“Cuidado que ninguém vos venha a
enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens,
conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo.” (Cl.2.8)
Se você me perguntasse qual a razão
de adorar a Deus, lhe responderia com o Salmo 100, porque “o SENHOR é Deus; foi
Ele quem nos fez, e dEle somos” (Sl.100.3). Se você me perguntasse qual a razão de não
matar ou roubar, lhe responderia com Êxodo 20 e Mateus 5 onde Deus ordena seus
mandamentos para todos os homens. Se você me perguntasse sobre a razão de crer
em Cristo, lhe responderia com o livro de Romanos, demonstrando, assim, que sem
Cristo não há remissão de pecados. E se você me perguntasse sobre a razão de
celebrarmos a Ceia do Senhor, lhe responderia com Mateus 26.26-30 e 1 Coríntios
11.23-34, mostrando por meio desses, e outros, textos que é uma ordenança do
Senhor. Desta forma, todas as práticas da igreja possuem na Palavra de Deus seu
fundamento, revelado de forma clara ao povo de Deus. Porém, se eu perguntasse
para você sobre a razão pela qual comemora o Natal, quais seriam sua base e resposta?
Filmes, propagandas e mensagens
conclamam todos a sorrir, pois Natal é tempo de falar coisas bonitas, trocar
presentes, festejar com os amigos. Essa é a mensagem que todas as mídias anunciam,
insistentemente, às pessoas, motivando-as, também, a gastarem o 13º salário em compras desnecessárias. Então, motiva-se
que por um dia, as pessoas assumam o “espírito natalino”, fazendo e dizendo
coisas boas para desencargo da consciência de quem falou e fez o que era mau o
ano inteiro. Mas, como é possível se contemplar a beleza da vida sem retirar
dela a sujeira que a deixa feia? Como viver o amor fraternal sem remover a
hipocrisia e a dureza do coração pecador? Afinal, de que adianta enfeitar
prédios se o coração das pessoas está sujo, vestir lindas roupas se a vida está
submersa em pecados, “semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se
mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia” (Mt.23.27) e fazer bonitas programações se nem mesmo Deus suporta
mais o povo, dizendo: “tomara houvesse entre vós quem feche as portas”
(Ml.1.10).
Você já percebeu que não se prega
sobre o pecado nos dias que circundam o Natal? Já é difícil os pregadores
apontarem os pecados das pessoas no dia a dia quanto mais em dias de festa,
quando todo mundo quer apenas trocar presentes, realizar banquetes e sorrir
para todo mundo, jogando as sujeiras do velho ano para debaixo do tapete. Falar
sobre pecado é chato, coisa de pastor ranzinza, e logo estará se tornando
crime. A moda é falar de autoestima, ensinando as pessoas a pensar positivo,
fingindo que tudo está bem. Afinal, o homem é apenas fruto do meio e seus
pecados são justificados não por Cristo, mas por qualquer trauma que ocorreu na
infância, diz o mundo. Por isso, as pessoas querem mensagens bem ornamentadas,
bonitas e confortáveis para massagearem o ego dos pecadores de mente cada vez
mais cauterizada, desprezando, assim, o fato de que foi exatamente para retirar
o poder do pecado sobre o pecador que Cristo foi enviado ao mundo.
Que espécie de festa é o Natal? De
um lado está o famoso papai Noel de outro uma manjedoura. Em pleno verão, a
mais de 30º C, os shoppings são enfeitados com pinheiros e neve, com um papai
Noel todo agasalhado em dias de sol escaldante. A TV fala de espírito Natalino,
mas transmite todo tipo de programação anticristã o ano todo. As pessoas falam
de nova vida, mas só as vemos de roupas novas; falam de buscar Deus, mas correm
para as lojas e não para as Escrituras onde de fato podem encontrá-lo; falam de
amor e preparam bonitas ceias, mas viram as costas para os famintos nas ruas;
falam de Natal sem fome, mas deixam crianças o resto do ano sem comer. Para
muitos não comemorar o Natal é um sacrilégio, mas desprezam a lei do Senhor o
ano inteiro. O mundo fala de vida, mas está morto em seus delitos e pecados
(Ef.2.1). E, assim, o evangelicalismo está se tornando mera autoajuda para
pessoas que nem mesmo sabem que precisam ser ajudadas. Parece-me, então, que
não somente a data do Natal é fictícia, mas a vida de muitos cristãos e os
sentimentos daqueles que circundam a data.
Por que, então, é preciso comemorar
o Natal? Não há nas Escrituras uma só referência a esta data. A data do
nascimento de Jesus é completamente desconhecida e nem mesmo sua morte e
ressurreição, que ocorreram na páscoa (data certa), foram comemoradas pelos
discípulos, nos dias do primeiro século da era cristã. O livro de Atos dos
apóstolos não registra a celebração de nenhuma festa judaica nem muito menos
pagã por parte da igreja neotestamentária, pois Cristo havia cumprido todas as
festas veterotestamentárias e os gentios convertidos deveriam se afastar de
qualquer culto pagão (At.15.20). Em nenhuma das cartas às igrejas aparece
qualquer ordenança a celebrações de festas, nem mesmo a páscoa, mas, sim, se
ensina a não praticá-las (Cl.2.16). A única celebração ensinada na Bíblia é o
culto ao Senhor onde ocorria, também, a Ceia ordenada por Jesus, sacramento que
faz referência a sua morte e ressurreição e que deve acompanhar a vida da
igreja durante o ano inteiro, a páscoa cristã (1Co.11.23-34).
Mas, como surgiu o Natal? O Natal
“cristão” foi uma estratégia evangelística da igreja após sua ascensão e teve
sua utilidade na época. Os cristãos fizeram a substituição de uma festa pagã
romana celebrada no dia 25 de dezembro onde se comemorava o nascimento do
deus-sol, ou seja, o dia mais curto do ano (solstício de inverno no hemisfério
norte). A partir do século IV, as festas pagãs receberam novas roupagens e o
dia em que se comemorava o deus-sol passou a ser designado o dia do nascimento
de Jesus, fazendo referência ao adjetivo que o Messias recebeu do profeta
Malaquias: “sol da justiça” (Ml.4.2). No entanto, o que fora uma
estratégia evangelística tornou-se uma tradição e com o passar do tempo foi
sacramentalizada pelo cristianismo substituindo o simples e puro ensinamento da
Escritura sobre o culto ao Senhor.
Portanto, o Natal não é uma festa bíblico-cristã
e possui alguns problemas sérios ao ser celebrado pelo cristianismo. O primeiro
problema é a alimentação de uma mentira, a ideia de que Jesus nasceu nesse dia.
O cristão deve falar só a verdade (Mt.5.37) e já que não sabemos quando Jesus
nasceu, pois Deus não nos revelou isso, então não devemos criar datas fictícias
para celebrar seu nascimento. Deus quer que nos contentemos com sua revelação,
de forma que ela nos baste para reger toda nossa vida (Gn.3.5-6; Dt.29.29). Lembremos
que um dos principais erros do cristianismo do final da idade média foi não
contentar-se com a Palavra de Deus (infelizmente, estamos cometendo os mesmos
erros com outras aparências). Em segundo lugar, a criação de festa religiosa
extra bíblica demonstra o não contentamento com o culto puro e simples ordenado
por Deus (Jo.4.22-24). O terceiro problema se revela na sacramentalização da
festa. Os evangélicos reclamam que católicos criaram festas religiosas não
ensinadas nas Escrituras, mas quando o pastor diz que não será comemorado o
Natal, pois não é uma festa cristã, tem gente que até adoece e pensa que a
liderança está cometendo um pecado contra Deus. A tradição natalina, portanto,
já ocupou lugar nos altares idólatras do coração humano e, ainda, tem sido
pedra de tropeço ao acomodar as pessoas a um dia de benfeitorias, desviando,
assim, os cristãos de uma vida cristã autêntica, pura, simples e cheia de amor
todos os dias, não apenas um dia no ano.
Devemos lembrar ainda que para
falar sobre Jesus é preciso, primeiro, falar sobre o pecado. A Palavra de Deus
não começa com o nascimento de Jesus, mas com a criação perfeita que peca
contra Deus carecendo, então, ser restaurada (Gn.1-3). Foi exatamente o que o
apóstolo Paulo fez em sua exposição do projeto redentor de Deus na carta aos
Romanos (Rm.1.18). Quando não há problema não há necessidade de solução. Desta
forma, Natal sem calvário é apenas sentimentalismo humanista hipócrita, não tem
valor algum e ainda cauteriza as mentes, fazendo-as ignorar os pecados, razão
pela qual Cristo veio morrer. E, sem confissão de pecados não há perdão. A
vinda de Jesus teve propósito específico: morrer por pecadores. Ele não veio
ensinar um estilo de vida bonito para pessoas nas quais ele acreditava serem
essencialmente boas. Esta é a mensagem que o mundo tem pregado, destruindo a
verdade de que todos são maus e a única esperança para uma vida melhor está na
graça e misericórdia divinas que pelo Espírito Santo podem operar eficazmente
no pecador que ouve a Palavra de Deus.
A data do Natal é simplesmente fictícia e sua festa não foi
instituída pela Escritura e, portanto, não pode ser ensinada, tornando-a uma
festa religiosa cristã. Além disso, se um dia a troca do Natal pagão pelo Natal
cristão trouxe algum benefício, hoje em dia a data de Natal tem pouca, ou mesmo
nenhuma, relevância, tendo em vista a presença marcante do papai Noel e o
espírito consumista. Desta forma, se querem falar de Natal, ou seja, do
nascimento do Salvador, devem fazê-lo todos os dias do ano, sempre pregando
sobre o propósito para o qual Ele nasceu: Salvar o pecador do pecado. Sem o
pecado não haveria necessidade de Cristo nascer; sem reconhecimento dos
pecados, arrependimento, confissão e mudança de vida, o nascimento do Salvador
não tem efeito na vida do homem, pois não há perdão e vida eterna para quem não
reconhece e se arrepende de seus pecados. Por conseguinte, o cristão deve ser
mais criterioso antes de assumir tradições e mais zeloso com o simples e puro
ensinamento da Escritura, para que o mundo não o confunda com ensinos
aparentemente bonitos (Ef.4.14; 2Tm.3.5), mas que não foram ordenados pelo Senhor.
Grande Alexandre,
ResponderExcluirBoa reflexão. Corajosa, verdadeira e necessária!