“Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (Sl.2.6)
Fomos criados para dominar a criação (Gn.1.28). Essa é uma característica divina em nós que tem como propósito sermos fieis administradores das obras de Deus. Mas, o pecado se apropriou indevidamente desse atributo e nos transformou em seres rebeldes, autônomos e controladores. Portanto, gostamos de achar que temos o controle sobre a vida ao nosso redor. Uma ilusão que facilmente pode ser desfeita. Doenças, crises econômicas, acidentes, catástrofes naturais etc. podem desfazer rapidamente nosso senso de controle de tudo. Até um microscópico ser vivo pode destruir todos os sonhos de uma pessoa. Então, nos encontramos diante da fragilidade humana.
Para o cristão, a fragilidade humana não é um problema. Quando a vida ao nosso redor parece estar fora de controle, nada é mais confortador do que lembrar que nosso Senhor e Salvador Jesus é, também, o Rei de toda a Terra. A fraqueza, então, se mostra uma condição necessária para a manifestação de nossa plena dependência do cuidado divino e do poder de Deus. Por isso, o apóstolo Paulo nos diz:
2 Coríntios 12:9-10 De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.
Contudo, o mundo não quer estar debaixo do governo absoluto de Deus, e, por isso, está democratizando e relativizando tudo. Desde que Adão e Eva desejaram ser iguais a Deus, o homem almeja o poder e a glória. Essa é a principal razão das guerras desde o os tempos mais remotos. E por ser Deus o Senhor absoluto sobre tudo o que existe, o mundo quer ser livre de seu Criador; quer governar a própria vida; quer criar as próprias leis; quer viver segundo a própria vontade, por isso resiste e luta contra tudo que representa o Reino de Cristo (Lc.19.14).
Desde as primeiras páginas dos evangelhos, é anunciado para nós o Reino de Deus. Todavia, João Batista não foi o primeiro a proclamar a chegada do Reino Messiânico (Mt.3.2). Aproximadamente, mil anos antes do advento do Messias, o Salmo 2 profetiza a encarnação do Filho de Deus e proclama a glória de seu Reinado absoluto sobre todas as nações. Cristo é declarado Rei não somente da igreja nem apenas de nossa vida privada, mas de tudo e todos em todo tempo. Então, o Salmo 2 revela-nos que Deus exige submissão e fidelidade completa de todas as nações em todo tempo, pois Jesus foi constituído Rei sobre todos os povos, para todo o sempre.
Mas, tal exigência não deve nos amedrontar. Mesmo reinando de forma absoluta, o reinado de Cristo é adornado de graça e amor, pois ainda que reine para a glória do Pai, Jesus vive para interceder pelo seu povo que tanto ama (Hb.7.25). Jesus jamais poderá ser considerado um governante tirano, pois Ele governa para o bem de seu povo, sempre o abençoando com bondade e satisfação. Para aqueles que tem alegria em Jesus, seu governo, suas leis, suas promessas e até mesmo sua disciplina são considerados como bênçãos graciosas que visam o bem-estar do povo de Deus, porque “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8.28).
Mas, para o mundo rebelde, até mesmo o gesto mais singelo e gracioso do Senhor, como o convite a receber a salvação por meio da fé em Cristo Jesus, será sempre considerado como ameaça à liberdade do coração pecador. Isso se dá porque o mundo não quer estar debaixo do governo divino em hipótese alguma, pois suas obras são sempre más e Deus jamais poderá concordar com elas. Então, para que o mundo viva segundo a maldade de seu coração, praticando todo mal que lhe convier, precisa se rebelar contra o senhorio divino, na tentativa de ter uma vida completamente independente, ainda que isso seja impossível para qualquer criatura.
O governo de Cristo não depende de quem quer (Rm.9.16). O Senhor Jesus domina sobre justos e injustos e “tudo faz como lhe agrada” (Sl.115.3). Seu Reino eterno se manifesta: no controle total sobre tudo que fora criado por Ele, “e, sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3); na providência dispensada sobre toda a criação, pois Ele “a seu tempo, lhes dás o alimento” (Sl.145.15); nas promessas graciosas e infalíveis, das quais dependem o presente e o futuro de toda a criação; nos castigos providenciados para correção de seus filhos, a fim de que sejam santos como Santo é o Senhor; nos juízos derramados sobre os ímpios, manifestando a justiça daquele que julga toda a criação; na vitória sobre o império das trevas, retirando da escuridão os que são alcançados pelo Espírito do Senhor. A igreja não é o limite do Reino de Cristo, mas sua atuação na sociedade manifesta a glória e a dinâmica do Reino universal do Senhor Jesus.
A rebeldia do homem diante do Senhorio de Cristo remete-nos para os dias em que Adão ainda vivia no Jardim do Éden. Foi lá que a serpente induziu Eva a desejar ser igual a Deus, a fim de não precisar mais estar debaixo do governo de Deus. E, considerando que Isaías 14.13-14 e Ezequiel 28.13-15 possam ser referências tipológicas à queda de Satanás, podemos dizer que o pecado da rebeldia precede os dias de Adão e Eva, pois Satanás teria sido a primeira criatura a querer ser igual a Deus, a fim de não mais se submeter ao governo divino. Portanto, a rebeldia contra o senhorio divino é bastante antiga.
De acordo com Atos 4.25, o autor do Salmo segundo é Davi. Essa alusão pode ser uma referência genérica ao livro dos Salmos que ficou conhecido como Salmos de Davi, mas pode ser uma indicação específica ao Salmo 2. Considerando que Davi é o autor do Salmo, fica mais fácil entendermos como ele aponta para Cristo. Davi foi o maior rei de Israel, pois foi Davi que pastoreou Israel conduzindo-o para Deus e ainda tornou a nação em um império. Ele conseguiu submeter diversas nações a seu redor, razão para que o Salmo comece afirmando que os gentios estavam conspirando contra o Ungido de Deus. O Salmo não fala dos pecados de Israel, pois Davi fora um excelente pastor para o povo de Deus. Mas, as nações ao redor estavam insatisfeitas com a subordinação.
Nesse salmo, o centro das relações internacionais é a nação de Israel que representa o Reino de Deus entre os povos. Então, devemos lembrar o que disse Jesus aos judeus de seus dias:
Mateus 5:13-16 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus
A missão de Israel era atrair os povos para Deus, como fora anunciado para Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn.12.3). Por isso, Moisés disse a Israel:
Deuteronômio 4:5-8 Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. 6 Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. 7 Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? 8 E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?
Portanto, ainda que ninguém veja a Cristo, a igreja representa seu Reino por meio da vida cheia do Espírito Santo, da pregação fiel da Palavra de Deus e da obediência à vontade revelada pelo Senhor. Sempre que a igreja é fiel a Deus perseverando “na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At.2.42), o Reino divino é manifesto entre os homens e Cristo, o Rei desse Reino, é glorificado por sua igreja. O amor, a bondade, a justiça, a misericórdia, a longanimidade e demais atributos divinos tornam-se visíveis aos homens por meio da vida de cada cristão vivendo a beleza da nova vida em Cristo Jesus, como disse Paulo: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl.2.20).
Você deve se alegrar em saber que Cristo reina sobre nós. Seu reinado é justo e bom, pois tanto julga os rebeldes com justiça quanto demostra amor para com todos os que se sentem peregrinos neste mundo pecador, concedendo salvação e vida eterna para todos os que buscam refúgio em sua graça superabundante (Rm.5.20). Portanto, o caminho para o progresso da sociedade não se encontra na libertinagem do homem, mas na obediência aos mandamentos de Deus, pois aquele que tudo criou para sua glória é poderoso para recompensar todos os que o amam.
Saber que Jesus reina absolutamente sobre todas as coisas deve trazer paz ao coração do cristão. Cristo tem tudo sobre controle e todas as coisas, boas ou ruins, devem ser consideradas como expressão de sua vontade que atua com perfeição sobre a criação, a fim de manifestar sua bondade, justiça e santidade. Como súditos do Reino de Deus, devemos buscar compreender a vontade de nosso Reino eterno, confiando que basta-nos buscar “o seu Reino e a sua justiça, e todas as coisas” serão acrescentadas graciosamente sobre nós (Mt.6.33).
Portanto, descanse seu coração no Rei da glória! Quando as coisas estiverem ruins, clame Àquele que tudo pode. Quando fores abençoado, agradeça e proclame a bondade do Rei eterno. Desse modo, viva na certeza que Cristo pode todas as coisas e que nada foge de seu pleno controle, pois Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
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