Desde 1881, a teoria de Westcott e Hort vem sendo utilizada largamente,
norteando quase todos os trabalhos na área da crítica textual do Novo
Testamento. As duas obras mais conhecidas, Nestlé-Aland 27ª Edição e United
Bible Societies (UBS) 4ª Edição, são resultados da aplicação dos pressupostos e
postulados de Westcott e Hort na análise dos manuscritos gregos do Novo
Testamento. Nestes 130 anos, desde a publicação da obra de Westcott e Hort, The
New Testament in the Original Greek, o texto eclético tem desfrutado de
significativa hegemonia nos estudos do Novo Testamento. Neste ponto, a crítica
textual não parece ter sofrido mudanças significativas, apesar dos muitos
manuscritos encontrados e os esforços que defensores do texto Majoritário
tenham dispensado para mostrar ao público estudioso do Novo Testamento Grego os
sérios problemas existentes na teoria de Westcott e Hort. Como Wallace disse,
nestes últimos 125 anos nunca se realizou o primeiro passo da crítica textual
proferido por Hort: “O conhecimento de documentos deve preceder o julgamento
final sobre as leituras”.
Enquanto alguns manifestos eram realizados entre os adeptos do texto
Majoritário e Eclético, surgiu no final do século XX outros oponentes que
despertaram a crítica textual. Os pressupostos e postulados céticos postos na
mesa por Eldon Epp, David Parker e Bart Ehrman conduziram pessoas ao ceticismo,
pela falta de preparo de muitos críticos textuais do Novo Testamento. De acordo com Wallace, o
pensamento pós-moderno alterou a crítica do Novo Testamento ao reavaliar a
definição do objeto da disciplina e
relativizar toda verdade. Os críticos textuais do Novo Testamento foram
obrigados a reagir aos ataques de céticos pós-modernos que agora estavam pondo
em dúvida a autenticidade dos textos do Novo Testamento em circulação.
Conforme a crítica pós-moderna a preocupação do crítico textual não é
mais descobrir o conteúdo dos autógrafos, mas a história da tradição cristã que
está revelada nas variantes que não estão ali por acaso, pois escribas a
colocaram propositadamente. A crítica, assim, não está preocupada nem com o
autor original nem com o conteúdo escrito por esse autor. Conforme Parker, o
Espírito ainda está trabalhando nas comunidades cristãs por meio dessas
mudanças, e novas compreensões, afinal Escritura e tradição não são coisas
distintas. Sua concepção de Escritura é basicamente neo-ortodoxa, para não
dizer liberal, por isso, na concepção da crítica pós-moderna, o crítico não
deve se preocupar com os autógrafos, pois o Espírito fala ainda hoje
deliberadamente dentro da comunidade cristã.
Outro postulado do criticismo pós-moderno é a aplicação da relativização
do saber no estudo das variantes. A pós-modernidade relativiza todo
conhecimento, valorizando todos os pontos de vista como igualmente válidos.
Eles afirmam que se não há 100 % de certeza, então não há certeza nenhuma e
tratam os textos do Novo Testamento como duvidosos. Contudo, não praticam a mesma
dúvida com muitos textos extra-bíblicos que são citados sem qualquer ressalva.
O Novo Testamento possui 1000 vezes mais cópias e as mais antigas se distanciam
apenas algumas décadas da conclusão do Novo Testamento. Enquanto isso, textos
extra-biblicos possuem pequena quantidade de testemunhas e há distância
significativa entre os autógrafos e as primeiras cópias conhecidas. Os
critérios não são aplicados indiscriminadamente, pois se o fossem não teríamos
história, pois esta é reconstruída a partir de textos antigos que sobreviveram
em cópias. O fato positivo despertado por esse postulado, foi a busca por
respostas objetivas para todas as questões levantadas pela crítica textual.
Além disso, viu-se que os pressupostos teológicos são fundamentais no exercício
crítico textual, pois norteia a direção do crítico.
Uma contribuição que a crítica pós-moderna trouxe para a crítica
textual do Novo Testamento foi o espírito cooperativo. Enquanto a modernidade
valorizava o indivíduo e sua razão, a pós-modernidade investiu no trabalho
cooperativo. O século passado testemunhou grandes empreitadas com muitos
críticos envolvidos trabalhando num só texto. Críticos de diversos métodos e
pressupostos trabalhando juntos para apresentar um texto crítico do Novo
Testamento. O início do século XXI testemunhou o fim de diversas disputas e o
início da paz e aproximação entre os grupos em prol de um objetivo comum,
inclusive entre evangélicos e católicos. Críticos de diferentes métodos e
concepções foram unidos como uma grande comunidade com um propósito em comum.
Institutos juntaram esforços para reproduzir imagens de alta qualidade dos
manuscritos e torná-los acessíveis. Esse foi um grande avanço que tornou
possível o acesso aos textos primários, a fim de que estudiosos do mundo todo
possam realizar o trabalho crítico.
O movimento pós-moderno da crítica textual contribuiu, despertando
críticos evangélicos para a necessidade de trabalhar melhor o texto, no
propósito de se conhecer realmente os documentos por meio de novas descobertas
que têm acontecido todos os anos. Hoje os estudiosos estão mais atentos às
novas descobertas que precisam ser analisadas e catalogadas junto aos demais
manuscritos. Esses manuscritos estão se tornando acessíveis por meio da
divulgação em fotocópias digitais, como já foi dito acima. Os manuscritos ainda estão
sendo agrupados por família, pois apenas parte dos manuscritos do Novo Testamento foram devidamente categorizados. Após agrupados, os manuscritos
precisam ser analisados para se conhecer os hábitos dos escribas que os
copiaram. Infelizmente, há uma grande carência de estudiosos evangélicos para o
trabalho de comparação e análise de manuscritos.
No Brasil, pouco é conhecido sobre os avanços que a manuscritologia do
Novo Testamento tem feito. O que se tem de mais atual em circulação no Brasil
são as edições críticas do Novo Testamento Grego (NA 27ªEd. e UBS 4ªEd.),
usadas conforme aulas de exegese ensinadas em seminário qual folclore
brasileiro que nunca muda. Enquanto a edição de 1999, reimpressa em 2011 da
Crítica Textual do Novo Testamento de Wilson Paroschi anuncia aproximadamente
5500 manuscritos conhecidos, um artigo de Daniel Wallace publicado em 2009 já
traz a informação de que são conhecidos 5760 manuscritos do Novo Testamento.
Essa simples comparação demonstra que a crítica textual continua em andamento e
os trabalhos não possuem data certa para terminar. Mas, pouco se sabe desse
andamento entre os estudiosos brasileiros que pensam que tudo já foi feito na
área. Contudo, conforme Wallace afirmou, há muito trabalho a ser feito, mas
poucos são os críticos textuais evangélicos realizando esse importante trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANGLADA, Paulo R. B. A teoria de Westcott e Hort e o texto grego do Novo Testamento: um
ensaio em manuscritologia Bíblica. São Paulo: Fides Reformata 1/2, 1996
BENÍCIO, Paulo José. Manuscritos Gregos na tradição textual do Novo Testamento. Em: http://www.monergismo.com/textos/idiomas/Manuscritos_gregos_tradicao_benicio.pdf.Acesso
em 12 de junho de 2014, às 17h40min.
__________________. O texto Bizantino na tradição manuscrita do Novo Testamento grego. São Paulo: Fides Reformata VIII, nº
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EJENOBO,
David T. Textual Criticism: Its Value to
New Testament Studies. Asia Journal Of Theology 22, nº 1, April 2008, p.
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HOLMES,
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PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999
PICKERING, Wilbur Norman. Qual o texto original do Novo Testamento. Disponível em: http://www.luz.eti.br/resources/wilburnt.pdf.
Acesso em 12 de junho de 2014,
às
WALLACE,
Daniel B. Challenges in New Testament
textual criticism for the twenty-first century. Journal of The Evangelical
Theological Society, 52, nº. 1, 2009, p. 79-100.
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