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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Verdadeira Adoração


Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo.4.24)

Desde o século quatorze, o homem vem afirmando ser a “medida de todas as coisas”. Ou seja, Deus é visto como expressão fictícia de uma cultura primitiva e o mundo proclama sua independência e capacidade para se “virar” sozinho. Um mundo cada vez mais perdido e destruído é conseqüência da escolha humana pela autonomia na gestão da vida. Até mesmo aqueles que crêem no Deus Criador e Senhor do universo querem que Deus viva em função deles, satisfazendo suas vontades como um mordomo. E, como uma criança que faz de tudo para chamar a atenção dos pais, os crentes pós-modernos agem como se Deus tivesse que mover o mundo em favor deles.

Você não é o centro do universo! O fato de “todas as coisas colaborarem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8.28), não torna o crente o centro do universo, como se tudo trabalhasse por ele. Não é em vão que a ordem correta desse versículo é: “aos que amam a Deus tudo coopera para o bem” (Rm.8.28a), pois, a idéia principal é o amor a Deus. Deus deve ser amado, e esta deve ser a preocupação do cristão. Não podemos nos colocar no centro do universo, como se tudo girasse em torno de nós. Na verdade todas as coisas foram feitas por Cristo e para Cristo e por isso o universo gira em torno dEle, “porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Cl.1.19); “segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef.1.9-10).

Quando se diz que tudo gira em torno de Cristo, isto inclui a tua vida. Os estudos, trabalho, propósitos, pensamentos, sentimentos, escolhas, palavras, ações, relacionamentos, e ainda tudo quanto tens, existe “por meio dEle, e para Ele” (Rm.11.36). A vida do cristão deve girar em torno da pessoa de Jesus. Cristo é nossa fonte de vida e mais ainda é caminho para a vida eterna. Se você não viver em função dEle é porque a tua vida está fora desse sistema solar chamado Reino de Deus, onde o Sol é o Senhor Jesus.

Antes do diálogo de Jesus com a mulher samaritana em João 4.1-30, o evangelista traz, em seu livro, a narrativa em que Cristo conversa com Nicodemos, um mestre da lei, sobre o Reino de Deus. Essa narrativa fornece luz ao diálogo de Jesus sobre o verdadeiro culto a Deus. Nicodemus estava interessado no Reino de Deus anunciado por Jesus e “a isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo.3.1-6).

Os judeus estavam esperando a vinda do Reino de Deus, prometido pelos profetas (Is.60; Dn.2.34,35). E, nessa expectativa, algumas especulações surgiram entre as seitas judaicas mais conhecidas: fariseus, saduceus, zelotes e essênios, causando certo alvoroço entre os cidadãos da Judéia e Galiléia. A chegada de Jesus, com sua pregação e as maravilhas que fazia, chama a atenção de todos, surgindo entre o povo a esperança da chegada do Redentor e libertação definitiva dos Judeus. Seria Jesus de fato o filho de Davi que reinaria sobre Judá, a fim de libertá-la de Roma? Nicodemus não tinha respostas, mas reconhecia que algo de extraordinário estava acontecendo entre eles. Jesus, então, lhe fala sobre a conversão, a única forma de se entrar no Reino de Deus: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo.3.3).

Nicodemos era líder no Judaísmo, mas ainda não era um homem segundo o coração de Deus. Era preciso nascer de novo, nascer pelo poder da Palavra e do Espírito. Sem a regeneração, troca de coração e recebimento do Espírito não há como entrar no Reino. Era preciso receber um “coração novo” e um “espírito novo”. Deus retiraria “o coração de pedra” para lhes dá “coração de carne”. Somente assim eles seriam capazes de andar, guardar e observar os estatutos de Deus (Ez.36.26,27).

Sem que Nicodemos compreendesse, Jesus estava falando da dimensão espiritual do Reino, “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm.14.17). O Reino já estava entre eles, vindo com Cristo em sua manifestação de poder e graça. Mas, era preciso nascer espiritualmente para fazer parte e desfrutar das bem-aventuranças desse maravilhoso Reino celeste.

Contudo, o que este diálogo tem haver com a adoração? O evangelista nos ensina que é preciso ser crente para ser um verdadeiro adorador. Os verdadeiros adoradores são aqueles que nasceram da água e do Espírito. Ou, como Jesus diz à mulher Samaritana: “em ESPÍRITO e em VERDADE” (Jo.4.23). Os verdadeiros adoradores foram alcançados e vivem pela Palavra e Espírito de Deus. Para Nicodemus a Palavra e o Espírito davam ingresso no Reino de Deus. Para a mulher samaritana a Palavra e o Espírito tornam o homem em verdadeiro adorador.

Cônscios, disso, podemos dizer que a adoração procede de corações convertidos. Não é a estrutura do culto quem define sua aceitação, mas a presença do “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo.1.29). É preciso ter um novo coração para crer na Palavra, um novo Espírito para amar a Deus. Deus somente recebe a adoração daqueles que o adoram em Espírito e em Verdade, ou seja, daqueles que nasceram do Espírito e da Palavra. Davi entende isto quando clama a Deus dizendo: “Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores. Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl.51.15-19). Não seria suficiente o sacrifício, era necessário um coração convertido.

Em segundo lugar, podemos dizer que a adoração é expressão da presença de Deus. Tanto Isaías quanto Apocalipse revelam a presença de Deus na adoração (Is.6.2-4; Ap.4.8-11). Mas, é nos evangelhos onde fica mais evidente a presença de Deus no meio da congregação, “porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt.18.20). O Culto manifesta o Reino de Deus presente entre nós e proclama a gloriosa vinda da plenitude deste Reino, assim como “anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Co.11.26) ao realizar a Ceia do Senhor.

E, em terceiro lugar, a adoração proclama as virtudes de Deus. É por esta razão que a pregação ocupa lugar central na liturgia, pois proclama “as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe.2.9). Na adoração a Palavra de Deus traz instruções para a igreja, ensinando-a a fazer a vontade do Senhor, fortalecendo-a na esperança da volta de seu Senhor e Salvador. Na pregação da palavra os perdidos são confrontados em seus pecados e chamados ao arrependimento, proclamando a necessidade de conversão aos perdidos pecadores. E para executar essa sublime tarefa, Deus “mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” (Ef.4.11-14)

A Verdadeira Adoração agrada o coração de Deus e não o do perdido pecador. A verdadeira adoração não promove entretenimento para o coração enganoso, mas santificação para o pecador arrependido. A verdadeira adoração proclama Deus como Ele é, revelando Sua Santa presença entre Seu povo e Sua misericórdia para com os pecadores quebrantados, transformando-os em verdadeiros adoradores através da conversão.

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