“na tua
presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl.16.11)
– Como você está?
Provavelmente, você
responderá que está tudo bem. Essa resposta formal nem sempre condiz com a
verdade daquilo que se passa no coração. Nem sempre aquele que diz que está
tudo bem, realmente está contente com sua vida.
Então, vou fazer outra
pergunta:
– Você está contente?
Apesar do verbo “estar”
em lugar do verbo “ser” (por questão apenas estética), observe bem que não
perguntei se você é próspero ou saudável nem se sua vida familiar é maravilhosa
e seu trabalho é empolgante. Não perguntei se você tem um carro novo ou uma
linda casa, se você está em desfrute de ótimas férias ou cheio de amigos ao
redor.
Se você demorou um pouco
para responder, analisando rapidamente como está a sua vida, a fim de oferecer uma
resposta mais precisa, então, provavelmente, você não está contente como
poderia e deveria estar. Você associou o contentamento ao bem-estar que se pode
ter na vida, tornando, o contentamento, circunstancial e passageiro.
Esse assunto é de extrema
importância para o ser humano e tem íntima relação com a saúde, com as relações
sociais, com a forma de lidar com a vida e a morte. A falta de contentamento
pode levar nações à guerra, casamentos ao divórcio, pessoas ao suicídio. Por
causa da ausência de contentamento, homens buscam o poder, outros correm atrás de
riquezas; há quem procure a fama e a glória enquanto a massa vive em função do
prazer. E sem o contentamento, o cristão tem grande dificuldade em enfrentar os
desafios da vida.
A princípio, o
contentamento está relacionado à satisfação com aquilo que se tem materialmente:
“Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm.6.8). O
contentamento material pode ser cultivado por qualquer pessoa que tenha
percebido que o necessário para a vida é o suficiente. Tal contentamento agrada
a Deus de quem todas as coisas são procedentes e afasta o coração de
murmurações. O contentamento material é importante aliado da saúde, pois ajuda
o coração a se manter tranquilo e satisfeito, mesmo quando tudo o que se tem é
apenas o necessário para viver. Mas, esta é apenas a ponta de um grande iceberg
chamado contentamento.
O ser humano costuma dar
grande valor aos bens materiais sem observar que o indispensável é a vida. Por
essa razão, a vida muitas vezes é tratada como algo de menor valor do que os
bens, razão para Jesus chamar a atenção de sua geração: “não andeis ansiosos
pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo,
quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo,
mais do que as vestes?” (Mt.6.25).
Observemos, então, que o
pecado deformou o olhar do homem sobre tudo, quer material quer não material. Ocorre
uma inversão de valores no coração do pecador, impedindo-o de ver claramente
qual o real valor das coisas. VIVER, AMAR e SERVIR tornaram-se bens secundários
diante da possibilidade de se TER e SENTIR. Desse modo, um momento de prazer
ganha mais importância do que uma vida familiar duradoura. E longe de Deus,
nada é suficiente, nada é bom, nada basta, nada satisfaz.
Mas, o contentamento não
deve ser associado apenas aos bens materiais, uma vez que “a vida de um
homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc.12.15). O
contentamento é uma profunda reflexão sobre a vida que inevitavelmente está
associada à relação entre o homem e seu Criador. Estar contente é estar pleno e,
por isso, somente Deus pode promover tal contentamento naqueles que Ele fez à sua
imagem e semelhança (Gn.1.26-28).
Portanto, falando em
termos amplos, o contentamento deve ser chamado de felicidade, ou seja, o
estado de completude do ser humano que se encontra tão “pleno” que nada mais é
necessário. Portanto, quanto mais perfeita for a relação entre a criatura e seu
Criador mais contente estará o coração do ser humano.
Deus nos deu algumas analogias,
comuns ao dia a dia, que nos ajudam a refletir sobre o contentamento. Paulo nos
diz que “Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos”
(1Co.6.13). Quando a quantidade e a qualidade dos alimentos chegam a seu ponto
ideal para o estômago e para o corpo, nos sentimos satisfeitos, nada mais é
necessário. Todavia, o desmedido coração pecador pode nos impulsionar para o
desnecessário, conduzindo o homem para a glutonaria, uma expressão de
insatisfação irracional.
Sem o contentamento, o
ser humano vive insatisfeito. E mesmo necessitado, o coração pecador não corre
em busca de seu Criador, a fim de que Sua gloriosa presença preencha cada
pequeno espaço de seu ser com o propósito de torna-lo completo. O pecado volve
o rosto do homem para o lado contrário ao que está seu Criador, fazendo-o correr
para outra direção. Em sua rebeldia cega, o coração procura muitas maneiras de preencher
a si mesmo sem a presença do único que pode realizar tal façanha. Podemos dizer
que o coração “empoderado” por si mesmo grita sua independência querendo um
viver autônomo e contrário ao Criador.
Distante de Deus, o
coração vive um eterno vazio, experimentando tudo sem que nada possa preencher
seu ser, como se estivesse dentro de um buraco negro dilacerando-o. Seu estado
de incompletude, desprovido de causa e propósito em sua vida fugaz, proporciona-lhe
profunda angustia. Então, confuso e angustiado, o homem atropela tudo e todos,
reclama e esbraveja, mata e quase morre sem, contudo, alcançar aquilo que tanto
necessita: o contentamento da alma. Caso haja um flash de entendimento, esse
homem perceberá que nada que a vida possa lhe proporcionar é capaz de preencher
seu vazio nem lhe dar contentamento, pois a própria vida é passageira e
imperfeita.
Olhando para a vida,
encontramos tantas imperfeições, falhas e incertezas quanto possíveis. Diante
disso, nosso coração se apavora, surgindo muitos medos: da perda, da dor, da
tristeza, do abandono, do vazio e da morte. São esses medos que levam à
depressão e ao desespero, pois nos mostram que somos incapazes de dominar a vida e
suportar o jugo que ela impõe sobre nós. Precisamos de alguém que nos aquiete,
cuide de nossas mazelas, preencha o vazio angustiante e nos dê a certeza de que
tudo está plenamente sobre controle, a fim de que a eternidade que tanto
carecemos seja uma realidade futura tão certa em nosso coração quanto o ar que
respiramos.
Portanto, é preciso mudar
a direção do olhar! Deus nos fez para vivermos plenamente contentes nEle, não
somente por algum tempo de vida, mas eternamente. Essa é a primeira boa notícia
que você precisa saber: a infelicidade não é o propósito de Deus para suas
criaturas (Gn.1.31). Por conseguinte, a ideia de que a você foi destinada a infelicidade
não pode ser considerada uma verdade (Jo.3.16). Até mesmo aqueles que cometeram
muitos pecados encontram na pregação do evangelho um chamado ao arrependimento,
perdão-justificação e nova vida, na qual o contentamento será desfrutado em sua
relação com o Criador.
Seu coração precisa do
contentamento em Cristo, proporcionado pela relação com Deus. Seu coração precisa
da “paz de Deus que excede todo o entendimento” (Fp.4.7), proporcionada
pela presença do Senhor que nos dá todas as certezas de que precisamos: que
somos amados, que tudo está sob controle divino, que todos os propósitos
divinos serão alcançados e que seremos felizes para sempre. Tais certezas, bem
firmadas no coração, dão serenidade ao homem para que este desbrave a vida.
Então, olhe para Cristo, no
qual você encontrará a eternidade e sua realidade estável preparada pelo
Criador. Deus é eterno, perfeito e, consequentemente, imutável e nos fez para a
eternidade, razão para sentirmos necessidade dela. Deus nos fez para sermos
felizes nEle, por isso você sente a necessidade da felicidade. Sentimos a necessidade
daquilo que o pecado tirou de nós: o pleno contentamento proporcionado pela relação
com o Criador. Então, corra em direção ao Criador por meio daquele que nos une
a Ele: Cristo Jesus!
Deus tem verdadeiro contentamento
para o nosso coração, “porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as
coisas” (Rm.11.36). Em Deus, você será plenamente amado com um amor que não
muda com as circunstâncias (Rm.5.8); em Deus, você terá a certeza da felicidade
eterna que sobrepõe as tristezas que a vida possa nos proporcionar (Rm.8.18; Ap.21.1-7);
em Deus, você sempre estará acompanhado, pois até no vale da sombra da morte
Cristo estará ao seu lado (Sl.23.4); em Deus, você estará completo, pois a vida
só encontra sentido nEle. Então, satisfaça sua necessidade de contentamento
entregando seu coração totalmente a Cristo e viva nEle todos os dias de sua
vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário