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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

As principais linhas de interpretação de Apocalipse

Bem-aventurados aquele que lê e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.” (Ap.1.3)

Durante os dois mil anos do cristianismo, o livro de Apocalipse foi interpretado de formas diferentes. O resultado das diversas interpretações pode ser visto nas quatro correntes principais adotadas hoje pelos grandes estudiosos: 1) preterista; 2) historicista; 3) futurista; 4) idealista. Estes métodos de interpretação são o resultado, principalmente, de duas linhas hermenêuticas apocalípticas que perduram pelos séculos, olhando para o livro de Apocalipse de formas bastante distintas: 1) A interpretação teológico-espiritual com ênfase na moralidade e espiritualidade. Para esta linha hermenêutica os elementos históricos são secundários, tendo em vista a dificuldade encontrada para discernir entre o simbólico e o literal. Ainda que não tenha sido criada por Santo Agostinho, é associada a ele por ter sido um dos hábeis expositores da mesma. 2) A segunda linha hermenêutica lê os elementos apocalípticos como eventos literais que fazem parte da história humana. A interpretação teológico-histórica-profética que surge e ressurge em períodos de tribulação e descrédito da igreja, procura associar os textos com os fatos históricos, apontando para a vitória que Cristo trará para a igreja, a fim de trazer conforto e esperança para os cristãos de cada geração. Contudo, em dias recentes, surgiu uma terceira abordagem influenciada pelo racionalismo iluminista: a interpretação crítica. Essa linha de interpretação é caráter nocivo para igreja, pois seu pressuposto mais básico é a incredulidade. Seus adeptos esquartejaram o livro de apocalipse, reduzindo-o a uma colcha de retalhos mal costurada. Sem qualquer propósito de descobrir, por meio da análise literária a qual se propunham, o sentido do texto, os estudiosos duvidam da originalidade do livro.
As quatro principais correntes de interpretação de Apocalipse são:

1) Preterista
A data da escrita do livro é fundamental para a abordagem preterista. Conforme esta linha de interpretação, Apocalipse foi escrito durante o governo de Nero, discordando de Ireneu que afirmou que João escreveu no período do imperador Domiciano (década de 90 d.C.). Conforme os preteristas, Apocalipse foi escrito por volta do ano de 65 d.C. e retrata os problemas presentes naqueles dias, se referindo simbolicamente aos eventos históricos que estavam acontecendo e os que aconteceriam até o fim do primeiro século. O livro, portanto, é direcionado quase que exclusivamente para a igreja contemporânea ao apóstolo João e tem seu cumprimento já realizado. Alguns, contudo, consideram que os eventos já realizados para os quais o livro apontam são também símbolo dos anos que se seguiriam.

2) Historicista
A visão histórica de Apocalipse procura identificar os elementos presentes no livro com os fatos históricos passados e presentes de cada geração. Esta linha de interpretação de Apocalipse mudou bastante no decurso da história da igreja e diversos personagens históricos foram associados aos personagens do livro (Nero, imperadores Romanos, papas, reis, Hitler etc). Uma vez que os fatos históricos se assemelhavam aos elementos simbólicos do livro, diversos estudiosos durante a história da igreja se sentiram impulsionados a associá-los com os registros de Apocalipse, trazendo conforto e esperança para a igreja de sua geração. Dentro dessa visão, proponho uma leitura pós-milenista historicista de Apocalipse que se encontra em outro artigo, disponível no link abaixo:
http://voxscripturae.blogspot.com.br/2016/12/uma-leitura-pos-milenista-historicista.html

3) Futurista
Enquanto a corrente histórica procura associar os eventos históricos aos elementos simbólicos presentes no livro de Apocalipse, a corrente futurista considera que todos (ou quase todos) os eventos começarão a acontecer um pouco antes da vida de Jesus, tendo sequencia durante sua presença na terra, e se encerrarão após a volta de Jesus. Desta forma, Apocalipse não faz menção de nada (ou quase nada) acerca dos dois mil anos de história da era cristã vividos até agora. Para aqueles que leem o livro numa perspectiva futurista, os eventos sempre são futuros e a igreja é incentivada a perseverar olhando sempre para o futuro, a segunda vinda de Cristo. O consolo da igreja está na vitória final de Cristo que trará novo céu e nova terra.

4) Idealista
A corrente idealista vê no livro de Apocalipse o propósito de confortar os cristãos de todas as gerações, mostrando a vitória de Cristo e seu povo sobre Satanás e seus seguidores. Apocalipse não é visto como um livro profético que aponta para eventos futuros nem um livro de história que aponta para os fatos do passado, mas um livro que conforta o cristão motivando-o a perseverar, trazendo-lhe esperança em Cristo, seja qual for a sua geração. Os elementos presente no livro são lidos numa perspectiva simbólica de forma bastante generalizada.

Além das correntes de interpretação do livro de Apocalipse, ainda há três linhas de interpretação do milênio de Apocalipse, presente no capítulo 20: 1) premilenismo; 2) amilenismo; 3) posmilenismo. Essas três linhas seguem os princípios estabelecidos durante a história da interpretação do Apocalipse: a hermenêutica espiritual e a hermenêutica literal, ambas mencionadas acima.

1) Premilenismo
O milênio é visto como um período literal quando os cristãos reinarão com Cristo por ocasião de sua vinda. Ao final do período ocorrerá rebelião, Satanás será solto e a vitória final de Cristo ocorrerá. O termo indica a vinda de Cristo como anterior ao milênio, quando haverá a ressurreição dos homens para que Cristo reine sobre todos.

2) Amilenismo
Conforme o Amilenismo, o milênio de Apocalipse capítulo 20 não é literal, mas simbólico e se refere ao período em que os cristãos estão vivendo o Reino de Deus, desde sua implantação por Jesus até sua segunda vinda. O Reino, portanto, é espiritual, conforme é abordado nos livros do Novo Testamento. Jesus subiu aos céus como Rei deste Reino e sobre ele está reinando até que o entregue ao Pai. Isso ocorrerá por ocasião da segunda vinda de Jesus quando também os mortos ressuscitarão e os cristãos irão para o novo céu e nova terra onde Cristo reinará para sempre com seu povo.

3) Posmilenismo
O Posmilenismo também interpreta a milênio como literal, ainda que alguns entendam que representa um longo tempo. Contudo, o período ocorrerá com a crescente evangelização e a conversão das nações. Então, haverá um período de glória e paz na terra por mil anos (ou por um longo período) e que, ao final deste período, Jesus virá para estabelecer seu reinado eterno num novo céu e nova terra sobre todos os que creram. Diferente do premilenismo, Cristo não virá antes do início do milênio, mas ao término dele. Alguns ainda interpretam que após o milênio haverá um período de breve apostasia antes que Jesus triunfe sobre Satanás, e traga o novo céu e a nova terra.


As inúmeras correntes de interpretação demonstram as dificuldades que o livro de Apocalipse apresenta para o estudioso. Contudo, isto não tem reduzido o número de estudos realizados neste maravilhoso livro, antes tem despertado o interesse de muitos em procurar trazer respostas para os dilemas encontrados na obra. Ao mesmo tempo, a história da interpretação do livro de Apocalipse convida os novos intérpretes à humilde aproximação e cuidadosa análise, considerando tudo o que já fora dito sobre esse enigmático livro.

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