“Eis
que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes
como as serpentes e símplices como as pombas.” (Mt.10.16)
O diabo costuma ser perspicaz em
suas artimanhas. Sorrateiramente, ele conseguiu iludir Eva e tentou enganar
Jesus, distorcendo as Escrituras para levá-los a pecar contra o Senhor. Parte
de suas estratégias envolve a conquista sutil do indivíduo por meio do engano
paulatino. Ou seja, ele não choca o homem com mentiras grotescas, mas apresenta
mentiras com aparência de inocência até que elas sejam aceitas como algo
natural. Nem sempre o diabo invade uma casa com armas, obrigando o cristão a
negar Jesus. Às vezes, ele convida para uma conversa amistosa com café e
bolacha e apresenta suas mentiras com classe e boa aparência. Desta forma, o
diabo consegue a simpatia das pessoas quebrando qualquer barreira que possa
impedi-las de ouvi-lo. O veículo para que seu plano dê certo é a relativização
de tudo, pois a desconstrução dos valores absolutos abre porta para qualquer
valor relativo, moral ou imoral, certo ou errado, bom ou ruim. Somente assim, é
possível se ensinar falsas doutrinas, com aparência de piedade, desviando a
igreja das Sagradas Escrituras.
Para tornar mais eficaz sua atuação
nas gerações futuras, o diabo tem investido no ensino das crianças, a fim de
erguer uma geração anti-Deus cada vez mais pervertida. Infelizmente, poucos
cristãos percebem as sutilezas da carne, do mundo e do diabo. Fiquei bastante
perplexo depois que assisti, recentemente, dois desenhos, longa-metragem, feitos
para todos os públicos, principalmente crianças. Um deles está em cartaz no
momento, e apesar das partes engraçadas e o incentivo à perseverança, o filme,
também, veicula fortemente a atual agenda mundial em favor da ideologia de
gênero. Portanto, não o recomendo para ninguém. O slogan de Zootopia é: “Uma cidade
onde você pode ser o que quiser”. Esse slogan é lembrado durante o filme todo. A
policial Judy Hopps diz para Finnick, um pequeno raposo, que ele pode ser o que
quiser quando crescer: “- Se você quiser ser um elefante quando crescer, você
pode ser”. A frase é uma clara alusão à ideologia de gênero que defende o
direito de todo ser humanos ser o que desejar, mesmo que seja contrário à
natureza. O oficial Clawhauser, uma onça pintada, tem o comportamento
afeminado, apesar de ser um animal predador. Não há Lei absoluta que regule o
comportamento. Em Zootopia todos podem ser o que quiserem, e isso deve ser
respeitado sem qualquer preconceito. É interessante observar que as ovelhas,
com aparência de inocência, são as verdadeiras culpadas da desarmonia dentro da
cidade. A vilã em Zootopia é uma ovelha que planejou incriminar os predadores
para que fossem acusados de selvageria. Ou seja, o mundo quer viver em paz, mas
aqueles que não aceitam a diversidade transtornam o mundo e são culpados da
desarmonia.
Outro filme da Disney me deixou
espantado: Tinker Bell e o Monstro da Terra do Nunca. O enredo parece simples à
primeira vista. A fada Fawn encontra um monstro diferente que estava machucado.
Ela o ajuda, o chama de Ranzinza, e começa a estuda-lo, pois não há outro igual
em toda Terra do Nunca. Durante esse tempo, ela se apega ao monstro e começa a
vê-lo como um bom ser, apesar de sua feia aparência. No entanto, Fawn descobre,
posteriormente, que, segundo uma antiga lenda, seu amigo monstro se
transformaria num “demônio” com chifres e asas (essa é a aparência), a fim de destruir
o Refúgio das fadas. Mas, a fada Fawn não quer acreditar que seu amigo monstro
seja um demônio e continua o protegendo, pois “ela o vê de uma forma que os demais
não conseguem”. No final, todos descobrem que a lenda havia sido mal
interpretada e que, apesar da aparência demoníaca, o monstro era um protetor
das fadas e as salvaria dos raios que viriam dos céus contra o Refúgio das
fadas. Todos precisavam acreditar no monstro e deixá-lo salvar a terra da fúria
dos céus. Após salvar as fadas, o monstro volta para seu abrigo para dormir por
mais mil anos. Algumas questões me intrigaram: dentre as muitas possibilidades
para se desenhar um animal, por que o herói da Terra do Nunca tem a forma
demoníaca? Por que a destruição vem dos céus, e somente um monstro com forma de
demônio pode salvar os seres vivos?
Já faz um tempo que venho notando a
tentativa de retirar a imagem negativa de alguns símbolos usados na Bíblia, e
no cristianismo medieval, para retratar Satanás: serpente, dragão, monstro,
besta, demônio. Em diversos filmes, o personagem principal tem uma dessas
formas. O enredo é bem semelhante em todos eles, apontando para a ideia de que
ninguém compreende o personagem monstruoso, agindo com preconceito até o
conhecer melhor e perceber que, na verdade, ele não é mau. No final, tais
personagens se tornam heróis do povo. A imagem negativa da figura é substituída
por outra imagem positiva. Desta forma, o cinema dá ao mundo uma nova percepção
dos símbolos, alterando as associações. Além das imagens, o cinema tem mudado,
pouco a pouco, os antigos valores absolutos e bons por novas ideologias,
quebrando barreiras que impediam a aceitação de conceitos vergonhosos e maus.
Antonio Gramsci, adepto do marxismo
cultural, entendia que para mudar a política era necessário mudar primeiro a
cultura. Conforme Gramsci, a cultura deve ser reconstruída, fazendo com que as
pessoas tenham uma nova percepção da realidade. Uma de suas estratégias era a
inversão do imaginário, substituindo as más associações por boas, e vice-versa.
Por exemplo: a serpente, sempre associada à astúcia e engano, tem sua
caricatura reconstruída por uma nova imagem, fazendo com que as pessoas tenham
uma nova percepção sobre a serpente. O mundo está invertendo imagens e valores,
e as novas gerações estão aprendendo que o demônio poder ser um grande herói, e
que o certo pode estar errado e o errado pode estar certo. As famílias cristãs
precisam estar atentas às sutilezas do mundo vil, e assumir as rédeas da
educação dos filhos.
Também, não foi por acaso que o
filme: “Superman vs Batman” foi lançado na “Semana Santa”. Repleto de
messianismo e debates teológicos sobre o ser de Deus e sua relação com a
humanidade, o filme bate recorde em analogias ao cristianismo. Superman é uma
figura de Cristo: justo, perfeito e pronto para morrer pela humanidade.
Apocalipse, arqui-inimigo de Superman, é vencido por meio do sacrifício do
homem-endeusado, adorado pelo mundo como um salvador da humanidade, enviado dos
céus com a missão de socorrer os frágeis homens.
Portanto, além de muita ação, o
filme está imerso em teologia. Lex Luthor ambiciona o poder, mas para
alcança-lo precisa derrotar Superman, o salvador do mundo. Sua estratégia
envolve a tentativa de desacreditar o Superman, fazendo as pessoas pensarem que
ele é culpado pelas tragédias que acontecem com a humanidade. Além disso,
Luthor tenta Superman, a fim de provar que este faria uso de seus poderes para
fins pessoais (salvar sua mãe, Martha). Seu propósito é encontrar fraquezas
morais no Superman. Contudo, este vence a tentação, e se revela pronto para
morrer pelos homens. Por fim, Lex Luthor ressuscita o arqui-inimigo de
Superman, a fim de destruir o homem de aço. A batalha final entre Superman e
Apocalipse tem repercussão mundial, pois “está em jogo” não apenas a vida de
Superman, mas, também, a vida de toda a humanidade. As armas humanas são
impotentes contra Apocalipse, e somente o homem de aço pode destruir o inimigo
do ser humano. Por isso, Superman se sacrifica para matar Apocalipse, trazendo
paz sobre a Terra. Em seu velório, há uma referência às obras de Superman,
presentes em todo o mundo.
Esse não é o primeiro filme com
amplas referências à teologia, mas parece que o interesse tem aumentado
bastante. Em “os Vingadores 2”, a temática foi abordada com muita irreverência
e até blasfêmias. Parece haver certo padrão nos conceitos teológicos
transmitidos por diversos filmes: Deus é um ser transcendente que não se
envolve com o mundo, mesmo quando este precisa, e, por isso, o homem se “vira”
sozinho para resolver seus problemas; todo governo absoluto é repudiado
enquanto a democracia é considerada a perfeita forma de governo; o
“desenvolvimento” da mente humana é considerado a solução para todos os
problemas; os homens, mocinhos ou vilões, são essencialmente bons, mas a
sociedade os corrompe; o pecado nunca é tratado como algo inerente ao ser
humano caído, por isso a cura se encontra na introspecção e reflexão do ser,
conduzindo o homem à razão; os valores que regem a humanidade sempre são
legislados pelos homens que decidem o que é melhor para a sociedade.
O cristão não deve se iludir
achando que o mundo está mais sensível ao cristianismo, só porque faz algumas
alusões teológicas. Na verdade, o objetivo é tornar a história da redenção uma lenda
primitiva, semelhante às muitas crenças presentes nas diversas culturas.
Afinal, ainda que o messianismo seja tratado como necessidade universal, suas
crenças são atribuídas à ingenuidade do homem mentalmente primitivo. Não é sem
motivo que Tony Stark é completamente cético, confiando tão somente no poder da
razão. Os filmes estão cada vez mais emocionantes e realistas em seus efeitos
especiais. Mas, o cristão deve ser criterioso em todas as coisas. Portanto, não
seja ingênuo nos momentos de lazer. Avalie tudo, e esteja atento às muitas
insinuações pagãs do mundo anti-Deus. O mundo não ama Deus e fará de tudo para
que você O destrate, também.
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