“Aquele, porém, que entra pela porta,
esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua
voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora”
(Jo.10.2-3)
A discussão
sobre o exercício integral, ou não, do ministério pastoral é antiga, mas ainda
persiste nos círculos cristãos. Vi o assunto ser posto sobre a mesa em artigo que
li recentemente. Neste, o autor defende o ministério pastoral exercido em
paralelo com outra atividade remunerada, a partir do ensino Bíblico de que em
todas as coisas o cristão deve glorificar a Deus, não fazendo distinção entre
sagrado e profano. Sua abordagem é pertinente aos nossos dias, não somente para
edificação de pastores, mas, também, de todos os cristãos. Porém, vale
salientar que o ministério pastoral não é comparado, nas Escrituras, com as
demais atividades sociais, nem muito menos igualado. E como o apóstolo Paulo
diz: “se alguém aspira o episcopado,
excelente obra almeja” (1Tm.3.1).
Quando se
trata de integralidade do ministério pastoral, a discussão gira em torno
do tempo dedicado ao ministério; tempo dedicado ao pastoreio das ovelhas que
Deus colocou aos cuidados do pastor. Quanto tempo o pastor precisa para
pastorear suas ovelhas? Uns indicarão mais tempo outros menos e é possível que
todos estejam certos se os contextos forem diferentes. De qualquer forma, vale
em nossos dias a pergunta: Seria o pastor um pregador das multidões, anunciando
a Palavra de Deus uma ou duas vezes por semana a todos os que têm “ouvidos para ouvir” (Lc.8.8)? Este era o
papel dos apóstolos e evangelistas. Eles organizavam igrejas e pregavam o
evangelho às multidões, enquanto alguns cristãos eram preparados para
pastorearem as ovelhas de cada região. Além disso, conforme as Escrituras toda
a igreja tem a missão de levar o evangelho ao mundo, mas Deus chama alguns
homens para cuidarem das ovelhas trazidas pelo Senhor até eles, para que
estejam sadias e preparadas para evangelizar, curadas de suas feridas e
alimentadas com a Palavra de Deus.
Em seu
consultório, o médico tem um bloco de receitas com o mesmo timbre e assinatura.
No entanto, cada uma das receitas será preenchida de acordo com a necessidade
dos pacientes, que deverão ser atendidos individualmente. E, para que isto
possa ser feito com exatidão, o médico precisará conhecer cada um de seus
pacientes, identificando a necessidade peculiar de cada um. Os remédios não
serão os mesmos nem mesmo os exames que identificarão a doença e nem o
acompanhamento será o mesmo durante o tratamento.
Em toda a
Escritura, Deus trata o homem com pessoalidade. Deus mantinha um relacionamento
pessoal com Adão e Eva no Jardim do Éden e, quando eles pecaram, o Senhor os
tratou individualmente, disciplinando com distinção. A Bíblia chama os servos
do Senhor pelo nome e Deus se relaciona pessoalmente com cada um deles,
chamando-os à Sua aliança, fazendo promessas, exigindo obediência e mostrando
Seu terno amor. Durante o ministério de Jesus, os judeus tinham uma vida
sofrida e abandonada espiritualmente. As multidões estavam carentes de tudo,
principalmente do amor divino que desconheciam por falta de ensino da Palavra
de Deus. Então, Jesus se compadece das multidões, “porque estavam aflitas e exaustas
como ovelhas que não têm pastor” (Mt.9.36). Ele cura cada indivíduo
de acordo com sua necessidade e lhes dá mensagem de acordo com a disposição do
coração. Seus discípulos recebem tratamento distinto, uns dos outros, e nem os
doze, que estavam sendo preparados para testemunhar o evangelho, eram tratados
com igualdade.
Cristo é o
perfeito pastor, modelo para todos os que desejam servir a Deus por meio deste
ministério. Enquanto Jesus pregava às multidões, mantinha os olhos atentos
sobre seus discípulos para que não se perdessem (Jo.17.12). Semelhantemente,
enquanto prega às multidões, para que o evangelho seja ouvido nos quatro cantos
da terra, o pastor está atento às ovelhas que Deus entregou em suas mãos. Para
o ministro do evangelho, o cristão não é mais um na multidão, recebendo o
batismo como “água benta aspergida sobre multidões”. O pastor vê as
singularidades, trata cada caso com especificidade, afinal as ovelhas não são
iguais.
Sou pastor de
uma igreja com um pouco mais de cem membros. Com muito ensino da Palavra de
Deus, em plena dependência do Espírito Santo e relacionamento contínuo com as
ovelhas, estou conhecendo cada uma delas, a fim de chamá-las pelo nome, ou
seja, com o propósito de identificar as características e necessidades pessoais
de cada ovelha. Hoje, já é possível dizer quais são melindrosas e quais são
mais fortes, quais são acomodadas e dificilmente se dispõe ao trabalho do
Senhor, e quais são trabalhadoras, sempre prontas para toda obra. Quando uma
adoece, trato de colocar nos ombros e levar até o aprisco onde receberá os
devidos cuidados; quando a outra tenta se afastar, logo é trazida de volta por
meio do cajado. Assim, cada uma recebe o tratamento que precisa, a fim de que
todas sejam mantidas na presença do Senhor, o sumo pastor das ovelhas.
Você, pastor,
conhece suas ovelhas? Está tratando suas feridas? Conhece suas dificuldades,
pecados e necessidades? Percebe quando há problemas e vai atrás? O bom pastor
dá a vida por suas ovelhas e percebe quando apenas uma, na multidão de ovelhas
que há no campo, se afasta do rebanho (Jo.10.11; Lc.15.4). Portanto, quer seja
atuando integralmente no ministério ou mesmo dividindo o tempo com uma
profissão, dê tempo para as ovelhas. Pastorear requer tempo! Tempo para meditar
na lei do Senhor, cuidando de si mesmo; tempo para preparar os sermões, a fim
de pregar com excelência; tempo para elaborar os estudos que aprimorarão os
cristãos no conhecimento de Deus; e, também, tempo para conhecer as ovelhas, a
fim de cuidar de cada uma delas com singularidade.
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