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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Deus é o único legislador

 


Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer” (Tg.4.12)


Todas as pessoas carecem de uma direção para a vida. Isso começa na infância, quando precisamos aprender a distinguir o certo do errado, o bom do mau. E no decurso de nossa jornada, precisaremos tomar muitas decisões, fazer muitas escolhas, agir e reagir perante o mundo. Para tudo isso, Deus nos deu uma direção perfeita: a Escritura Sagrada. Ou seja, Deus é tão bom que não deixou o pecador sem um norte para sua vida, antes cuidou de revelar para nós tudo o que é santo, justo, amável, bom e verdadeiro. Deus revelou ao homem tudo o que ele precisa para viver a vida individual e social, desfrutando da criação para a glória do Criador.


Após a primeira desobediência de Adão e Eva, Deus poderia ter abandonado os pecadores deixando-os seguir apenas o próprio coração corrompido. O Senhor poderia ter dito: “Os homens não conseguiram obedecer um só mandamento (Gn.2.17), sendo ainda puros de coração (Gn.2.25), quanto mais obedecerão minhas leis, tendo eles o coração corrompido (Jr.17.9).” Caso Deus abandonasse todos os seres humanos, os pecadores destruiriam a si mesmos, conforme Paulo nos revela que Deus entregou muitos dos povos gentios aos enganos do próprio coração:


Romanos 1:22-27   Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos  23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.  24 Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si;  25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!  26 Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza;  27 semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro


Todavia, Deus não quis abandonar todos aqueles que Ele fez à sua imagem e semelhança (Gn.1.26-27). Antes, o Senhor se propôs a mostrar seu amor e misericórdia prometendo graciosa salvação (Gn.3.15). Deus planejou restaurar toda a criação, tirando dela o pecado que a consumia. Mas, como os homens conseguiriam viver até o dia da restauração da criação? Então, para que os homens pudessem ter uma direção certa para a vida individual e social até a restauração da criação (1Co.15.50-58; Ap.21.1-7), Deus lhes deu suas leis santas, justas, puras, boa e verdadeiras. Desse modo, a Palavra de Deus foi revelada ao homem como regra de fé e prática, entregue, primeiramente, ao povo de Deus de diversas gerações, desde os dias de Abel, quando o Senhor determinou que o culto deveria ser oferecido por meio do sacrifício de um animal: “Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou.” (Gn.4.3-5). Graciosamente, Deus revela ao homem como viver uma vida para a glória do Criador.


Mas, tendo em vista que o ser humano sempre volta a se afastar da Palavra de Deus, cada nova geração precisa ser lembrada de que a direção certa se encontra na Palavra do Senhor. Então, nos dias da Reforma Protestante foi levantada novamente a seguinte máxima: A ESCRITURA É NOSSA ÚNICA REGRA DE FÉ E PRÁTICA. Essa afirmação pode ser encontrada no primeiro capítulo, parágrafo II, da Confissão de Fé de Westminster (CFW, I, II); na terceira pergunta/resposta do Catecismo Maior de Westminster (CMW, 3); e, na segunda pergunta/resposta do Breve Catecismo de Westminster (BCW, 2). Para algumas pessoas, esse dogma é um exagero ou mesmo um erro, mas veremos que não na própria Palavra divina. Essa é uma das principais verdades do Cristianismo, ensinada por Deus desde o livro de Gênesis, pela qual devemos continuar lutando em nossa geração tão relativizada, portanto tão perdida.


Ao erguer essa bandeira, a Reforma estava indo contra toda tentativa de se impor escritos apócrifos, leis humanas, tradições variadas e pessoas diversas sobre os ombros dos homens, atribuindo-lhes o mesmo nível de autoridade da Palavra de Deus. Os reformadores estavam levantando a bandeira da liberdade em que todo homem tinha o direito de se submeter unicamente à Palavra de Deus. A bandeira foi erguida, porque livros apócrifos estavam sendo dados como canônicos; bulas papais estavam sendo ordenadas como se fossem leis divinas, tradições religiosas estavam sendo transmitidas como sagradas e pessoas recebiam o status de porta-vozes de Deus, sem que o Senhor realmente tivesse enviado.


Com a reforma protestante, o problema foi reduzido ao mínimo (por algum tempo) e a igreja foi purificada da presunção de pecadores. Deus voltou a ser o único glorificado; Cristo voltou a ser o único mediador; o Espírito Santo voltou a ser o único iluminador que converte o pecador e lhe dá sabedoria. O culto tornou a ser teocêntrico, as pregações voltaram a ser cristocêntricas e a vida cristã deveria ser direcionada pela Escritura e pelo Espírito Santo. Tudo deveria ser dirigido ao louvor da glória do Senhor Deus Todo-Poderoso. A igreja bradava um belo grito de guerra: Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Sola Scriptura, Soli Deo Gloria.


Contudo, a beleza dessa vida guiada pela Palavra do Senhor não durou muito tempo, porque “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr.17.9). Com o passar do tempo, o problema voltou com toda força novamente, alcançando, em nossos dias, proporções até maiores. Nos dias da Reforma Protestante, poucos homens queriam deter o poder do mundo, assumindo o lugar de Deus. Hoje, em cada denominação, há diversos homens querendo assumir o lugar de Deus, julgando os demais conforme suas próprias leis, a fim de dominar sobre tudo e todos. Eles criam seus próprios escritos sagrados, formulam suas próprias leis, produzem inúmeras tradições religiosas e, então, são endeusados. Difícil não ver o espírito do anticristo em nossa geração (1Jo.2.18).


Portanto, diante do enorme problema, precisamos relembrar a máxima bíblica: DEUS É O ÚNICO LEGISLADOR DO UNIVERSO, ou seja, a Escritura é a única regra de fé e prática. Essa verdade fundamental pode ser encontrada de Gênesis a Apocalipse, no fato de que o Senhor tanto criou quanto governa o mundo através de suas leis:


Gênesis 1:14-15  Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos.  15 E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim se fez.

Isaías 33:22  Porque o SENHOR é o nosso juiz, o SENHOR é o nosso legislador, o SENHOR é o nosso Rei; ele nos salvará.

Romanos 9:4  São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas;

Tiago 4:12  Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?


Uma pergunta simples pode ser feita: Por que todas as pessoas serão julgadas por suas obras, no juízo final? (“E foram julgados, um por um, segundo as suas obras.” – Ap.20.13). Para haver julgamento é preciso que leis tenham sido quebradas. Paulo afirma que até os gentios serão julgados pela lei divina, mesmo que ela tenha sido entregue aos judeus: “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho” (Rm.2.14-16). Caso não houvessem leis regendo a vida humana, os homens não poderiam ser julgados: “porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão” (Rm.4.15//5.13). Mas, já que Deus nos deu suas leis desde o Éden, todos os homens serão julgados por elas. Logo, as leis do Senhor têm um caráter universal.


Desde o Éden, Deus é o legislador do mundo. Ao criar o homem, Deus lhe ordenou que “cultivasse e guardasse” o jardim (Gn.2.15), dando-lhe ordem para trabalhar e zelar a criação de Deus. Deus ordenou ao homem o comer de todas as plantas, menos da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.3.17), estabelecendo limites e uma aliança. No Éden, Deus não deixou o homem matar animais para se alimentar (Gn.1.29-30), provendo as plantas para seu alimento. Já nos dias do dilúvio, Deus estabeleceu uma nova lei sobre a duração da vida do homem, reduzindo-a para 120 anos; uma lei biológica (Gn.6.3). Por isso, mesmo que o homem melhore sua qualidade de vida, não consegue aumentar o teto de sua vida. Posteriormente, após o dilúvio, Deus deu uma nova lei sobre os alimentos: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora” (Gn.9.3). Todas essas leis foram dadas a todos os seres humanos.


Deus é o Criador do mundo e seu único legislador. Desde o início da criação, o Senhor estabeleceu leis para a natureza e para a sociedade. No livro de Jó, capítulos 39 a 41, Deus questiona Jó sobre seu conhecimento acerca das leis naturais estabelecidas pelo Senhor. A criação está repleta de leis que a regem. São leis físicas, leis químicas e leis biológicas estabelecidas pelo Criador. A natureza instintiva dos animais é regida por leis, pois Deus “programou” cada animal para ter hábitos próprios que são repetidos geração após geração. O DNA dos seres vivos é como livros contendo todas as informações que devem ser cumpridas cabalmente pelo organismo para que se faça a vontade de Deus acerca de cada espécie criada pelo Criador.


Além das leis naturais, Deus também deu, pouco a pouco, leis morais, civis e religiosas para regerem a vida dos homens. Não matar, não ter mais de uma esposa são leis bastante primitivas que acompanham toda a história humana, ainda que os pecadores insistam em quebrar a lei do Senhor. Quando Deus criou o homem e lhe deu uma mulher, estava sendo estabelecida uma lei: cada homem terá uma mulher por esposa. Paulo nos diz que na ordem da criação (primeiro foi criado o homem e depois foi criada a mulher) encontra-se uma lei: o homem deve ser o cabeça da mulher (1Co.11.8-9; 1Tm.2.11-14). Quando Deus castigou Caim por ter matado Abel, ficou explícito que havia uma lei regente das relações humanas: não matarás (Gn.4.8-15). Muito antes dos dez mandamentos, ainda nos dias do dilúvio, Deus reafirmou essa importante lei: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem” (Gn.9.6). Desse modo, leis naturais e morais foram estabelecidas por Deus para regerem todo o universo criado pelo Senhor: Rei e Juiz de tudo.


Com a formação do Estado de Israel, Deus deu novas e amplas leis para regerem a vida moral, social e religiosa da nação. Essas leis (Pentateuco) deveriam reger toda a vida de Israel, mas seu propósito era ainda maior: alcançar o mundo todo:


Deuteronômio 4:5-8  Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir.  6 Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.  7 Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?  8 E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?


Desse modo, a Palavra de Deus nos ensina, pouco a pouco, que o Criador é o único legislador do universo. O Senhor criou as leis da natureza: A terra gira na velocidade estabelecida por Deus (rotação e translação); a gravidade tem a força certa para vivermos adequadamente no sistema solar e, também, em nosso planeta etc. Deus nos deu leis naturais para regerem a criação inteira (Gn.1.14-18; Sl.19.1-6; Pv.8.27-29). Então, quando a sociedade normaliza algo que vai contra as leis naturais estabelecidas por Deus, tal como o homossexualismo, a sociedade torna-se transgressora da lei de Deus (lei biológica), estabelecendo suas próprias leis, afinal o homem foi criado para ser homem e a mulher foi criada para ser mulher, e tudo no DNA de cada um dirá isso.


Deus entregou leis morais, civis e religiosas para a nação de Israel (Cristo é o cumprimento das leis religiosas do Antigo Testamento e Aquele que nos dá nova vida através do Espírito e da Palavra para praticarmos as leis morais e civis), a fim de que o mundo todo recebesse essas leis. Jesus deixou isso bem claro quando afirmou: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (Mt.5.13-16). Portanto, quando a prostituição se tornou uma profissão legal, a pura lei de Deus foi trocada por leis criadas conforme o pervertido coração dos pecadores. Quando nações legalizam o aborto, quebram o mandamento divino que diz: “não matarás” (Gn.9.6; Ex.20.13). Pois, o Criador do universo criou leis absolutas para serem cumpridas, não meras opiniões ou sugestões opcionais. Deus nunca autorizou ao homem legislar segundo seu próprio coração.


Diante de tudo isso, a igreja precisa berrar bem alto para o mundo: DEUS É O ÚNICO LEGISLADOR DO UNIVERSO!!! Deus não autorizou os pecadores a criarem suas próprias leis segundo o bel-prazer de cada pessoa ou nação. Podemos ver isso, também, quando o sogro de Moisés, Jetro, o aconselhou a dividir a carga de ter que julgar a nação de Israel (Ex.18). Jetro deu um excelente conselho para Moisés, mas reconheceu que somente Deus poderia legislar para a nação: “Se isto fizeres, e assim Deus to mandar” (Ex.18.23). Ou seja, o conselho de Jetro só poderia tornar-se parte da legislação caso Deus concordasse e aprovasse. Logo, nem Moisés nem Jetro nem qualquer outra pessoa deveria legislar a bel-prazer, ainda que pudesse ser algo bom a seus olhos. Todavia, Deus permitiu que leis temporárias fossem dadas por causa da necessidade emergente de um povo pecador, como nos diz Jesus: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio” (Mt.19.8). Com o fechamento da Palavra de Deus, as leis temporárias tiveram seu tempo encerrado (At.10.9-16; 1Co.7.2) e a perfeita vontade do Senhor é reafirmada.


Contudo, durante a longa história humana, muitas pessoas legislaram conforme sua própria vontade. O primeiro deles foi Lameque, um dos descendentes de Caim. Ele não somente matou dois homens fazendo justiça com as próprias mãos como, ainda, criou uma lei injusta, a fim de ser favorecido perante as demais pessoas:


Gênesis 4:23-24  E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou.  24 Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete. (cf.Gn.4.15)


Após Lameque, muitos homens criaram suas próprias leis quebrando a lei de Deus. Em Gênesis 6, vemos que a monogamia instituída pelo Criador, na formação da primeira família (Gn.2.18-25), fora substituída pela poligamia e, assim, os homens tomaram para si quantas mulheres quiseram, “as que, entre todas, mais lhes agradaram” (Gn.6.1-2). Desse modo, mulheres tornaram-se meros objetos para o prazer sexual de homens, sendo humilhadas em vez de amadas. E sempre que o homem cria suas próprias leis, em detrimento da lei do Senhor, males ocorrem:


Salmo 12:8  Por todos os lugares andam os perversos, quando entre os filhos dos homens a vileza é exaltada.

Provérbios 29:2  Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira.

Habacuque 1:2-4  Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?  3 Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita.  4 Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida.

Mateus 23:2-4  Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus.  3 Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem.  4 Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.


As leis de Deus são universais, ainda que o Senhor tenha escolhido homens específicos para entregar-lhes os mandamentos. A nação de Israel tinha a missão de atrair os demais povos, a fim de que todos conhecessem as leis do Criador. Ao longo da jornada da nação, muitos gentios foram atraídos a Deus (Jetro, Raabe, Rute, Gibeonitas etc.). Mas, esse propósito de Israel alcançou dimensões mais amplas nos dias do cativeiro da Babilônia, quando judeus fiéis a Deus foram dispersos pelo império, tornando-se visíveis para pessoas de todos os povos (Dn.2.46-49; 3.28-30; 4.37; At.2.5). Deus estava atraindo os povos para conhecerem sua Palavra, tanto as promessas da graça quanto as santas leis que deveriam reger todas as nações. Foi assim que muitos povos aprenderam a temer a Deus, vendo suas obras e ouvindo suas Palavras através do povo escolhido, “a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe.2.9).


O livro do profeta Jonas nos mostra a universalidade das leis do Senhor. O profeta fora comissionado para pregar o juízo divino para uma cidade gentílica pagã. Mas, por que Deus julgaria uma cidade que tinha suas próprias leis? Porque a lei do Senhor rege toda a criação e os ninivitas não estavam andando de acordo com elas. A grande cidade de Nínive não estava andando em acordo com a lei do Senhor e precisava se arrepender. Quando o profeta pregou (Jn.3.1-10), os ninivitas reconheceram que não andavam na justiça. Ou seja, a lei de Deus estava no coração daqueles gentios perdidos (Rm.2.14-16). Ainda que leis injustas e imorais tivessem sido forjadas por eles, não poderiam justificar os pecados dos ninivitas, porque Deus é o único legislador da criação. Podemos ver isso, também, no livro do profeta Daniel, quando os reis Nabucodonossor e Ciro criaram leis que contrariavam a Palavra de Deus (Dn.3.1-30; 6.1-28). Por meio de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Deus mostrou para os imperadores, e todos os povos, que ninguém pode legislar contra a Palavra do Senhor.


Isaias 10.1-3  Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão,
2. para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!
3. Mas que fareis vós outros no dia do castigo, na calamidade que vem de longe? A quem recorrereis para obter socorro e onde deixareis a vossa glória?

Portanto, o homem somente pode criar leis que sejam corretas DERIVAÇÕES e IMPLICAÇÕES da lei divina. Quando o homem acrescenta leis segundo seu bel-prazer, a liberdade humana é reprimida e aqueles que foram criados à imagem de Deus são oprimidos. Quando o homem cria leis contrárias à Palavra de Deus, então este homem se torna juiz do próximo e transgressor da lei divina (Tg.4.12). Por isso, Cristo exortou os líderes religiosos de sua geração: “Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? [...] invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição. Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” (Mt.15.3,6-8). Os rabinos criaram novas leis aparentes que estavam ferindo a essência da lei de Deus.


Sendo assim, Israel deveria ser luz para todas as nações, a fim de que elas tivessem o conhecimento da lei do Senhor, e pudessem confeccionar suas leis como derivações e implicações da Palavra divina. Essa seria a única forma de conduzir os povos em acordo com a vontade do Criador, proporcionando a todas as pessoas a possibilidade de desfrutarem da verdadeira liberdade para fazer o que é justo e bom e serem julgadas somente pela Palavra de Criador. Com isso, as nações veriam uma redução no número de leis desnecessárias e parciais; a sociedade presenciaria uma correta defesa da igualdade ontológica e a valorização dos papeis sociais de cada indivíduo (homem e mulher); o Estado seria reduzido ao necessário, valorizando a família como núcleo fundamental da nação e instrumento primordial para o desenvolvimento de cada indivíduo. Assim, nações dirigidas pela Palavra de Deus veriam o bem-estar geral de uma sociedade regida com justiça e retidão. E todos estariam preparados para o grande dia de encontro com Deus.


Contudo, não somente o mundo precisa estar em acordo com a lei do Senhor, como, também, e principalmente, a igreja de Cristo deve ser regida pela Palavra de Deus. O cristianismo evangelical vem abandonando a Palavra de Deus, pouco a pouco. Por isso, muitos cristãos têm sofrido os danos de serem julgados por leis nunca ordenadas por Deus. Tornou-se comum as denominações criarem suas próprias tradições sobre usos e costumes, pelas quais escravizam e condenam seu próprio povo: uso ou não de roupas, bijuterias, barba, cabelo, bebidas, comidas etc. Também o simples governo eclesiástico ordenado por Deus foi substituído por complexos livros de leis que terminam por servir de arma aos mais astutos, instrumentos para a manipulação do próximo. E são essas leis e tradições que mais servem para julgar e condenar cristãos dentro das denominações. Assim, mais uma vez a liberdade que nos foi outorgada por Cristo é acorrentada, e homens se tornam escravos da maldade de pecadores. 


Para darmos fim ao grave problema, precisamos levantar novamente a bandeira: Sola Scriptura! Ou seja, somente a Escritura é nossa regra de fé e prática. Deus é o legislador do universo e a liberdade do homem depende do respeito a essa verdade: “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Co.3.17). Se você é pastor, atenha-se a pregar e ensinar a Palavra de Deus. Se você é deputado ou senador, reflita bastante sobre as propostas de leis, pois toda lei deve ser uma derivação ou implicação da lei divina, jamais pode ser independente ou contrária à Palavra do Senhor. Até as leis de trânsito são implicações da lei divina que, também, nos fala sobre a responsabilidade a respeito da segurança: “Quando edificares uma casa nova, far-lhe-ás, no terraço, um parapeito, para que nela não ponhas culpa de sangue, se alguém de algum modo cair dela.” (Dt.22.8).


Não somos proibidos de julgar, como alguns pensam. Mas, todo juízo que emitirmos deve ser de acordo com a Palavra de Deus (Jo.7.24), não através do capricho dos homens, como fizeram os fariseus com Jesus. Liberdade é poder viver para a glória de Deus sem ser perseguido por isso! Liberdade é desfrutar da vida para a glória de Deus sem ser julgado por isso! Liberdade é poder obedecer a Palavra de Deus sem ter alguém tentando impedir isso! Liberdade é poder aproveitar de tudo o que Deus criou e nos deu sem ter alguém nos oprimindo! Porque quando homens nos julgam por suas próprias leis, somos impedidos de viver pela lei do Senhor. Então, para que sejamos verdadeiramente livres, a Palavra de Deus deve ser nossa única regra de fé e prática.


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