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segunda-feira, 21 de março de 2022

A família de Deus


 A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração” (Cl.3.16)


Você poderia dizer que me conhece? Vejamos: quais são as minhas comidas preferidas? Que sonhos eu tenho para a vida familiar? Gosto mais de comer fora ou em casa? Quais as lutas que já enfrentei em minha vida? Talvez, você só me conheça pelas redes sociais, então, realmente, não posso exigir muito de você. Mas, posso fazer a mesma pergunta a respeito de irmãos e irmãs que congregam na igreja na qual você é membro. Então, você poderia dizer que conhece essas pessoas, realmente?


Bem no início do livro de Atos dos Apóstolos, Deus nos revela as encantadoras implicações da ação do Espírito Santo e da Palavra divina no coração daqueles que ouviam a pregação da Escritura Sagrada. Ou seja, Deus nos mostra a beleza da nova vida que Ele tem para dar a todo aquele que verdadeiramente crer no Senhor Jesus movido pela ação do Espírito e da Palavra. Lucas nos encanta com a beleza da vida da igreja de Jesus, e nos faz desejar viver a ação de Deus em nós todos os dias: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At.2.42)


Lucas nos revela, em Atos 2.42, que a igreja perseverava em quatro elementos fundamentais: doutrina, comunhão, Santa Ceia e oração. Todavia, você já observou que, na prática, muitos cristãos parecem ler apenas o primeiro elemento do versículo: a doutrina? Ou seja, parece-nos que uma igreja fiel a Deus é aquela que persevera apenas na doutrina, ainda que na prática não tenha uma correta concepção e prática da Ceia do Senhor, não tenha uma vida de oração nem de comunhão constante e verdadeira.


Como está a sua relação com a igreja de Jesus Cristo? Como é seu convívio com a parte da família de Deus que chamamos de igreja local? Nas últimas décadas, tem crescido bastante um movimento paraeclesiástico que passou a ser denominado: os desigrejados. São pessoas que se dizem cristãs professas, mas que não querem estar associadas a uma igreja local. Elas vão de igreja em igreja sem o compromisso com o corpo local. Elas ouvem pregações a seu gosto e participam de cultos, mas não se tornam membros de nenhuma igreja.


As razões para o afastamento da igreja local são variadas: frustrações, dogmas pessoais, medo de compromissos etc. E sejam quais forem os motivos, todos eles negligenciam a expressa vontade de Deus para que sua igreja viva como uma família (Ef.2.19), na qual os relacionamentos são instrumentos para o trabalhar de Deus em nossas vidas (Ef.4.1-16), formando o ambiente no qual Deus manifesta sua graça, abençoando seu povo (Sl.133).


Ou seja, os desigrejados não consideram que os relacionamentos cristãos são bênçãos de Deus para trabalhar nossas vidas dentro do corpo de Cristo. Eles esquecem que todas as cartas do Novo Testamento foram escritas para igrejas locais em que cristãos tinham verdadeiro compromisso uns com os outros, convivendo no dia a dia suas diferenças, necessidades e, até, pecados. 


Apesar do movimento dos desigrejados ser periférico à igreja, ele tem exercido certa influência sobre os cristãos dentro das igrejas. Podemos dizer que, em nossos dias, há desigrejados dentro das igrejas, ou seja, pessoas que, apesar de serem membros de igrejas locais, não vivem a vida comum da igreja. Elas apenas frequentam uma ou outra atividade da igreja. E mesmo que não andem de igreja em igreja, vivem à margem da igreja local.


A tendência de as igrejas locais enfatizarem uma rotina de eventos tem colaborado com o movimento dos desigrejados. Os eventos enchem as igrejas locais por um breve momento, mas logo as pessoas voltam para suas vidas particulares, até que outro evento chame a atenção delas. Não há uma convivência com os outros irmãos, mas apenas um contato breve, quando ocorre, de modo que os relacionamentos se tornam bastante superficiais e nada desafiadores. 


Mas, a igreja pode ser definida apenas pela pregação? A igreja pode ser definida apenas pelos cultos solenes? Não, de modo nenhum! A igreja é a assembleia dos Santos, o corpo de Cristo, o povo escolhido de Deus, a congregação dos filhos de Deus que viverão eternamente juntos. Portanto, a igreja é o conjunto de cristãos vivendo um relacionamento estabelecido pelo Espírito do Senhor, dirigidos pela Palavra de Deus para que sejam bênçãos uns para os outros, a fim de se consolarem, se fortalecerem, se edificarem, se exortarem mutuamente em Cristo Jesus.


Quando os cristãos vivem apenas de frequentar o culto dominical e voltam para casa, a igreja se torna apenas um momento quando, na verdade, a igreja é um povo vivendo um relacionamento diário em Cristo e para Cristo Jesus. Por mais sublime e necessário que seja o culto solene ao Senhor, ele não define a igreja. Não conhecemos os irmãos por meio do culto nem participamos da vida dos demais cristãos somente por estar presentes no culto ao Senhor. O relacionamento eclesiástico é estabelecido e solidificado no dia a dia quando os cristãos perseveram não somente na doutrina, mas também na comunhão, no partir do pão e nas orações. 


Para tornar mais evidente o problema, façamos uma analogia com a família. Imagine uma família em que seus membros não se veem o dia inteiro, porque cada um (marido, esposa e filhos) tem seus próprios compromissos: eles trabalham ou estudam, comem fora, tem suas amizades particulares etc. Eles chegam em casa apenas para dormir. E apesar de morarem todos na mesma casa, não podemos dizer que eles vivem como uma família, pois não há relacionamento familiar entre eles. Não há diálogo, então não há conhecimento mútuo, pois eles não vivem uma vida em comum. Logo perceberão que não passam de estranhos vivendo debaixo do mesmo teto.


A vida da igreja é uma bênção divina para cada cristão. É na vida comum da igreja que Deus trabalha seus filhos, exigindo deles paciência, compreensão, misericórdia, bondade, integridade, sensibilidade, firmeza e amor. É através de relacionamentos cotidianos sinceros e profundos que o Senhor nos abençoa com conforto, exortação, ânimo e auxílio mútuo em diversas situações da vida. É no dia a dia dos relacionamentos dos cristãos que ruminamos a Palavra de Deus pregada aos domingos nos púlpitos das igrejas locais. 


É dentro da igreja que aprendemos a servir e desenvolvemos nossos dons para sermos bênçãos. E quanto mais íntimas forem as relações, mas evidentes serão nossas necessidades, defeitos e aptidões. Portanto, a intimidade das relações cristãs nas igrejas locais nos ajuda a vermos quem realmente somos, pois o outro carrega sempre consigo um espelho direcionado a nós. E quanto mais convivermos com o outro mais desafiadora se tornará a vida cristã, pois estaremos convivendo com todas as limitações e todos os defeitos do irmão, também.


Mas, aquilo que pode parecer desagradável à primeira vista é o ambiente no qual Deus estará trabalhando a vida de todos os cristãos. Por meio dos relacionamentos eclesiásticos, Deus mostrará para cada um as necessidades pessoais e, na perseverança de todos, Deus lapidará cada coração transformando-o pouco a pouco à imagem de Cristo Jesus, o varão perfeito (2Co.3.18; Ef.4.13). Ou seja, Deus estará santificando sua vida, fazendo de você alguém melhor, por meio dos relacionamentos dentro da igreja de Jesus.


Portanto, não tenha medo dos relacionamentos cristãos nem fuja do compromisso com a igreja de Cristo. Os relacionamentos interpessoais realmente são desafiadores, mas uma vez que os desafios sejam vencidos, quão grandes são as bênçãos decorrentes deles. Então, viva a benção de ser parte da família de Deus, a igreja de Jesus Cristo. É dentro dela que Deus trabalhará cada necessidade sua e usará você para abençoar muitas outras vidas, também.

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