“Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais
excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo,
tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo
depois de morto, ainda fala.”
(Hb.11.4)
Após a queda
de Adão e Eva, nasceram-lhes dois filhos (Gn.4.1-2). O primeiro, Caim, havia
sido esperado com muitas expectativas, afinal Adão e Eva aguardavam o redentor
de sua alma, aquele que pisaria a cabeça da serpente, conforme Deus prometera:
“Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente.
Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn.3.15).
No entanto,
alguns anos depois Caim deixou bem claro que seus pais estavam enganados, pois
o primogênito cometeria o primeiro homicídio da história humana revelando-se
maligno; e o primeiro de uma perversa linhagem que perseguiria e mataria muitos
do povo de Deus.
O segundo foi
Abel. Sua vida justa incomodou Caim (1Jo.3.12). O caçula da família vivia pela
fé e suas obras eram coerentes com sua esperança nas graciosas promessas do
Criador de todas as coisas. Vendo, portanto, que Abel agradava a todos, Caim
teve inveja e, por isso, matou seu próprio irmão, dando início a uma longa
jornada de homicídios em sua linhagem (Gn.4.23-24).
A graça de Deus não havia se apartado de Adão e Eva
após a queda. Eles receberam promessa de redenção e viveram na esperança da
concretização desta promessa (Gn.3.15). Viveram seus dias na esperança do
nascimento do Messias, até que Eva deu à luz um varão, e nesta esperança
exclamou: “Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR” (Gn.4.1) ou, como
literalmente está escrito em hebraico: “Adquiri
um homem o SENHOR”. Havia fé no coração deles e por isso havia esperança.
Esta mesma fé também foi encontrada no coração de Abel o segundo filho de Adão
e Eva.
Conforme o apóstolo Paulo, a fé no Messias é uma obra
do Espírito Santo:
“Por isso, vos faço
compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus!
Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo.” (1Co.12.3).
Adão, Eva e Abel receberam a graça de crer no Messias
vindouro (Ef.2.8) e viveram por esta esperança como genuínos crentes, pois
aquele que espera a concretização das promessas de Deus também deve viver para
agradar o Senhor, pois aguarda recompensa eterna.
Desta forma,
dois mil anos antes de Abraão, chamado de pai da fé (Rm.4.11), Abel, em seus
poucos anos de vida, demonstrou fé salvadora por meio de uma vida justa e
agradável ao Senhor. No dia, provavelmente determinado pelo Senhor, para o
encontro gracioso entre Deus e o homem, Abel, que era pastor de ovelhas, trouxe
“das primícias do seu rebanho e da
gordura deste” (Gn.4.4). Abel fez um legítimo sacrifício que agradou a
Deus, indicando desde cedo que “sem derramamento de sangue, não há remissão.”
(Hb.9.22).
Deus se
agradou de Abel e de sua oferta (Gn.4.4), pois o Espírito do Senhor operava
graciosamente na vida dele, guiando seu coração e o conduzindo a dar exatamente
aquilo que o Senhor queria: um cordeiro. Mas, não era um cordeiro qualquer e,
sim, o melhor cordeiro, o primogênito, sem defeito, apontando profeticamente
para “o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo” (Jo.1.29). E nesta aprazível oferta, Abel também
demonstrou que em seu íntimo havia o grande amor a Deus (Dt.6.5) que é fruto do
amor do Senhor por nós, afinal “nós o
amamos porque Ele nos amou primeiro” (1Jo.4.19).
Abel era um
homem cheio do Espírito Santo, guiado pelo Senhor para amá-lo e fazer Sua Santa
vontade. E, por esta razão, foi martirizado, tornando-se o primeiro homem de
Deus a morrer por sua fé no Senhor. Seu testemunho incomodou o anti-reino, que
é maligno em todas as suas obras e, assim, Abel glorificou a Deus morrendo pela
fé.
Abel não era o
Messias esperado, mas foi o primeiro modelo para aqueles que querem viver pela
fé no Senhor. Suas obras eram coerentes com a fé e por isso eram justas e
agradáveis a Deus. Seu coração, cheio do Espírito Santo, havia sido entregue
completamente ao Senhor para dar-lhe o melhor de si, conforme a vontade
revelada de Deus. Esta é a primeira manifestação do Espírito Santo, conduzindo
um pecador a fazer exatamente a vontade do Pai. De forma que, em Abel, vemos o
maravilhoso resultado de se andar cheio do Espírito Santo.
Abel agradou o
Senhor tanto por ter dado o melhor de si quanto por ter oferecido exatamente
aquilo que o Senhor queria. Desta forma, o cristão também deve se preocupar
tanto em dar o melhor de si, como fruto de seu imenso amor a Deus “de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt.6.5),
quanto em fazer exatamente aquilo que Deus requer do homem. E para saber aquilo
que Deus quer, é preciso conhecer a vontade do Senhor revelada em Sua Santa Palavra.
Após receber a
oferta de Abel e Caim, Deus revelou sua vontade para ambos (Gn.4.4,7). No entanto,
Caim não aceitou a revelação de Deus, pois era mau. Somente por meio do
Espírito Santo o homem ama a vontade do Senhor e tem prazer em fazer aquilo que
O agrada, conforme profetizou Ezequiel:
“Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós
o coração de pedra e vos darei coração de carne. 27 Porei dentro de vós o meu
Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os
observeis.”
(Ez.36.26-27).
Contudo, além
das bênçãos decorrentes do enchimento do Espírito Santo, também há um preço a
ser pago. Abel pagou esse preço morrendo por sua fé, pois foi morto pelo seu
próprio irmão, Caim “que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por
que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas.”
(1Jo.3.12). Abel pagou o preço de viver pela fé no Senhor.
Jesus falou
sobre este preço a ser pago por seus discípulos:
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos
profetas que viveram antes de vós.” (Mt.5.10-12).
A vida cristã
não é um “mar de rosas”, mas uma constante guerra contra os principados e
potestades que atuam neste mundo maligno (Ef.6.12). Por isso, a jornada do
cristão é acompanhada de bênçãos e desafios. Enquanto é “abençoado com toda sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef.1.3), recebendo “já no
presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos”
(Mc.10.30), também é desafiado a perseverar até o fim, no meio das muitas
perseguições que sobrevêm àqueles que amam a Deus.
Portanto, ainda
hoje a vida de Abel fala ao coração do cristão, motivando-o a buscar uma vida
cheia do Espírito Santo, a fim de que tenha prazer em dedicar o melhor de si
para o Senhor, como gesto de amor, buscando conhecer nas Escrituras Sagradas
qual a “boa, agradável e perfeita vontade
de Deus” (Rm.12.2).
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