“Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça;
os retos lhe contemplarão a face” (Sl.11.7)
Ler alguns dos salmos de Davi se assemelha a visitar alguém
internado em um hospital e, mesmo assim, sair de lá fortalecido pelas palavras
do enfermo. Mas, por que isso? Porque os salmos de Davi são a expressão de suas
experiências dolorosas, seus gemidos na angústia, seu clamar na tribulação.
Todavia, mesmo estando em aflição, o ex-pastor de ovelhas tem sido instrumento
para consolo daqueles que passam por problemas semelhantes, apontando-nos para
Cristo, o Filho de Deus, que sofreu todas as mais profundas angústias da alma,
por carregar nossas enfermidades do coração. Dessa forma, Deus usou seu servo
atribulado para consolar os que são afligidos, também. E por meio do sofrimento
de Davi, podemos ouvir os clamores daquele que nasceu para sofrer e morrer em
nosso lugar: Jesus.
Diante de todas as tribulações, Davi se refugiava no Senhor.
Tipificando Cristo, o filho de Jessé percorreu uma jornada de muitos desafios e
sofrimentos, às vezes sentiu-se atravessando um “vale da sombra da morte”
(Sl.23.4), pois os ímpios predominavam a seu redor, espreitando o justo para
tirar-lhe a vida. E quando os homens maus dominam, os justos e verdadeiros
fundamentos postos por Deus são relativizados e abandonados, por isso Davi
clamou: “destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo” (Sl.11.3).
Cercado por filhos de Belial (2Sm.23.6), Davi não encontrou, entre os homens,
justiça na qual pudesse ser defendido diante dos ataques daqueles que
intentavam destruí-lo malignamente.
Algo semelhante aconteceu nos dias de Cristo. O sinédrio,
liderança político-religiosa dos judeus nos dias de Jesus, era composto por
muitos homens injustos (Mt.26.59) e alguns poucos homens tementes a Deus
(Mc.15.43). Por essa razão, as decisões do sinédrio concorriam para a morte de
Cristo que poderia ter clamado à semelhança de Davi: “destruídos os
fundamentos, que poderá fazer o justo” (Sl.11.3). Quando o mal domina a política,
a cultura, a educação, a religião etc., então o justo torna-se um peregrino
sem-terra, sem lugar seguro para habitar. Por isso, nem mesmo o Filho de Deus,
Criador e Senhor de todas as coisas, sentiu-se seguro ao andar entre os homens
chamados de seu povo, descendentes de Israel (Mt.23). Quando a Palavra de Deus
não reina entre os homens, não há lugar seguro e bom para o justo habitar.
Nesse contexto sombrio, Davi corre para o único lugar
seguro, seu refúgio e fortaleza: a presença do Senhor. Não importa a riqueza
dos homens, a influência dos poderosos, a quantidade de adversários, pois Deus
sempre agirá com justiça e amará aqueles que o buscam de todo o coração. Na
justiça do Senhor os justos se gloriam, em seu poder encontram esperança e em
suas Palavras encontram abrigo seguro, pois Deus os chama para descansarem em
seus braços de amor, dizendo: “vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt.11.28). Mesmo entre homens injustos,
Davi sabe que a justiça será feita, pois Deus, o Senhor de toda a terra, “é
justo, Ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face.” (Sl.11.7).
Todavia, houve um justo que fora desamparado por Deus:
Cristo. O Senhor desamparou seu próprio Filho, a fim de que os pecadores o
humilhassem, o fizessem sofrer, o matassem. Jesus procurou abrigo, mas não o
encontrou no Pai, indo sozinho para a cruz para sofrer a ira divina em nosso
lugar. Mas, o desamparo sofrido por Jesus não foi sem propósito. Por sua
humilhação, sofrimento, morte e ressurreição temos a garantia de que os
cristãos sempre encontrarão amparo em Deus, pois Cristo sofreu em nosso lugar
para que não mais estejamos debaixo do pecado e juízo. Jesus foi desamparado
para que nós fôssemos amparados; Ele foi entregue aos pecadores para que nós
vencêssemos o mundo; Cristo morreu nas mãos dos injustos para que recebêssemos
sua perfeita justiça capaz de nos livrar da ira vindoura.
Em Jesus, portanto, temos real esperança, pois seu Reino é
justo e verdadeiro; em Cristo podemos descansar, pois sua justiça é perfeita e
eficaz e seu reinado é sobre tudo e todos. Dessa forma, mesmo peregrino nesse
mundo, o cristão sempre terá um lugar seguro para repousar: Jesus, “justiça
nossa” (Jr.23.6). Confiado nEle, então, devemos viver segundo sua “boa,
agradável e perfeita vontade” (Rm.12.2) revelada na Sagrada Escritura enquanto
oramos em todo tempo na certeza de que o Senhor “tem cuidado” de nós (1Pe.5.7)
e “trabalha para aquele que nEle espera” (Is.64.4). No devido tempo, Ele virá
para fazer justiça a sua igreja que sofreu nas mãos de um mundo que “jaz no
maligno” (1Jo.5.19) e recompensará todos os que perseveraram até o fim, amando
mais a Cristo do que a própria vida.
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