade até por pequenas coisas, tais como a
expectativa da chegada de algo ou alguém, pela compra de alguma coisa, pelo
começo de alguma nova etapa da vida etc. Assim, muitos cristãos vivem sem paz
em seu coração, lutando diariamente contra a ansiedade que deveria ter sido
vencida pela plena confiança em Cristo que manifesta sua real presença
diariamente no meio de sua amada igreja.
Mas,
não é assim que o cristão deve viver. Dentre as muitas bênçãos advindas por
meio de Cristo para seu povo (Ef.1.3), encontra-se “a paz de Deus que excede
todo entendimento” (Fp.4.7) capaz de guardar a mente e o coração da
ansiedade. E para desfrutar dela, é preciso lançar a vida por completo nas mãos
do Senhor, confiando em suas santas e fiéis promessas. É necessário que o
coração tenha plena convicção da presença real de Deus a seu lado, como disse
Davi: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal
nenhum, PORQUE TU ESTÁS COMIGO; o teu bordão e o teu cajado me consolam” (Sl.23.4).
Cristo não pode ser apenas uma ideia em seu coração. Ele precisa ser real, tão
real quanto qualquer pessoa com a qual você se relaciona em seu dia a dia.
Quando
a realidade da presença de Deus for experimentada pela sua mente e seu coração,
então ambos irão descansar, ainda que fortes tempestades esbravejem (Mt.8.23-27).
Por isso, o autor de Hebreus nos diz que “a fé é a certeza de coisas que se
esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb.11.1) e, então, exorta
os destinatários a olharem “firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus”
(Hb.12.2). Portanto, pare de se preocupar e contemple a realidade de que Cristo
está continuamente no meio de sua igreja, cuidando com graça e amor de cada um
daqueles pelos quais Ele morreu e ressuscitou. Olhe para Cristo e, então, diga
para sua alma: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas
dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus
meu” (Sl.43.5).
Nenhum comentário:
Postar um comentário