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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Os cristãos da Bíblia

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (At.2.42-47)

É provável que, no contexto atual, boa parte dos cristãos olhe para o texto de Atos 2.42-47 como mera utopia. Não é difícil compreender tal reação, tendo em vista a mediocridade religiosa em que vivem as instituições eclesiásticas e o ceticismo em que caminha o mundo. Cada ano que passa tem se revelado, realmente, mais distante dos dias de Pentecostes, quando o Espírito Santo fora derramado abundantemente sobre “todo o povo do Senhor” (Nm.11.29), a fim de que vivessem conforme a vontade de Deus que é “boa, agradável e perfeita” (Rm.12.2).
Contudo, aqueles dias não foram utópicos e sim modelo para todas as demais gerações e comunidades locais. Ao demonstra fé operosa, amor abnegado e firme esperança em Cristo, a igreja em Tessalônica foi considerada pelo apóstolo Paulo: “modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia” (1Ts.1.7). Assim também, o próprio Paulo considerou-se modelo, tanto na superabundante misericórdia recebida de Deus (1Tm.1.16), quanto na santidade e poder do Senhor em sua vida (1Co.4.16; 11.1; Fp.3.17).
Todavia, você se acostumou com um cristianismo de práticas repetidas sem reflexão alguma; e por se tornarem apenas “tradições”, se mesclam, aqui e ali, com modismos antibíblicos da atualidade. Todo domingo você vai para ao culto e muda completamente seu comportamento ao entrar no lugar que você chama de “templo”. No entanto, não existe mais lugar sagrado no Novo Testamento (Jo.2.19-22; 4.20-24), e mesmo assim alguns ainda insistem em chamar o púlpito de altar ou descem dele para dar avisos, sacramentando o lugar; e assim, vão criando uma comunidade de vida dupla: sagrada, no “templo” e profana, “no mundo”.
Começou o culto! Mas, você que já chegou atrasado, nem mesmo presta atenção na liturgia, canta sem que se preocupe com a letra da música, fazendo promessas quem nem mesmo está disposto a cumprir. Participa de cada momento como uma programação qualquer e ainda se queixa da “demora” da mensagem pastoral. No momento dos cânticos de louvor, você é a pessoa mais espiritual, mas após o término deste momento parece que o diabo toma conta de sua mente e coração, desviando não somente os olhos, mas também os pensamentos e coração.
Uma vez por mês, você dá seu dízimo com medo de ser castigado por Deus, ou esperando que o Senhor lhe dê mais bens materiais em troca. Ocasionalmente, como é praxe, surgem campanhas na comunidade: caso seja para colocar ar condicionado na “igreja”, você se anima em participar, pois, afinal resultará em conforto para você mesmo. Contudo, quando se trata de uma oferta para alguma obra missionária longínqua, que você nem mesmo sabe onde fica, mas que existe para glorificar Deus em meio a pecadores que precisam de salvação, logo seu coração endurece e procura justificativas infundadas para tirar o peso da consciência, quando a possui.
Quantas comunidades locais ostentam pomposidades, luxos, requintes, enquanto dentro delas, ou mesmo ao redor, há desempregados, doentes sem assistência, e famílias sendo sustentadas com apenas um salário mínimo? O pastor prega sobre o amor em grego e hebraico, mas na prática nem em português sabe o que este significa. E quando confrontados pela Palavra de Deus ainda dizem “templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr.7.4). “Não confieis em palavras falsas” (Jr.7.4), “porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mt.3.9-10).
Que obra magnífica o Espírito Santo fez naqueles dias de Pentecostes! Lucas, inspirado pelo Senhor, revela de forma clara a conexão entre a vida singela da igreja de Cristo e o evento de Pentecostes. Somente, o Espírito de Deus poderia transformar pecadores de coração duro em homens e mulheres fervorosos, humildes e piedosos (Ef.2.1). Aqueles que antes “gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o!” (Lc.23.21), estavam unidos em oração, perseverando nas Palavras do Senhor Jesus ensinadas pelos apóstolos (At.2.42).
Durante 1400 anos, do Êxodo até Cristo, Israel viveu endurecido, cego, incapaz de viver a vontade de Deus, e, então, crucificou o próprio Messias, “o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos” (At.3.15). O que lhes foi impossível pela lei durante 1400 anos, pois o coração estava endurecido, em apenas poucos dias foi manifesto em abundância por meio da presença superabundante do Espírito de Deus. Ao ouvirem a Palavra do Senhor pregada pelo apóstolo Pedro, o Espírito de Deus deu-lhes um novo coração cheio de: Amor, Fé e Esperança. Os que estavam dispersos se uniram como um só corpo para buscar um só Senhor e Salvador: Jesus.
Era uma comunidade sem nome. Os discípulos eram identificados pelas palavras e testemunho, revelando conhecimento e semelhança com Jesus. Eles eram reconhecidos por seguirem fielmente, em temor e amor, a aquele que chamavam de Senhor e Cristo. Eles não desistiram em meio às tribulações; não negaram a fé em meio ao mundo; não abriram mão das Palavras puras e simples do Senhor ensinadas pelos apóstolos; e não cessavam de orar, buscando em Deus sustento, força, auxílio, ânimo, consolo, esperança, fé, amor.
Muito mais que um mero socialismo, como alguns querem frisar, o texto de Atos 2.42-47 revela o poder de Deus para transformar, através da Palavra e do Espírito aqueles que se entregam a Jesus. A glória de todo aquele ambiente harmonioso era do Senhor que estava no meio da igreja, manifestando Seu amor e graça. O que foi impossível ao homem natural, escravo do pecado, passou a ser realidade através do advento pleno do Espírito de Deus no meio de Sua igreja.
Qual o modelo seguido pela comunidade onde você se congrega? Atos 2.42-47 tem sido o modelo buscado, incessantemente, por todos da comunidade? Caso sim, ore, rogando ao Senhor para que não permita que esfriem na fé, esperança e amor; e peça ao Senhor que os faça abundar no conhecimento da Palavra e plenitude do Espírito. Mas, caso a resposta seja negativa, é preciso voltar urgentemente ao primeiro amor (Ap.2.4). Você que está convencido pelo Espírito de Deus de que a comunidade, inclusive você, precisa mudar, deve apresentar-se como instrumento nas mãos do Senhor para proclamar o retorno à Palavra e vida no Espírito. Portanto, ore incessantemente pedindo a Deus que quebrante os corações; seja modelo na “na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1Tm.4.12); pregue dia e noite a Palavra do Senhor, crendo que Ela é o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm.1.16).
Atos 2.42-47 é uma maquete do esplendido futuro da igreja na glória. Neste modelo, é possível encontrar: a perseverança eterna, a comunhão permanente, o amor imarcescível, a presença constante do Senhor e as bênçãos superabundantes e infindáveis de Deus. A Palavra de Deus age por meio do poder do Espírito para que a igreja desfrute aqui um pouco da glória que terá na eternidade, testemunhando para o mundo a santidade e majestade do Reino de Deus. Atos 2.42-47 não é utopia, é a realidade divina para todos aqueles que o amam.

Um comentário:

  1. Graça e paz Pr. Muito boa sua reflexão. Seria muito bom se ainda vivêssemos dias de Pentecostes.

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