Era uma reunião de presbitério. Em seu
culto de abertura um dos conciliares subiu ao púlpito para pregar. O tema do
sermão foi a oração, e o pregador foi enfático na necessidade de orar antes de
tomar decisões. Portanto, os ouvintes deveriam orar antes de tomar decisões. O
culto foi encerrado, chegando o momento da apresentação de documentos. Então, o
próprio pregador apresentou um documento gigantesco de um teor muito sério que
afetaria não somente o presbitério como também toda a denominação, ou seja, a
igreja nacional. Quando chegou o momento de votar a favor ou contra a aprovação
do documento, eu me levantei para fazer a seguinte consideração: “Irmãos, o
documento é muito sério e de implicações abrangentes demais. Sugiro que dediquemos
alguns dias de oração a respeito do assunto e, depois, façamos uma nova reunião
para votar a favor ou contra a aprovação do documento.” Para minha surpresa,
o pregador e autor do documento me contrapôs, dizendo que não seria preciso
dedicar tal tempo a oração pelo assunto, então insistiu na aprovação imediata
do documento, convencendo todos os conciliares a votarem a favor do documento
sem orar antes de tomar uma tão importante decisão. Quanta hipocrisia!
A política eclesiástica tornou-se um bezerro
de ouro da igreja visível. Se pastores e presbíteros vissem alguém precisando de
ajuda, eles passariam de largo e confeccionam uma ata bonita para mostrar como são
bons conciliares. Eles amam os primeiros lugares nos cultos, se vestem
vistosamente, gostam de ser chamados de mestres, assumem cargos eclesiásticos
importantes, investem pesado na própria imagem e falam bonito perante públicos.
O amor próprio é muito grande. Por isso, o esforço de pastores e presbíteros
para prejudicar alguém é muito maior do que a dedicação para ajudar quando veem
algum problema. Então, armam ciladas, fingem amizade, espionam secretamente,
praticam a maledicência, julgam injustamente, procedem com mentiras e praticam
males diversos. E, com frequência burlam as leis com o intuito de se
beneficiarem ou com o propósito de prejudicar o próximo. Contudo, nem mesmo uma
só vez colocam em prática o que Deus ordenou: apascentar ovelhas de Jesus com
graça, misericórdia, dedicação e amor (Ez.34; Jo.10; 1Pe.5). Então, pergunto:
Qual dos reformadores ensinou isso?
Nossa família está disposta a se
sacrificar para combater a corrupção da igreja brasileira. Sabemos que tais
problemas vão além de denominações reformadas. Mas, falamos melhor daquilo que
conhecemos. Sabemos que o sistema é grande demais para nós, e que as pessoas corruptas
estão dispostas a nos fazer todo mal para não sermos bem-sucedidos na luta
contra a corrupção delas, mesmo que nosso único propósito seja purificar a
igreja visível dessa vida mundana. Assim como homens do passado, e suas
famílias, se sacrificaram para lutar contra toda injustiça dentro da igreja, também
estamos dispostos a fazer o necessário para que a igreja de Cristo seja
purificada dessa tão vasta e vil corrupção, porque ser reformado é, também, ser
zeloso pelo bem-estar da igreja que pertence unicamente a Jesus (Ef.5). Estamos
dispostos a dar a vida pela pureza da igreja, não a matar pessoas como os
fariseus faziam (Jo.10). Assim como John Wycliffe (1320-1384), Jan Hus
(1369-1415), Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564), John Bunyan
(1628-1688), Charles Spurgeon (1834-1892) pagaram o preço de ser instrumentos
divinos de seu tempo, e nos deixaram um legado que hoje está sendo desonrado
por aqueles que dizem levantar sua bandeira.
Ser uma igreja reformada não é um mero
slogan de uma denominação. Ser uma igreja reformada não se resume a conhecer os
cinco pontos do calvinismo. Ser uma igreja reformada não é adotar determinado
sistema de governo eclesiástico. A errônea visão do que é ser realmente
reformado tem produzido uma geração juvenil imatura capaz de perseguir e matar
pessoas em nome da fé, como fizeram os fariseus dos dias de Jesus e dos
apóstolos. Desse modo, o presente e o futuro da igreja estão sendo ameaçados,
pois denominações religiosas não são sinônimo de verdadeira igreja, assim como a
nação de Israel não era sinônimo de verdadeiro povo de Deus. Ser uma igreja
reformada é zelar por toda a sã doutrina e prática, a começar pelo Ser do Deus
Trino, único Senhor de tudo e todos, inclusive da igreja, de modo a guardar e
propagar os divinos santos valores eternos (Gl.5.22-23) que glorificam o Criador
e Salvador (Mq.6.8), a partir do amor que é maior de todos os mandamentos
(Dt.6.5; Mt.22.36-40; 1Jo.4). Ser uma igreja reformada é cultivar a justiça, a
verdade e a benignidade; é buscar a humildade, a simplicidade e a piedade; é
agir como Cristo agiu quando esteve entre os homens, atraindo pecadores à graça
divina; é apascentar vidas pela Palavra de Deus em total dependência do operar
poderoso e eficaz do Espírito Santo.
Enquanto ser reformado for mero sinônimo
de brigar contra pentecostais ou ter atas bonitas que valorizam a
superestrutura político eclesiástica, denominações que se dizem reformadas viverão
uma mera hipocrisia. O número de pastores divorciados cresce a cada ano, de
modo a haver quem esteja no quarto casamento; mas, isso não parece importante.
Jovens se comportam com petulância e falsa piedade, destruindo vidas e famílias
em nome de erudição imatura. Igrejas locais se transformam em clubes de
pecadores, preocupadas com programações sociais enquanto vivem a falsidade em
suas relações internas. Líderes buscam poder e fama investindo na própria
imagem, mas não lutam contra a corrupção da igreja para não perderem seus
prestígios eclesiásticos. Pastores e presbíteros dedicam tempo e esforço
demasiado na confecção de atas e documentos, mas são incapazes de fazer uma visita
pastoral pessoal aos colegas de um mesmo presbitério, como se isso não fosse
importante. Assim, a administração política das denominações se tornou mais
importante do que o pastoreio das ovelhas de Jesus; e o status de pastores,
presbíteros, diáconos e cantores se tornou mais importante do que a glória de
Cristo, a pureza das famílias e a piedade da vida cristã.
Então, qual o nosso propósito? Trazer o
cristianismo de volta à pureza de Cristo. Não um cristianismo saudosista que
comemora a páscoa, a reforma e o natal. Queremos trazer o cristianismo de volta
à verdadeira fé que Cristo lhe deu, confiando na suficiência da justiça de
Cristo, na soberania do governo divino e na realidade do novo nascimento
operado pelo Espírito Santo. Queremos trazer o cristianismo de volta para a
pureza das relações fraternas, de modo que as famílias não finjam o amor, mas
amem de fato e de verdade, segundo a Palavra de Deus, movidas pelo Espírito do
Senhor. Queremos trazer o cristianismo de volta à verdade, honestidade, justiça
e integridade, de modo que nenhum pastor ou presbítero proceda como se fosse
melhor que os outros nem tente se tornar o dono da igreja ou do presbitério. Queremos
trazer o cristianismo de volta ao propósito de salvar vidas, livrando-o da
falsa religiosidade que se satisfaz com a condenação alheia. Queremos trazer a
igreja de volta para a piedade bíblica, não para uma falsa modéstia de quem se
orgulha de si mesmo e menospreza os outros; Queremos trazer a igreja “de volta
para Jesus”, pois ela já está tempo demais nas mãos de pecadores cheios de
orgulho, ambição e interesses próprios. Por isso, a igreja tem se tornado, novamente,
em um covil de salteadores, abandonando o propósito de Deus para sua vida: ser
sal da terra e luz do mundo (Mt.5.13-16). Enquanto nos for possível, lutaremos
para trazer a igreja de volta para Jesus e estamos dispostos ao sacrifício,
certos de que somente a Palavra de Deus e o operar do Espírito Santo podem
realizar tal obra, trazendo uma nova reforma para o cristianismo.