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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Aos amigos pastores

Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.” (Lc.22.31-31)

Mui grande é o privilégio de cuidar da igreja de Deus. Porém, a excelência da obra pastoral (1Tm.3.1) não anula as muitas dificuldades do ministério. Ao olhar para a dimensão dessa responsabilidade, você se sente pequeno e insignificante. Os erros que esconde em sua alma parecem confirmar sua inaptidão para a obra do Senhor, por isso a mente se desfaz em angústias. No mais íntimo do coração, surge uma vontade de desistir e pensar em outro caminho mais fácil para a vida. Ao sentir isso, você sente vergonha de si mesmo e se considera indigno do ministério recebido graciosamente de Deus. Então, você se considera o menor dos servos de Jesus, aflorando certa depressão em seu rosto cansado e confuso.
Apesar da tristeza do cenário, seus sentimentos não são ruins. Seu coração assumiu a incapacidade de realizar a obra, sozinho; e seu corpo reconheceu a falta de forças para prosseguir. Sua mente se esvaziou, admitindo que suas faculdades não lhe sejam suficientes. Ao se desfazer de si mesmo, você entregou a vida, o ministério e a igreja aos cuidados de Deus. Somente o Senhor pode sustentar sua vida, e até mesmo fazer bom uso de suas fraquezas, para que os pecadores encontrem na graça de Deus manifesta em sua vida, o alento necessário ao coração, nos dias da angústia.
Não há pastor perfeito, apenas ministro que sabe ocultar bem seus defeitos. Nem Paulo nem Pedro deixaram de demonstrar suas fraquezas (At.15.37-40; Gl.2.11-14). De Moisés ao apóstolo João, todos viram a graça de Deus operando, apesar de todas as falhas deles. Os defeitos e incapacidades não foram suficientes para impedir que a obra fosse realizada, mostrando que o Senhor estava acima dos obreiros. Por vezes, profetas quiseram desistir diante das lutas, mas Deus não os deixou em nenhum momento, nem mesmo na mais profunda angústia (1Rs.19). Nas fraquezas daqueles homens, Deus manifestou sua força e poder, capacitando-os a pastorear seu povo quando lhes parecia impossível cumprir a obra.
Em minha jornada ministerial vi defeitos dentro e fora de mim. E como você, muitos outros também se sentiram os mais miseráveis de todos os homens. Cansados da luta diária, muitos deixaram de estudar a Palavra de Deus, legando à igreja seu conhecimento deficitário; pressionados por homens orgulhosos, alguns negociaram a Palavra de Deus com medo de perder o “emprego”; exaustos das muitas exigências do ministério, vários entraram em depressão e pensaram em desistir de tudo; sentindo-se sozinhos na jornada pastoral, muitos foram atingidos pelas flechas inimigas, caindo nas tentações do mundo perverso. Vi amigos serem arrasados por igrejas e conselhos locais que agiram com maldade, semelhante a Jerusalém que matava “os profetas” e apedrejava “os que foram enviados” (Mt.23.37).
A debilidade faz parte da natureza do pecador. Contudo, você sabe tanto quanto eu que é preciso reagir às fraquezas e intempéries da vida ministerial. Apesar da solidão da alma, o pastor não está sozinho, pois “o SENHOR, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo” (Is.41.13). Você não é um super-crente, portanto, também precisa de ajuda. Talvez a igreja não saiba ainda, mas você faz parte dela e possui as mesmas necessidades que todos seus membros. Seu corpo também cansa e se esgota; seu coração também precisa de amor e cuidados; sua mente também se fatiga e precisa repousar; você também precisa ser alimentado pela Palavra do Senhor e enchido do Espírito de Deus. O valente Davi cansou muitas vezes, e em seu leito chorou durante as noites, clamando: “Não me escondas, SENHOR, a tua face, não rejeites com ira o teu servo; tu és o meu auxílio, não me recuses, nem me desampares, ó Deus da minha salvação” (Sl.27.9).
Portanto, lance toda sua ansiedade aos pés do Senhor. Reconheça suas fraquezas e peça a Deus auxílio nas lutas. Quando necessário, pare tudo e dedique tempo à meditação na Palavra do Senhor, investindo horas em leitura e oração, pois você precisa muito da presença de Deus. Suas debilidades já lhe demonstraram que não se pastoreia uma igreja com atividades, mas por meio de oração e ensino fiel da Escritura. Assim como você, a igreja de Jesus precisa dar valor a uma vida de profunda comunhão com o Senhor. Ensine-a, então, por meio de sua prática, que a maior parte do tempo do pastor precisa ser gasto com a meditação na Palavra de Deus e muita oração. Em comunhão íntima com o Senhor, você sentirá o cuidado de Cristo por sua vida; e, pela iluminação do Espírito Santo, você estará afiado para ensinar a Escritura à igreja.
Por fim, coloque sua vida à disposição para ajudar outros colegas pastores que precisem de auxílio na Palavra de Deus. Criou-se uma classe pastoral concorrente, que briga por igreja; forma chapa política para brigar por poder; fofoca sobre os outros pastores; busca motivos para derrubar o colega de ministério; se mostra indisponível quando alguém precisa de auxílio; e, desdenha do outro por causa de orgulho próprio. Ajude a mudar isso a partir de sua vida. Estenda a destra da comunhão para outros colegas pastores e coloque sua vida a disposição para ajuda-los. Na relação com os demais, você verá que, semelhante a você, outros pastores precisam de auxílio em diversos momentos do ministério; e, também, podem dar grandes contribuições para sua vida ministerial. No auxílio mútuo, fortaleceremos não só os pastores, mas as igrejas por eles cuidadas, pois pastores saudáveis são grandes instrumentos para manter saudável a igreja do Senhor Jesus.


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