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segunda-feira, 28 de março de 2016

Sutilezas do cinema de nossos dias

Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.” (Mt.10.16)

O diabo costuma ser perspicaz em suas artimanhas. Sorrateiramente, ele conseguiu iludir Eva e tentou enganar Jesus, distorcendo as Escrituras para levá-los a pecar contra o Senhor. Parte de suas estratégias envolve a conquista sutil do indivíduo por meio do engano paulatino. Ou seja, ele não choca o homem com mentiras grotescas, mas apresenta mentiras com aparência de inocência até que elas sejam aceitas como algo natural. Nem sempre o diabo invade uma casa com armas, obrigando o cristão a negar Jesus. Às vezes, ele convida para uma conversa amistosa com café e bolacha e apresenta suas mentiras com classe e boa aparência. Desta forma, o diabo consegue a simpatia das pessoas quebrando qualquer barreira que possa impedi-las de ouvi-lo. O veículo para que seu plano dê certo é a relativização de tudo, pois a desconstrução dos valores absolutos abre porta para qualquer valor relativo, moral ou imoral, certo ou errado, bom ou ruim. Somente assim, é possível se ensinar falsas doutrinas, com aparência de piedade, desviando a igreja das Sagradas Escrituras.
Para tornar mais eficaz sua atuação nas gerações futuras, o diabo tem investido no ensino das crianças, a fim de erguer uma geração anti-Deus cada vez mais pervertida. Infelizmente, poucos cristãos percebem as sutilezas da carne, do mundo e do diabo. Fiquei bastante perplexo depois que assisti, recentemente, dois desenhos, longa-metragem, feitos para todos os públicos, principalmente crianças. Um deles está em cartaz no momento, e apesar das partes engraçadas e o incentivo à perseverança, o filme, também, veicula fortemente a atual agenda mundial em favor da ideologia de gênero. Portanto, não o recomendo para ninguém. O slogan de Zootopia é: “Uma cidade onde você pode ser o que quiser”. Esse slogan é lembrado durante o filme todo. A policial Judy Hopps diz para Finnick, um pequeno raposo, que ele pode ser o que quiser quando crescer: “- Se você quiser ser um elefante quando crescer, você pode ser”. A frase é uma clara alusão à ideologia de gênero que defende o direito de todo ser humanos ser o que desejar, mesmo que seja contrário à natureza. O oficial Clawhauser, uma onça pintada, tem o comportamento afeminado, apesar de ser um animal predador. Não há Lei absoluta que regule o comportamento. Em Zootopia todos podem ser o que quiserem, e isso deve ser respeitado sem qualquer preconceito. É interessante observar que as ovelhas, com aparência de inocência, são as verdadeiras culpadas da desarmonia dentro da cidade. A vilã em Zootopia é uma ovelha que planejou incriminar os predadores para que fossem acusados de selvageria. Ou seja, o mundo quer viver em paz, mas aqueles que não aceitam a diversidade transtornam o mundo e são culpados da desarmonia.
Outro filme da Disney me deixou espantado: Tinker Bell e o Monstro da Terra do Nunca. O enredo parece simples à primeira vista. A fada Fawn encontra um monstro diferente que estava machucado. Ela o ajuda, o chama de Ranzinza, e começa a estuda-lo, pois não há outro igual em toda Terra do Nunca. Durante esse tempo, ela se apega ao monstro e começa a vê-lo como um bom ser, apesar de sua feia aparência. No entanto, Fawn descobre, posteriormente, que, segundo uma antiga lenda, seu amigo monstro se transformaria num “demônio” com chifres e asas (essa é a aparência), a fim de destruir o Refúgio das fadas. Mas, a fada Fawn não quer acreditar que seu amigo monstro seja um demônio e continua o protegendo, pois “ela o vê de uma forma que os demais não conseguem”. No final, todos descobrem que a lenda havia sido mal interpretada e que, apesar da aparência demoníaca, o monstro era um protetor das fadas e as salvaria dos raios que viriam dos céus contra o Refúgio das fadas. Todos precisavam acreditar no monstro e deixá-lo salvar a terra da fúria dos céus. Após salvar as fadas, o monstro volta para seu abrigo para dormir por mais mil anos. Algumas questões me intrigaram: dentre as muitas possibilidades para se desenhar um animal, por que o herói da Terra do Nunca tem a forma demoníaca? Por que a destruição vem dos céus, e somente um monstro com forma de demônio pode salvar os seres vivos?
Já faz um tempo que venho notando a tentativa de retirar a imagem negativa de alguns símbolos usados na Bíblia, e no cristianismo medieval, para retratar Satanás: serpente, dragão, monstro, besta, demônio. Em diversos filmes, o personagem principal tem uma dessas formas. O enredo é bem semelhante em todos eles, apontando para a ideia de que ninguém compreende o personagem monstruoso, agindo com preconceito até o conhecer melhor e perceber que, na verdade, ele não é mau. No final, tais personagens se tornam heróis do povo. A imagem negativa da figura é substituída por outra imagem positiva. Desta forma, o cinema dá ao mundo uma nova percepção dos símbolos, alterando as associações. Além das imagens, o cinema tem mudado, pouco a pouco, os antigos valores absolutos e bons por novas ideologias, quebrando barreiras que impediam a aceitação de conceitos vergonhosos e maus.
Antonio Gramsci, adepto do marxismo cultural, entendia que para mudar a política era necessário mudar primeiro a cultura. Conforme Gramsci, a cultura deve ser reconstruída, fazendo com que as pessoas tenham uma nova percepção da realidade. Uma de suas estratégias era a inversão do imaginário, substituindo as más associações por boas, e vice-versa. Por exemplo: a serpente, sempre associada à astúcia e engano, tem sua caricatura reconstruída por uma nova imagem, fazendo com que as pessoas tenham uma nova percepção sobre a serpente. O mundo está invertendo imagens e valores, e as novas gerações estão aprendendo que o demônio poder ser um grande herói, e que o certo pode estar errado e o errado pode estar certo. As famílias cristãs precisam estar atentas às sutilezas do mundo vil, e assumir as rédeas da educação dos filhos.
Também, não foi por acaso que o filme: “Superman vs Batman” foi lançado na “Semana Santa”. Repleto de messianismo e debates teológicos sobre o ser de Deus e sua relação com a humanidade, o filme bate recorde em analogias ao cristianismo. Superman é uma figura de Cristo: justo, perfeito e pronto para morrer pela humanidade. Apocalipse, arqui-inimigo de Superman, é vencido por meio do sacrifício do homem-endeusado, adorado pelo mundo como um salvador da humanidade, enviado dos céus com a missão de socorrer os frágeis homens.
Portanto, além de muita ação, o filme está imerso em teologia. Lex Luthor ambiciona o poder, mas para alcança-lo precisa derrotar Superman, o salvador do mundo. Sua estratégia envolve a tentativa de desacreditar o Superman, fazendo as pessoas pensarem que ele é culpado pelas tragédias que acontecem com a humanidade. Além disso, Luthor tenta Superman, a fim de provar que este faria uso de seus poderes para fins pessoais (salvar sua mãe, Martha). Seu propósito é encontrar fraquezas morais no Superman. Contudo, este vence a tentação, e se revela pronto para morrer pelos homens. Por fim, Lex Luthor ressuscita o arqui-inimigo de Superman, a fim de destruir o homem de aço. A batalha final entre Superman e Apocalipse tem repercussão mundial, pois “está em jogo” não apenas a vida de Superman, mas, também, a vida de toda a humanidade. As armas humanas são impotentes contra Apocalipse, e somente o homem de aço pode destruir o inimigo do ser humano. Por isso, Superman se sacrifica para matar Apocalipse, trazendo paz sobre a Terra. Em seu velório, há uma referência às obras de Superman, presentes em todo o mundo.
Esse não é o primeiro filme com amplas referências à teologia, mas parece que o interesse tem aumentado bastante. Em “os Vingadores 2”, a temática foi abordada com muita irreverência e até blasfêmias. Parece haver certo padrão nos conceitos teológicos transmitidos por diversos filmes: Deus é um ser transcendente que não se envolve com o mundo, mesmo quando este precisa, e, por isso, o homem se “vira” sozinho para resolver seus problemas; todo governo absoluto é repudiado enquanto a democracia é considerada a perfeita forma de governo; o “desenvolvimento” da mente humana é considerado a solução para todos os problemas; os homens, mocinhos ou vilões, são essencialmente bons, mas a sociedade os corrompe; o pecado nunca é tratado como algo inerente ao ser humano caído, por isso a cura se encontra na introspecção e reflexão do ser, conduzindo o homem à razão; os valores que regem a humanidade sempre são legislados pelos homens que decidem o que é melhor para a sociedade.

O cristão não deve se iludir achando que o mundo está mais sensível ao cristianismo, só porque faz algumas alusões teológicas. Na verdade, o objetivo é tornar a história da redenção uma lenda primitiva, semelhante às muitas crenças presentes nas diversas culturas. Afinal, ainda que o messianismo seja tratado como necessidade universal, suas crenças são atribuídas à ingenuidade do homem mentalmente primitivo. Não é sem motivo que Tony Stark é completamente cético, confiando tão somente no poder da razão. Os filmes estão cada vez mais emocionantes e realistas em seus efeitos especiais. Mas, o cristão deve ser criterioso em todas as coisas. Portanto, não seja ingênuo nos momentos de lazer. Avalie tudo, e esteja atento às muitas insinuações pagãs do mundo anti-Deus. O mundo não ama Deus e fará de tudo para que você O destrate, também.

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