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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A necessidade do contentamento em Cristo


na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl.16.11)

– Como você está?

Provavelmente, você responderá que está tudo bem. Essa resposta formal nem sempre condiz com a verdade daquilo que se passa no coração. Nem sempre aquele que diz que está tudo bem, realmente está contente com sua vida.

Então, vou fazer outra pergunta:

– Você está contente?

Apesar do verbo “estar” em lugar do verbo “ser” (por questão apenas estética), observe bem que não perguntei se você é próspero ou saudável nem se sua vida familiar é maravilhosa e seu trabalho é empolgante. Não perguntei se você tem um carro novo ou uma linda casa, se você está em desfrute de ótimas férias ou cheio de amigos ao redor.

Se você demorou um pouco para responder, analisando rapidamente como está a sua vida, a fim de oferecer uma resposta mais precisa, então, provavelmente, você não está contente como poderia e deveria estar. Você associou o contentamento ao bem-estar que se pode ter na vida, tornando, o contentamento, circunstancial e passageiro.

Esse assunto é de extrema importância para o ser humano e tem íntima relação com a saúde, com as relações sociais, com a forma de lidar com a vida e a morte. A falta de contentamento pode levar nações à guerra, casamentos ao divórcio, pessoas ao suicídio. Por causa da ausência de contentamento, homens buscam o poder, outros correm atrás de riquezas; há quem procure a fama e a glória enquanto a massa vive em função do prazer. E sem o contentamento, o cristão tem grande dificuldade em enfrentar os desafios da vida.

A princípio, o contentamento está relacionado à satisfação com aquilo que se tem materialmente: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm.6.8). O contentamento material pode ser cultivado por qualquer pessoa que tenha percebido que o necessário para a vida é o suficiente. Tal contentamento agrada a Deus de quem todas as coisas são procedentes e afasta o coração de murmurações. O contentamento material é importante aliado da saúde, pois ajuda o coração a se manter tranquilo e satisfeito, mesmo quando tudo o que se tem é apenas o necessário para viver. Mas, esta é apenas a ponta de um grande iceberg chamado contentamento.

O ser humano costuma dar grande valor aos bens materiais sem observar que o indispensável é a vida. Por essa razão, a vida muitas vezes é tratada como algo de menor valor do que os bens, razão para Jesus chamar a atenção de sua geração: “não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?” (Mt.6.25).

Observemos, então, que o pecado deformou o olhar do homem sobre tudo, quer material quer não material. Ocorre uma inversão de valores no coração do pecador, impedindo-o de ver claramente qual o real valor das coisas. VIVER, AMAR e SERVIR tornaram-se bens secundários diante da possibilidade de se TER e SENTIR. Desse modo, um momento de prazer ganha mais importância do que uma vida familiar duradoura. E longe de Deus, nada é suficiente, nada é bom, nada basta, nada satisfaz.

Mas, o contentamento não deve ser associado apenas aos bens materiais, uma vez que “a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc.12.15). O contentamento é uma profunda reflexão sobre a vida que inevitavelmente está associada à relação entre o homem e seu Criador. Estar contente é estar pleno e, por isso, somente Deus pode promover tal contentamento naqueles que Ele fez à sua imagem e semelhança (Gn.1.26-28).

Portanto, falando em termos amplos, o contentamento deve ser chamado de felicidade, ou seja, o estado de completude do ser humano que se encontra tão “pleno” que nada mais é necessário. Portanto, quanto mais perfeita for a relação entre a criatura e seu Criador mais contente estará o coração do ser humano.

Deus nos deu algumas analogias, comuns ao dia a dia, que nos ajudam a refletir sobre o contentamento. Paulo nos diz que “Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos” (1Co.6.13). Quando a quantidade e a qualidade dos alimentos chegam a seu ponto ideal para o estômago e para o corpo, nos sentimos satisfeitos, nada mais é necessário. Todavia, o desmedido coração pecador pode nos impulsionar para o desnecessário, conduzindo o homem para a glutonaria, uma expressão de insatisfação irracional.

Sem o contentamento, o ser humano vive insatisfeito. E mesmo necessitado, o coração pecador não corre em busca de seu Criador, a fim de que Sua gloriosa presença preencha cada pequeno espaço de seu ser com o propósito de torna-lo completo. O pecado volve o rosto do homem para o lado contrário ao que está seu Criador, fazendo-o correr para outra direção. Em sua rebeldia cega, o coração procura muitas maneiras de preencher a si mesmo sem a presença do único que pode realizar tal façanha. Podemos dizer que o coração “empoderado” por si mesmo grita sua independência querendo um viver autônomo e contrário ao Criador.

Distante de Deus, o coração vive um eterno vazio, experimentando tudo sem que nada possa preencher seu ser, como se estivesse dentro de um buraco negro dilacerando-o. Seu estado de incompletude, desprovido de causa e propósito em sua vida fugaz, proporciona-lhe profunda angustia. Então, confuso e angustiado, o homem atropela tudo e todos, reclama e esbraveja, mata e quase morre sem, contudo, alcançar aquilo que tanto necessita: o contentamento da alma. Caso haja um flash de entendimento, esse homem perceberá que nada que a vida possa lhe proporcionar é capaz de preencher seu vazio nem lhe dar contentamento, pois a própria vida é passageira e imperfeita.

Olhando para a vida, encontramos tantas imperfeições, falhas e incertezas quanto possíveis. Diante disso, nosso coração se apavora, surgindo muitos medos: da perda, da dor, da tristeza, do abandono, do vazio e da morte. São esses medos que levam à depressão e ao desespero, pois nos mostram que somos incapazes de dominar a vida e suportar o jugo que ela impõe sobre nós. Precisamos de alguém que nos aquiete, cuide de nossas mazelas, preencha o vazio angustiante e nos dê a certeza de que tudo está plenamente sobre controle, a fim de que a eternidade que tanto carecemos seja uma realidade futura tão certa em nosso coração quanto o ar que respiramos.

Portanto, é preciso mudar a direção do olhar! Deus nos fez para vivermos plenamente contentes nEle, não somente por algum tempo de vida, mas eternamente. Essa é a primeira boa notícia que você precisa saber: a infelicidade não é o propósito de Deus para suas criaturas (Gn.1.31). Por conseguinte, a ideia de que a você foi destinada a infelicidade não pode ser considerada uma verdade (Jo.3.16). Até mesmo aqueles que cometeram muitos pecados encontram na pregação do evangelho um chamado ao arrependimento, perdão-justificação e nova vida, na qual o contentamento será desfrutado em sua relação com o Criador.

Seu coração precisa do contentamento em Cristo, proporcionado pela relação com Deus. Seu coração precisa da “paz de Deus que excede todo o entendimento” (Fp.4.7), proporcionada pela presença do Senhor que nos dá todas as certezas de que precisamos: que somos amados, que tudo está sob controle divino, que todos os propósitos divinos serão alcançados e que seremos felizes para sempre. Tais certezas, bem firmadas no coração, dão serenidade ao homem para que este desbrave a vida.

Então, olhe para Cristo, no qual você encontrará a eternidade e sua realidade estável preparada pelo Criador. Deus é eterno, perfeito e, consequentemente, imutável e nos fez para a eternidade, razão para sentirmos necessidade dela. Deus nos fez para sermos felizes nEle, por isso você sente a necessidade da felicidade. Sentimos a necessidade daquilo que o pecado tirou de nós: o pleno contentamento proporcionado pela relação com o Criador. Então, corra em direção ao Criador por meio daquele que nos une a Ele: Cristo Jesus!

Deus tem verdadeiro contentamento para o nosso coração, “porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas” (Rm.11.36). Em Deus, você será plenamente amado com um amor que não muda com as circunstâncias (Rm.5.8); em Deus, você terá a certeza da felicidade eterna que sobrepõe as tristezas que a vida possa nos proporcionar (Rm.8.18; Ap.21.1-7); em Deus, você sempre estará acompanhado, pois até no vale da sombra da morte Cristo estará ao seu lado (Sl.23.4); em Deus, você estará completo, pois a vida só encontra sentido nEle. Então, satisfaça sua necessidade de contentamento entregando seu coração totalmente a Cristo e viva nEle todos os dias de sua vida.

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