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domingo, 9 de novembro de 2014

A cura de um cego de nascença

Qual o propósito de Jesus em curar um cego de nascença que encontrou no caminho, conforme registra o capítulo nove do evangelho de João? Teria sido a sua compaixão pelas pessoas doentes ou há mais que sentimentos neste sinal que Cristo operou? Qual a relação entre o discurso de Jesus sobre a luz do mundo e o milagre que Ele operara naquele cego? Qual a ligação entre os termos traduzidos por “ver” e a fé? Haveria alguma relação teológica entre o diálogo de Jesus com Nicodemos, no capítulo 3, e o diálogo de Cristo com o ex-cego no capítulo 9, versículos 35 a 38?
Certa vez, tendo ouvido notícias sobre Jesus, o profeta João Batista enviou dois de seus discípulos para perguntarem a Cristo: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Lc.7.19//Mt.11.3). Antes de responder aos discípulos de João Batista, “naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos” (Lc.7.21). Diversas pessoas foram curadas de diferentes doenças e vários cegos tiveram a vista recuperada, mas nenhuma palavra foi dita. O gesto de Jesus era suficiente para confirmar o cumprimento da profecia anunciada pelo profeta Isaías: “Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo.” (Is.35.5-6). Assim, os discípulos de João Batista entenderiam que a resposta de Jesus era: Sim, Eu Sou o Messias prometido e as minhas obras testificam de mim. Os milagres que Jesus realizava eram mais que expressões de sua misericórdia, eram sinais que apontavam para a chegada do Reino de Deus e para a vinda do Messias, que era aquele que estava no meio da multidão, “tabernaculando” (Jo.1.14), ou seja, habitando entre o povo de Israel.
Contudo, no evangelho de João os discursos e diálogos tomam conta da maior parte do livro, trazendo luz sobre os poucos sinais registrados (sete apenas), a fim de que sejam compreendidos. Há seis referências a curas de diferentes cegos nos evangelhos sinóticos (Mt.9.27; 12.22; 15.30; 21.14; Mc.8.22; Mc.10.46//Mt.20.30), mas apenas uma no evangelho de João (Jo.9.1), contudo essa única referência está adornada de discussões que dão significado ao gesto de Cristo. Em João, conhecemos que os milagres eram sinais que visavam apontar para a Messianidade de Jesus, a fim de que as pessoas cressem nEle: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (Jo.20.30-31). Cada um dos sete sinais, dentre os muitos que Jesus realizou, registrados no evangelho de João, é rodeado com discursos que trazem beleza à manifestação da glória de Deus por meio dos milagres. A série tem início com a transformação da água em vinho (Jo.2.1-12), apontando para o advento do Reino de Deus em abundante alegria, conforme anunciado pelo profeta (Am.9.13-15) e termina com o fantástico sinal da Ressurreição de Lázaro, anunciando que Cristo é o doador da Vida, conforme as Palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente.” (Jo.11.1-46).
O único registro, no evangelho de João, da cura de um cego, ocorre na terceira ida de Cristo para a Judéia, por ocasião da festa dos Tabernáculos (Jo.7.2,8,10). E, diferente dos evangelhos sinóticos, em torno desse milagre há uma série de diálogos relacionados que interagem intimamente com o sinal manifesto, trazendo clareza para que se compreenda o propósito para o qual se realizou tamanha maravilha diante das multidões. Todavia, o prodígio operado por Jesus naquele cego de nascença também trará limpidez à mensagem que Cristo intenciona deixar para seus discípulos, de forma que há uma interação entre discurso-sinal, um lançando luz sobre o outro na construção do objetivo do texto. A conclusão de toda esta interação é o texto que aqui será analisado:

Ouvindo Jesus que o tinham expulsado, encontrando-o, lhe perguntou: Crês tu no Filho de Deus?  36 Ele respondeu e disse: Quem é, Senhor, para que eu nele creia?  37 E Jesus lhe disse: Já o tens visto, e é o que fala contigo.  38 Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou.  39 Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.  40 Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele perguntaram-lhe: Acaso, também nós somos cegos?  41 Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado.[1] (Jo.9.35-41)

JESUS: A LUZ DO MUNDO AOS PECADORES
Os capítulos sete e oito são uma preparação para o sinal que Jesus realizará, curando o cego de nascença. Após a festa dos Tabernáculos (Jo.7.2,37), nas redondezas de Jerusalém, Jesus discursa para as multidões outra vez, agora dizendo: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.” (Jo.8.12). Vinte e três vezes aparece o termo luz [fôs], quase um terço de todas as ocorrências em que ele é usado no Novo Testamento (Setenta e três vezes no texto Crítico. Setenta vezes no texto Majoritário). Ainda que se encontre paralelo nas filosofias seculares quanto ao uso do termo para se referir ao conhecimento, deve-se lembrar que o contexto literário de todos os autores do Novo Testamento, bem como de Jesus, é primariamente o Antigo Testamento, citado, interpretado e usado como fundamento para a confirmação de fatos escatológicos e para o ensino das doutrinas. A razão pela qual os judeus deveriam crer na mensagem de Jesus, e posteriormente na mensagem dos apóstolos, não era por ser uma novidade atraente que satisfazia aos anseios da multidão, mas por ser coerente com toda a revelação do Antigo Testamento, razão esta porque tanto Jesus fundamentava sua mensagem nas Escrituras do Antigo Testamento (Lc.24.27; Jo.5.39), quanto os apóstolos pregavam a partir delas (At.2.14-36). Portanto, a luz à qual Cristo faz referência, e é citada diversas vezes no evangelho segundo João, não tem origem em conceito filosófico greco-romano, mas em muitas referências bíblicas tipológicas ou proféticas onde a luz [Or] é anunciada, desde a criação do universo (Gn.1.3-5//Jo.1.1-5), passando pela história de Israel iluminada pela coluna de fogo e por seus profetas que predisseram a Luz do Messias vindouro , até seu cumprimento nos dias do Novo Testamento: “O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.” (Is.9.2//Mt.4.14-16). Conforme Davidson:

Os escritores do Velho Testamento falavam muitas vezes de luz, metaforicamente, e possivelmente Jesus tinha isto em mente na ocasião. O Messias seria "luz dos gentios". A metáfora abrange as duas idéias de iluminação e testemunho. Jesus Cristo é a luz do mundo, banindo as características maléficas das trevas e testemunhando da revelação final de Deus aos homens.[2]

Era um mundo sem energia elétrica, beneficiado apenas por tochas e fogueiras que iluminavam a noite e brilhavam nas festas dando beleza estética enquanto guiavam as multidões pelos caminhos. A luz do sol acordava a vida na cidade e no campo, chamando as pessoas a aproveitarem o dia que possibilitava a dinâmica da vida, o trabalho cotidiano: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (Jo.9.4). Assim, a luz desempenha papel fundamental em oposição às trevas; a luz possibilitava o funcionamento e desenvolvimento da vida cósmica, pessoal e social. Contudo, mesmo com esses detalhes reais, Jesus faz uso de um episódio que acontecera naqueles dias diante de todos os judeus que foram à festa dos Tabernáculos. Ele se aproveita de um evento local judaico, repetido anualmente e conhecido por todos, para ilustrar a verdade sobre seu ser e propósito. Na festa dos Tabernáculos, a mais alegre das festas judaicas, um grande número de luzes era aceso, trazendo beleza à celebração e marcando com singularidade aquele momento memorável do povo de Israel que celebrava o cuidado de Deus que havia se manifestado numa coluna de nuvem e numa coluna de fogo no meio de seu povo durante a caminhada no deserto, após a saída da terra do Egito. Esse fenômeno adornado de beleza era conhecido de todo judeu que compreenderia muito bem a alusão à glória e propósito de Jesus, em chamar a si mesmo de “luz”, chamando-os a vislumbrar na mente a imagem das resplandecentes luzes acesas na festa dos Tabernáculos. Bergant aponta o importante papel da luz e da água entre os judeus:

Dois aspectos característicos dessa cerimônia de duas semanas em setembro-outubro influenciaram o texto. Diariamente, era trazida água da piscina de Siloé para o Templo, onde era derramada sobre o altar enquanto eram recitadas orações pela importantíssima chuva de inverno. E as luzes no pátio das mulheres brilhavam tão fortes que a cidade ficava iluminada por elas. A água e a luz desempenham papel de destaque nesses dois capítulos.[3]

As multidões haviam ouvido o testemunho de João Batista, apontando para Cristo, conforme o propósito de seu ministério: “Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem.” (Jo.1.7-9). Aquela geração passou três anos presenciando tudo o que Jesus realizava. Milhares receberam ensinamentos, curas, restauração social, ressurreição de mortos, mudança de vida, mas ao final muitos dos que presenciaram tudo isso, estavam entre aqueles que pediram para que Pôncio Pilatos crucificasse a Cristo (Lc.23.18-21). Eles queriam desfrutar apenas dos milagres que Jesus realizava, pois era a única coisa que seus olhos conseguiam ver. O coração do povo não estava preparado para ver a luz, a despeito de seu grande fulgor; não estavam prontos para irem a sua direção para ter nela a vida eterna. Enquanto Jesus apontava para o Pai, sendo-lhes a Luz do conhecimento de Deus, revelando em seus ensinos e obras a glória do Pai, a multidão que vivia nas trevas da ignorância, como animais queriam saciar apenas seus apetites e necessidades mais instintivos, pois não tinham ouvidos para ouvir e, por isso, não ouviam, nem tinham olhos para ver e, portanto, não compreendiam o que Deus estava fazendo em seus dias.
Porém, Cristo insiste entre o povo anunciando: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.” (Jo.8.12). Finalmente, após quatro milênios de espera, estava entre os homens a verdadeira luz que possibilita a plenitude da vida. Jesus chega iluminando a geração do primeiro século da era cristã, revelando as trevas em que viviam as multidões, enquanto dava testemunho da Verdade, guiando os pecadores até ao Pai. As luzes acesas na festa faziam referência à coluna de fogo que iluminava e guiava Israel durante a caminhada no deserto, representando a presença de Deus no meio de Seu povo: “Ao entardecer, quatro grandes candelabros dourados eram acesos para simbolizar a coluna de fogo com que Deus guiou o seu povo pelo deserto à noite (Ex.13.21). ”[4] Comparando esta singular e encantadora manifestação da graça de Deus na vida de Israel, Jesus estava querendo dizer: Eu sou a luz que guia o mundo pelo caminho do Senhor até a terra prometida.
Mas, como seguir a Cristo se eles não enxergavam a luz? E como é possível que alguém não veja a luz, que como o sol, ilumina o mundo? Somente a cegueira de nascença explica a incapacidade de ver o fulgor da luz de Cristo. As trevas na qual vivia o povo não era o estado social, econômico ou político medíocre de Israel. A Lei de Moisés praticada todos os dias, no que diz respeito à repetição contínua dos sacrifícios ordenados aos sacerdotes, não curava a cegueira deles. As trevas da multidão era a cegueira do coração que não conseguia enxergar a glória de Deus diante de seus olhos.

O USO DOS TERMOS GREGOS
Três termos são utilizados para falar acerca da capacidade de se perceber as coisas por meio da visão: Roráo, Blépo e Theáomai[5]. Destes, o que mais se destaca em uso peculiar é Theáomai. No evangelho de João as poucas vezes em que Theáomai aparece (Jo.1.14, 32, 38; 4.35; 6.5; 11.45)[6] transmitem a idéia de um olhar para algo, ou momento glorioso: a glória do Filho de Deus, a descida do Espírito Santo, a busca dos discípulos por conhecer a Cristo, a grande seara, uma grande multidão que veria um maravilhoso sinal realizado por Jesus, o espetacular milagre da ressurreição de Lázaro. No evangelho de João, Theáomai indica mais que um olhar comum, o verbo faz referência à percepção do sujeito em ver a glória do momento ou personagem. Muitos olharam para Cristo, mas poucos viram sua glória; multidões cercavam João Batista para serem batizadas, mas apenas o profeta viu a manifestação da glória de Deus na presença das três pessoas da Trindade num só lugar, momento este no qual o Espírito Santo é visto em forma de pomba; os discípulos também olharam para as multidões, mas só Jesus viu nelas uma grande seara; e, na ressurreição de Lázaro, não foram todos os judeus que viram com um olhar de fé o grandioso sinal que Jesus realizara ao ressuscitar seu amigo no quarto dia de sua morte. Desta forma, Theáomai, em todo o evangelho de João, é mais que um simples olhar, é o vislumbre da manifestação da glória de Deus e de Seu Reino.
Vê-se, então, que a fé está intimamente relacionada com o verbo ver conforme sua forma Theáomai. Sem a fé, as multidões não conseguiam ver a manifestação da glória de Deus que estava diante de seus olhos. Por falta de fé, os ouvintes, inclusive os discípulos de Cristo, não conseguiam compreender muitos dos ensinos de Jesus. A ausência de fé também é notória na cegueira dos líderes religiosos, chamados de mestres da Lei, que nem conseguiam compreender muitos dos ensinos de Cristo, como ocorre no diálogo entre Jesus e Nicodemos (Jo.3) nem conseguiam ver em Cristo, por meio dos muitos sinais que fazia, o cumprimento da Lei tão estudada por eles (Jo.2.18; 6.30). Nicodemos não conseguia ver a chegada do Reino de Deus, trazido pelo Messias, nas manifestações que Jesus realizava perante todos. No estudo do termo Theáomai é possível ver que fé e percepção visual do Reino de Deus estão intimamente relacionados no olhar a manifestação da glória de Deus.
Já os dois outros termos, Roráo e Blépo, dizem respeito ao verbo ver de um modo geral, ainda que no evangelho de João ganhem um valor especial quando relacionado com a fé. Coenen comenta os significados possíveis para esses verbos:

Em João, o verbo “ver” assume um significado especial. Gosta muito de usar horaõ para aquilo que o Filho “pré-existente” viu quando estava com o Pai (Jo.3.11,32; 6.46; 8.38) [...] João emprega os verbos de “ver” num sentido tríplice. (i) São usados em conexão com a “percepção de coisas e acontecimentos terrestres acessíveis a todos os homens (Jo.1.38,47; 9.8 de coisas, pessoas, etc.). (ii) Denotam a “percepção de coisas e eventos  sobrenaturais” que somente certos homens conseguem. Logo, João Batista vê o Espírito descendo  em forma de pomba (Jo.1.32); este ver, mesmo assim, ainda é físico. (iii) João também pensa do “ver como sendo a percepção de um evento de revelação. Esta, porém, não é nenhuma visão interior e mística, e muito menos uma visão platônica das formas, mas, sim, um ato espiritual de ver, a vista da fé. Os discípulos vêem a glória do Filho (1.14), que também lhes é revelada nos Seus sinais (2.11; Milagres)[7].

Em João, ver recebe significado especial e “há uma ênfase forte na literatura joanina sobre o testemunho ocular”[8]. Enquanto Roráo aparece oitenta e duas vezes no evangelho de João, Blépo é encontrado apenas 17 vezes, quase um quinto das ocorrências de Roráo. Em João, capítulo nove, Roráo abre o cenário com Jesus vendo o homem cego de nascença:

Caminhando Jesus, viu [roráo] um homem cego de nascença. 2E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? 3Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. (Jo. 9.1-3) [destaque meu]

Jesus vê aquele homem cego com clareza, diferente dos discípulos que querem compreender a razão pela qual ele nasceu cego. Jesus o vê e compreende perfeitamente e não parcialmente ou incorretamente, como os discípulos olharam (Jo.9.1-2). Ao final do capítulo, no ultimo cenário do texto, no diálogo entre Jesus e o ex-cego outra vez o evangelista João faz uso de roráo, não mais para Jesus e sim para o ex-cego, quando Jesus se dirige para Ele dizendo: “Já o tens visto [roráo], e é o que fala contigo” (Jo.9.37). João cria um paralelo entre o olhar de Jesus e o olhar do homem que era cego, mas que após ser curado possui uma nova forma de “ver” o mundo. Assim, o evangelista João transmite a idéia de que ao final, o ex-cego podia ver a Jesus da mesma forma como Jesus o podia ver no início. Este ver era mais que simples visão contemplativa do mundo físico. O ex-cego demonstra um olhar pleno, completo, um olhar sobre a natureza do outro, reconhecendo-o como ele é. O ex-cego podia ver a Verdade sobre Cristo, pois seus olhos haviam sido abertos. Por isso, após a afirmação de Jesus acerca de si mesmo, o ex-cego professa sua fé em Cristo e o adora.
Mas, este olhar relacionado ao entendimento espiritual, fé, não acontece repentinamente. Momentos antes do último encontro de Cristo com o ex-cego, este é examinado pela segunda vez pelos mestres da Lei. Neste exame, eles insistem em saber o que havia acontecido com ele e recebem a seguinte resposta:

Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me abriu os olhos. 31Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. 32Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito. (Jo.9.30-33)

O apóstolo João expõe as sábias respostas do ex-cego diante da ignorância dos mestres da Lei. O texto revela quão ridícula era a situação da liderança religiosa dos judeus que perante um homem comum, cego de nascença, demonstra completa falta de sabedoria. Enquanto os mestres da Lei não conseguiam ver, por meio dos sinais realizados por Cristo, que Jesus era o Messias prometido, um homem que passou a vida sem poder contemplar a beleza da criação de Deus, pois havia sido cego de nascença, após seu encontro com Jesus demonstra compreensão espiritual, fazendo correta observação sobre a singularidade e importância do que Jesus realizara na vida dele.
Outro fenômeno interessante é que mais da metade das ocorrências de Blépo, no evangelho segundo João, aparecem exatamente neste capítulo de João, nove vezes ao todo (Jo.9.7, 15, 19, 21, 25, 39 [3x], 41), sendo que no diálogo final, Jesus faz uso deste verbo quatro vezes. Ao repetir o termo Blépo, João destacou o verbo roráo, usado apenas duas vezes conforme analisado mais acima. Os termos se equivalem em significado em todo o capítulo, sendo aplicados tanto à visão quanto em sua relação com a fé. Contudo, a disposição deles no capítulo nove cumpre um propósito literário singular que prende a atenção do leitor para o objetivo do autor: mostrar a nova vida que Jesus dera ao cego, fazendo-o não somente ver a criação ao redor, mas, sobretudo, a glória de Deus e seu Reino.
A cegueira à qual Jesus se refere em seu diálogo final com o ex-cego e os fariseus não diz respeito à capacidade de ver o mundo ao redor por meio de um dos sentidos humanos chamado visão, mas à capacidade de compreender as Escrituras e ver a vida com os olhos da fé. Esta capacidade seria alcançada por meio de milagre divino, semelhante ao que Jesus operou na vida daquele homem que fora cego desde seu nascimento. Assim, também, Jesus não cegaria as pessoas, mas revelaria a cegueira espiritual delas ao lançar luz sobre a vida delas, manifestando sua glória sem ser reconhecido por estas pessoas. Sendo assim, mesmo sem serem escravos, os judeus precisavam ser libertos; mesmo sem serem surdos, eles precisavam ter os ouvidos abertos; e, mesmo sem serem cegos, os judeus precisavam ter os olhos abertos para ver a glória do Filho de Deus que estava entre eles.

OLHOS ABERTOS PARA VER O REINO DE DEUS
Ao encontrarem o cego de nascença no caminho, os discípulos perguntam para Jesus: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo.9.2). Em sua resposta, Cristo revela aos discípulos que a cegueira daquele homem não era fruto de pecados passados, mas havia um propósito bastante específico na cura que Ele manifestaria na vida daquele cego, pois a vida daquele homem seria um instrumento para glorificar o Senhor: “Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” (Jo.9.3). Assim, como no ultimo sinal registrado no evangelho de João (Jo.11.1-46), Cristo espera até ao quarto dia para ressuscitar Lázaro e essa espera não foi por acaso e sim proposital, para manifestar sua glória perante aqueles que estavam presentes, principalmente diante de seus discípulos (Jo.11.4,6,14-15). Também a vida daquele cego de nascença era um instrumento para manifestar a glória de Deus. O texto não traz a informação da idade daquele cego, mas indica sua maioridade, pois os pais afirmam para as autoridades que ele tinha idade suficiente para falar “de si mesmo” (Jo.9.21). O longo tempo esperado por ele seria sobreposto pelo sinal que Cristo realizaria, e não só mudaria a vida inteira do cego mendigo, como também seria registrado para testemunho a todas as gerações futuras. Calvino vê a manifestação da severidade e graça de Deus na vida daquele homem:

Ele não diz um único trabalho, mas usa o plural, trabalhos, pois, pelo período em que ele esteve cego, estava evidente nele uma prova da severidade de Deus, a partir do qual os outros podiam aprender a temer e se humilhar. Foi depois seguido pelo benefício de sua cura e libertação, no qual a bondade surpreendente de Deus foi exibida notavelmente. Então Cristo intenta, por estas palavras, excitar seus discípulos a expectativa de um milagre, mas ao mesmo tempo lembra-os de uma maneira geral, que isso deve ser abundantemente exibido no teatro do mundo, como verdadeira e legítima causa, quando Deus glorifica o nome dele. (tradução própria)[9]

É interessante notar os detalhes que constroem o enredo, pois estes apontam para o clímax que ocorre no dialogo entre Jesus e o ex-cego (Jo.9.35-41). Diferente de outros cegos, como Bartimeu (Mc.10.46-52), que foram ao encontro de Jesus com auxílio de algumas pessoas para serem curados por Ele, o cego de nascença não buscou a Cristo a fim de ser curado. O texto diz que Jesus o viu no caminho. Ele e seus discípulos provavelmente se aproximaram do cego enquanto eles conversavam sobre a procedência da cegueira dele e após o diálogo, Jesus realiza o milagre sem que o cego dissesse uma só palavra. Jesus o vê, se aproxima e realiza o milagre. Depois disso, Cristo desaparece no meio da multidão, tendo ordenado ao cego que fosse lavar os olhos no tanque de Siloé. O milagre realizado na vida daquele homem seria uma demonstração da real situação em que se encontra aquela geração e sem o “nascer de novo” ela jamais conseguiria ver a presença do Reino de Deus (Jo.3.3).
Tendo sido curado, uma série de cenas se desenvolve: Primeiro as pessoas que conheciam o cego “que estava assentado pedindo esmolas” (Jo.9.8) o reconhecem e ficam admiradas por ele estar vendo. Outros, no entanto, consideram que seria outra pessoa parecida com aquele cego, e, enquanto isso, o próprio homem testemunha que fora curado, dizendo que “o homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai ao tanque de Siloé e lava-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo” (Jo.9.11). Os judeus não conseguem ver o significado do notório milagre realizado na vida daquele homem. O testemunho do ex-cego chega aos ouvidos dos fariseus. Estes, então, ficam bravos, pois tanto Jesus curou num dia de sábado, ou seja, realizou trabalho no dia de descanso, quanto instigou uma suposta quebra da lei, ordenando que o ex-cego fosse se lavar no tanque de Siloé. O texto diz que levaram o que fora cego para a presença dos fariseus. Não se sabe se por chamado dos próprios fariseus ou se por denúncia de outros judeus ao saberem do acontecido. O fato é que tendo chegado à presença dos fariseus o cego é interrogado duas vezes. Não satisfeitos, os fariseus mandam chamar os pais dele e os interrogam uma vez. Contudo, o interrogatório ainda não havia satisfeito os fariseus que chamaram outra vez o que fora cego para o questionarem pela terceira vez. No entanto, o interrogatório em nada deu e os fariseus expulsam o ex-cego, revoltados após ridícula situação na qual são ensinados por um mendigo ex-cego que demonstra mais discernimento do que os mestres da Lei. Mesmo após os diversos testemunhos dados pelo que fora cego, nada se resolve entre os mestres da Lei, afinal não conseguiam compreender nada acerca do que estava acontecendo. Conforme Bergant:

Há seis cenas logicamente consecutivas; diálogo magnífico; personagens que são sucessivamente, misericordiosos, confusos, fortes, valentões, fracos e egoístas. Desempenhando o papel principal – a ponto de roubar a cena de Jesus – está a figura fascinante do cego, corajoso e inteligente, revidando com sucesso cada golpe atirado em sua direção. E a peça se encerra com uma bela fala (v.41) que dá a substância da história toda.[10]

Somente após expulsarem o ex-cego, tendo o ambiente se acalmado, Jesus vai em direção àquele homem. Como a coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante a noite, celebradas na festa dos Tabernáculos, Jesus vai ao encontro daquele que fora cego para dirigi-lo pelo caminho que deveria andar. Os líderes religiosos o deixaram vagando sem respostas nem direção, mas Jesus o receberá para dar-lhe vida em abundância. Calvino comenta a passagem:

Se ele tivesse sido autorizado a permanecer na sinagoga, ele teria estado em perigo de tornar-se gradualmente alienado de Cristo, e mergulhado na mesma destruição dos homens ímpios. Agora Cristo o encontra quando ele já não está mais no templo, mas vagando aqui e ali; recebe e o abraça, quando ele é expulso pelos sacerdotes; o levanta do chão, e oferece-lhe a vida, quando ele recebeu a sentença de morte.[11]

Enquanto a liderança religiosa dos judeus, que segundo a Lei deveria cuidar do povo como um pastor cuida das ovelhas (Ez.34.1-6; Jr.3.15), lança fora aquele pobre homem carente de cuidados físicos, sociais e espirituais, Jesus o acolhe lhe perguntando: “Crês tu no Filho de Deus?” (Jo.9.35). Jesus, a luz do mundo estava ali para dar ao que fora cego uma direção certa rumo à “terra prometida”, protegendo-o de seus inimigos enquanto o aquecia. Os líderes nada acrescentaram na vida do ex-cego. Não tinham resposta nem direção certa. Contudo, Jesus com mansidão podia guiá-lo, podia tirar suas dúvidas, podia dar-lhe salvação. Sem nenhum enigma, Jesus se revela como Filho de Deus ao que fora cego: “Crês tu no Filho de Deus?” (Jo.9.35). Sua pergunta é objetiva, como quem sabe qual resposta obteria. Aquele homem já estava apto para compreender e crer. Seu testemunho havia sido firme a despeito das dúvidas que surgiram entre a multidão que estava em parte confusa, em parte perplexa com o que acontecera com ele. Além disso, mesmo pressionado, suas respostas revelaram boa compreensão perante os líderes que o desprezaram ao final. Fica evidente aqui que a cura da cegueira de nascença dele era também um sinal que fazia alusão à nova vida que Deus podia dar sobrenaturalmente ao homem pecador, espiritualmente cego de nascença.
Diante da pergunta de Jesus, o ex-cego questiona: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?” (Jo.9.36). Ele queria ver quem o havia curado, afinal não poderia ser um homem qualquer, pois ele sabia que “desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença” (Jo.9.32). Ao ser questionado pela segunda vez pelos fariseus, o ex-cego havia afirmado que aquele que o curara deveria ser um profeta (Jo.9.17). Sua visão acerca de Jesus até então era especulativa, pois ainda que tivesse seus olhos abertos não havia tido até aquele momento a oportunidade de ver a Cristo. Sua capacidade de discernir as coisas estava funcionando corretamente, e isto é possível de ser percebido nos diálogos entre o ex-cego e os fariseus, mas faltava-lhe ainda a autorevelação de Jesus. Por isso, somente quando Jesus revela a verdadeira natureza daquele que o curara é que o que fora cego pode conhecer a Cristo como ele de fato era.
Por meio de um drama real, Jesus demonstra para seus discípulos a carência espiritual da multidão judia e o processo que levaria o povo a obter a vida eterna. Os discípulos estavam sendo preparados para o grandioso ministério que deveriam exercer após a ascensão de Jesus. Neste drama, os discípulos vêem a discrepância entre a dureza de coração daqueles que eram conhecedores da Lei e o discernimento no coração de um simples homem tocado por Deus. Para vergonha dos fariseus doutos na Lei de Moisés, aquele homem simples, por meio do testemunho de um único sinal manifesto graciosamente na vida dele, creu que Jesus era o Filho de Deus, expressão esta que levaria os judeus a acusarem Jesus de blasfêmia em diálogo posterior (Jo.10.36).

A CEGUEIRA ESPIRITUAL DOS RELIGIOSOS DE ISRAEL
O sinal de Jesus realizado num cego de nascença, em dia de sábado, perturbou bastante os líderes religiosos da Sinagoga (Jo.9.22). Estes interrogaram o ex-cego e os pais dele, num total de quatro interrogatórios (Jo.9.15,17,19,24). Mesmo assim, não ficaram satisfeitos com as respostas, pois queriam tanto acusar Jesus de ferir a Lei de Moisés quanto convencer as pessoas que Jesus não passava de um enganador.
Contudo, aquele era um momento singular na história da humanidade. O mundo nunca testemunhou tantos sinais realizados em tão pouco tempo, três anos apenas, que segundo o apóstolo João, houve “muitas outras coisas que Jesus fez” diante das multidões, principalmente da Galiléia, mas também da Judéia e Samaria, Decápolis, Tiro e Sidom (Mt.15.21-28; Mt.19.1-2; Mc.7.31-37; Jo.2.11; 21.25) e que não foram registradas em seu evangelho, pois “se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos.” (Jo.21.25). Contudo, os mestres da lei não conseguiram ver que o Messias havia chegado nem as multidões conseguiram perceber que o Reino de Deus estava no meio delas.
Antes da cura do cego de nascença, outros cinco sinais são registrados por João em seu evangelho (Jo.2.1-12; 4.46-54; 5.1-18; 6.1-15; 6.16-21). Além desses, muitos outros milagres foram realizados diante das multidões (Jo.20.30) dentre os quais vários estão registrados nos evangelhos sinóticos. Contudo, nem os líderes nem o povo judeu, exceto um pequeno número de seguidores que acompanharam Cristo em seu ministério (At.1.21-23), haviam crido em Jesus. O que lhes faltava? Não foram suficientes os muitos sinais realizados por Cristo? Qual sinal seria necessário para que as multidões e seus líderes cressem em Jesus, o Filho de Deus, Salvador do mundo? Alguma coisa estava faltando, algo há muito profetizado insistentemente pelo profeta Ezequiel:

“Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.” (Ez.11.19-20).

No entanto, aquela geração não compreendia que sua vida religiosa escondia no íntimo uma vida escrava, surda e cega (Jo.8.36, 43; 9.39-41), incapaz de viver livremente para Deus, ouvir a Palavra com entendimento e ver a glória de Deus, a fim de adorá-lo em Espírito e Verdade (Jo.4.23-24). Em diálogo tenso entre Jesus e os judeus no capítulo oito, Jesus afirma a incapacidade deles de compreenderem os ensinos de Cristo. Por esta razão, não apenas não criam como também queriam matá-lo: “Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra” (Jo. 8.43).
No capítulo 3 de João, na conversa entre Jesus e Nicodemos, mestre da lei, este demonstra as dificuldades que possuía em compreender o projeto redentor. Ele consegue ver as maravilhas que Jesus faz e até as associa à intimidade de Cristo com Deus: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” (Jo.3.2); mas Nicodemos não consegue ver quem é Jesus. Ele acompanhava de perto o ministério de Cristo, mas precisava que seus olhos fossem abertos para realmente ver quem era Jesus e o que havia vindo fazer. Mesmo com tantas obras realizadas por Cristo, jamais vistas em outro período da história humana; mesmo com a excelência e autoridade dos ensinos de Jesus e a perfeição da vida santa diante de todos, os mestres da Lei não conseguem interpretar com clareza quem é Jesus. O Reino de Deus havia chegado e a glória desse reino estava sendo manifesta em cada sinal operado por Jesus: Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.” (Mt.12.28). Mas, quem estava apto para perceber isto? Nicodemos representa bem a realidade do povo judeu como um todo. Apesar de ser mestre da Lei, ele não compreende a essência desta Lei, pois disse Jesus: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo.3.3).

CONCLUSÃO
O capítulo nove de João é um drama real que representa a realidade espiritual do povo de Israel, lançando luz sobre a dureza de coração dos líderes do povo enquanto revela a graça e misericórdia de Deus na vida de um homem marginalizado. Os versículos finais do capítulo nove são o clímax do enredo e trazem tanto salvação quando condenação sob a mesma luz, a luz de Cristo, que brilhando entre a geração revela tanto graça aos que tem os olhos abertos para segui-la quanto aponta a dureza de coração daqueles que desprezam a luz do Senhor Jesus.



REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] Aqui será adotado o texto conforme utilizado por NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece. Deutsche Bibelgesellschaft, 27ª Edição, com exceção de uma variante conforme explicação abaixo. No Novum Testamentum Graece o aparato crítico aponta para treze variantes, na perícope escolhida, sendo que oito delas não somente são apoiadas por manuscritos de valor determinante para os estudiosos a favor do texto Críticos, mas também encontram apoio nos manuscritos Majoritários, abarcando, assim, a maioria dos manuscritos principais. Das outras cinco variantes que divergem do texto Majoritário, a mais relevante diz respeito à substituição do termo anthrópu (do homem) por Theú (de Deus). Muda, portanto, a forma como Jesus se refere a si mesmo: de "Filho do homem" para "Filho de Deus". A expressão Filho do homem aparece, além da ocorrência em João 9.35, outras doze vezes tanto no texto Crítico quanto no texto Majoritário. A expressão Filho de Deus aparece nove vezes tanto no texto Crítico quanto no texto Majoritário, e há ocorrência de ambas as expressões próximo ao texto (Jo.8.28; Jo.10.36), tornando, assim, um pouco mais difícil desvendar o caso por meio de análise interna. Todavia, há dois argumentos internos a favor do texto Majoritário: 1) o menor número de ocorrências da expressão Filho de Deus no evangelho segundo João, tornando esta variante mais difícil de ser repetida e, assim, mais provável de ter sido utilizada pelo texto original; 2) a expressão Filho de Deus se relaciona melhor com a atitude do ex-cego de adorar a Cristo; 3) enquanto o termo Filho do homem não aparece relacionado ao verbo crer, a expressão Filho de Deus quase que sempre está relacionada à fé que personagens deveriam depositar em Cristo. O termo filho do homem é usado com freqüência no Antigo Testamento referindo-se ao homem, filho de Adão. Muitas dessas ocorrências se dirigiam ao profeta, o que dificultaria para o ex-cego uma rápida associação do termo com a divindade de Cristo (Jo.12.34). Após estas considerações, decide-se escolher a variante "Filho de Deus". Conforme foi dito no início, o texto escolhido para uso neste trabalho será aquele encontrado no Novum Testamentum Graece de Nestlé-Aland, 27ª Edição com exceção da variante supracitada.
[2] DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1997.
[3] BERGANT, Dianne & KARRIS, Robert J., Comentário Bíblico, São Paulo, Editora Loyola, 2001 V. 3, p.118
[4] ALEXANDER, David. Manuel Bíblico SBB. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, p.632
[5] O termo roráo aparece no evangelho segundo João oitenta e duas vezes, conforme texto Crítico, e sessenta e nove vezes, segundo o texto Majoritário. Blépo é encontrado dezessete vezes no evangelho de João tanto no texto Crítico quanto no texto Majoritário. E Theáomai é pouco usado, aparecendo apenas vinte e duas vezes em todo o Novo Testamento, das quais apenas quinze se encontram nos quatro evangelhos e somente seis no evangelho segundo João, conforme o texto Crítico. Já no texto Majoritário o termo Theáomai aparece sete vezes no evangelho de João, dezesseis vezes nos quatro evangelhos e vinte e quatro em todo o Novo Testamento.
[6] Referências encontradas conforme busca no texto Crítico de NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece. Deutsche Bibelgesellschaft, 27ª Edição
[7] COENEN, Lothar & COLIN Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, Vol. 2, p. 2596
[8] COENEN, Lothar & COLIN Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, Vol. 2, p.2596
[9] CALVIN, John. Commentary on the Gospel according to John. Albany: Books For The Ages, Version 1.0, 1998, p.328
[10] BERGANT, Dianne & KARRIS, Robert J., Comentário Bíblico, São Paulo, Editora Loyola, 2001 V. 3, p.122
[11] CALVIN, John. Commentary on the Gospel according to John. Albany: Books For The Ages, Version 1.0, 1998, p.347


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