“Confia no SENHOR de todo o teu coração e não
te estribes no teu próprio entendimento.” (Pv.3.5)
Vivemos um período considerado posterior ao racionalismo,
mas não o fim deste, pois o homem ainda confia demasiadamente na própria razão,
considerando-se capaz de conhecer a Verdade por meio de pesquisas e deduções,
como Sherlock Holmes, ignorando, assim, que tanto a sabedoria quanto o
conhecimento provêm daquele que é a origem e fonte de todas as coisas: Cristo.
Infelizmente, o racionalismo está presente não apenas nas
academias regidas por ateus e anticristãos, mas, ainda, em seminários, igrejas
e ruas da sociedade. Ou seja, o modo de pensar do homem pós-moderno não é
apenas sincretista e supersticioso como, também, racionalista, pois sua fé mais
profunda está arraigada na própria razão, a qual superestima, demasiadamente.
Mas, qual o problema em confiar na própria razão? Deus nos
fez para pensar, então por que não podemos dar asas aos pensamentos? Já que
somos racionais, não deveríamos buscar todo conhecimento por meio da razão? Por
mais lógicas que pareçam ser tais perguntas, todas ignoram as implicações da
presença do pecado na criação e o fato de que não conhecemos todas as
proposições sobre o conhecimento.
O que quero dizer com esses dois fatores: presença do pecado
na criação e desconhecimento de todas as proposições? Primeiro, devemos
considerar que o pecado entrou no mundo atingindo, também, a mente humana,
razão para termos pessoas muito estudiosas e inteligentes (para muitas
questões) que acreditam, piamente, que o ser humano provém de uma série de
evoluções fortuitas da linhagem dos macacos. Essa crença por si só, demonstra o
quanto o pecado atingiu a mente do homem, pervertendo-a. Portanto, não podemos
confiar inteiramente nas deduções de mentes caídas, pois até o mais bem
estudado assunto pode ser fruto de uma mera utopia, quando não tem sua origem
na revelação de Deus.
Em segundo lugar, não devemos ignorar (inclusive os
teólogos) que não conhecemos todas as proposições sobre todos os assuntos. Ou
seja, sabemos apenas aquilo que nos foi revelado por Deus na medida em que Deus
quis revelar para nós. Nem mesmo Adão e Eva antes de pecarem tinham todo conhecimento,
pois não conheciam “o bem e o mal” (Gn.3.5), por exemplo. A implicação disso é que a
falta de proposições para a construção das mais variadas estruturas lógicas
pode nos levar aos mais absurdos erros, com aparência de verdade, pois até a
mais bem construída estrutura lógica pode estar completamente errada caso lhe
falte alguma proposição essencial que desconheçamos. Por essa razão, todo
assunto deve ser tratado com muita cautela, piedade e temor, a fim de não
cairmos no pecado dos amigos de Jó, que, não conhecendo a Verdade, construíram
falsas deduções e não disseram sobre Deus o que é reto (Jó.42.7).
Ou seja, Deus não quis revelar ao homem todas as coisas (2Co.12.4; Ap.10.4),
exigindo-lhe, assim, uma completa confiança em sua Palavra e uma plena
satisfação no conhecimento que lhe fora revelado. Diante disso, a curiosidade
humana será sempre uma tentação (1Ts.5.1-2), como foi para Eva que quis conhecer além
daquilo que lhe havia sido revelado (Gn.3.6). O teólogo, portanto, deve conhecer os limites
de seus estudos, mostrando pleno contentamento com aquilo que Deus lhe revelou,
sabendo que o conhecimento que nos foi legado é plenamente suficiente para uma
vida abundante com Cristo; tanto na esfera individual quanto social, até a volta de Jesus.
Por essa razão, gostaria de lembrar aos jovens teólogos de
nossos dias que o caminho da teologia deve ser trilhado em Cristo e para
Cristo. O propósito da teologia não é satisfazer a curiosidade de quem almeja
filosofar possibilidades, se achando o maior teólogo de todos os tempos. Deus
nos revelou sua Palavra para conhecermos Cristo e vivermos nEle plenamente,
desfrutando, assim, de uma vida completa nEle (1Co.2.2; Gl.2.20). Por isso,
todo estudo teológico deve ser realizado com piedade e oração, com humildade e
temor, visando à edificação da igreja e o pleno deleite do cristão, em Jesus. A curiosidade
vã, mesmo nos assuntos teológicos, revela desprezo à seriedade e sublimidade da
revelação divina e constitui-se em pecado contra aquele que chama a própria
Palavra de Santa, Perfeita, Fiel, Verdadeira, Justa etc (Sl.19.7-10).
Temos muitos jovens teólogos espalhados pelas redes sociais.
E tendo em vista o amplo alcance dessas redes, os jovens teólogos conseguem
muitos adeptos a suas ideias, rapidamente. Diante disso, mais um problema deve
ser antecipado: a alimentação do orgulho próprio. Tenham cuidado com vossos “ídolos”,
pois o coração do homem está sempre a procura de alguém para “adorar”. Por
isso, os jovens teólogos devem ter cuidado para que, mesmo dizendo verdades,
não sejam encontrados usurpando a glória de Deus.
Para não caírem na tentação de se tornarem ídolos para si
mesmos e para os outros, estudem a Escritura com humildade, conscientes de suas
limitações, rejeitando toda admiração excessiva de terceiros (e de si mesmo).
Temam ensinar coisas erradas para as pessoas (Mt.5.19; 1Co.3.11-17), para que
sejam mais cuidadosos em postarem suas convicções sem todo estudo adequado.
Tenho encontrado diversas postagens com erros exegéticos e teológico-bíblicos
que não são identificados por aqueles que curtem as publicações, pois lhes
falta conhecimento suficiente das ferramentas e da própria Escritura. Lembrem-se que a leitura de
alguns teólogos não os tornam “doutores” em todos os assuntos teológicos, mas
apenas conhecedores de algumas vertentes sobre alguns pouquíssimos assuntos que
foram tratados por esses estudiosos.
Por fim, não queiram ser mestres sem que tenham sido chamados e preparados para isso. Tiago adverte quanto ao perigo de almejar o caminho do ensino
sem uma adequada reflexão: “Irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres,
sabendo que havemos de receber maior juízo.” (Tg.3.1) Lembrem-se que a teologia não visa o envaidecimento pessoal, por meio de fama e status. Todo estudo teológico
deveria, realmente, glorificar Cristo, conduzindo as pessoas à Verdade, não
apenas a opiniões teológicas pessoais de um grupo de teólogos. Portanto, ore
não somente por você, para que compreenda corretamente a Escritura e estude com
piedade, mas, também, pela igreja para que todos entendam a Verdade (Cl.1.9) e
cheguem “à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef.4.13).
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