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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

E eu com isso!


O título acima: E EU COM ISSO, é uma redução popular da expressão: “O que eu tenho a ver com isso”. Trata-se de um fenômeno comum em toda língua: a lei do menor esforço. Reduzimos expressões maiores, retirando letras e até mesmo palavras, trocando fonemas mais difíceis de serem pronunciados por outros mais fáceis. O resultado: novas expressões na língua. As expressões acima falam muito, sejam elas mais curtas ou mais longas. Com elas quero dizer: “Eu não tenho nenhuma relação com este problema, não fui eu quem o criei, nem tampouco o sofri, por isso que os envolvidos resolvam-no.” Não preciso de tantas palavras, e nem mesmo de poucas, para dizer em alto e bom som o que penso a respeito dos acontecimentos da vida. Nossa cosmovisão é expressa através de nossas atitudes diárias, sejam elas ativas ou passivas.

Ao lermos os evangelhos, encontramos a biografia de Jesus. Cada palavra dita, cada resposta, cada gesto, cada iniciativa e até sua morte na cruz, fala o que precisamos saber acerca deste homem-Deus e sua cosmovisão. Jesus se prepara, durante a sua infância e juventude, no conhecimento das Sagradas Escrituras e capacitação de sua vida para o serviço ministerial que exerceria (Lc.2.46-52). Jesus viveu na terra sujeito às mesmas fraquezas e por isso, teve que desenvolver-se para o ministério que realizaria (Hb.4.15). Ele fez de sua vida um preparo para o cumprimento do propósito eterno do “Pai que está nos céus”. O mundo precisava de um salvador e Jesus sabia que ele era este salvador. Sua vida foi moldada e conduzida por sua cosmovisão: “A criação de Deus se perdeu e o Pai quer resgatá-la e recriá-la para glorificar eternamente a Sua justiça, misericórdia e graça”.

O ministério de Jesus não foi marcado por um simples amor subjetivo e abstrato conforme o conceito ocidental de amor. Jesus caminhou três anos pela Galiléia com propósito definido: cumprir sua missão conforme a cosmovisão Bíblica divina, segundo já mencionamos. O amor de Jesus pelo Pai, que está nos céus, direcionou seus atos. Ele esteve com os religiosos da época, que viviam uma religiosidade aparente, hipócrita e política e não se contaminou, nem cedeu à tentação de ser aceito nos círculos deles. Jesus esteve entre prostitutas; cobradores de impostos usurpadores; homens e mulheres marginalizados e não se contaminou com nenhum de seus pecados. Jesus foi verdadeiro “Sal e Luz” na terra. Ele confrontou a hipocrisia religiosa da época, pregou arrependimento aos pecadores e mostrou o caminho santo do Senhor a todos os que o ouviam. Jesus revelou a chegada do Reino, início da recriação de Deus, através de sua vida santa e irrepreensível e através de suas palavras misericordiosas, graciosas e também justas e verdadeiras, sem tolerar o pecado, nem abandonar o pecador arrependido.

Sua missão: Identificar-se com o homem em tudo, mas sem pecado, e morrer em seu lugar para ser justo e justificador de todo o que nele crê (Rm.3.26; I Jo.1.9). Para isto, nasceu numa manjedoura, viveu uma vida simples, andou entre os pobres e carentes da palavra de Deus. Antes de Jesus iniciar o ministério, o diabo o tentou dizendo: “Já que és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão” (Lc.4.3). Jesus rejeitou a tentação, respondendo com a própria Palavra de Deus, mas não fez isto por que considerava pecado transformar as pedras em pão, ou ainda, porque queria simplesmente confrontar o diabo e mostrar que nunca ouviria conselho algum dele. Jesus rejeitou completamente a tentação, de transformar aquelas pedras em pão, porque seu ministério exigia seu esvaziamento completo, sua identificação com o ser humano frágil, sujeito às tentação e também às necessidades e por isso não faria uso de sua glória para benefício humano pessoal. Jesus rejeitou a proposta do diabo de desistir da missão de salvar o homem pecador. A cosmovisão de Jesus e sua convicção ministerial definiram sua escolha naquele momento.

Jesus não foi o único que viveu de forma coerente com a sua cosmovisão e missão. Os apóstolos abandonaram suas vidas cotidianas para viverem segundo a cosmovisão que Jesus transmitira a eles. Eles abandonaram até mesmo a possibilidade de viverem cercados de mais prestígio e prosperidade, como o apóstolo Paulo que fabricava tendas, era influente no meio Judeu e até mesmo prestigiado com a cidadania romana, e deixou tudo para ser um peregrino de Cristo “em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,” (II Co.6.4-5). A vida, daquele que era convertido ao Senhor, mudava de forma que: os escravos passavam a servir melhor a seus senhores, a fim de ganhá-los para Cristo e os senhores tratavam bem seus escravos, para transmitir o amor de Cristo por todos, sem acepção de pessoas (Ef.6.5-9). Os usurpadores devolviam o dinheiro roubado mostrando o operar transformador de Deus em suas vidas (Lc.19.8). Os discípulos deixaram suas vidas pacatas e tranquilas, e seguiram os passos de João Batista (e todos os profetas anteriores a ele) e Jesus denunciando o pecado com voz profética (Mt.3.7; 12.34; 23.33; At.7.51-54). A igreja prosseguiu com a cosmovisão Bíblica vivida e pregada por Jesus: “A criação de Deus se perdeu e o Pai quer resgatá-la e recriá-la para glorificar eternamente a Sua justiça, misericórdia e graça”. Esta vida passageira passou a ser justificada pela utilidade no serviço prestado ao Senhor perante o mundo “a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz“ (I Pe.2.9).

Qual a cosmovisão da igreja atual e dos membros que ela compõe? Nossa sociedade possui as mesmas marcas do pecado presente na sociedade dos dias de Jesus e dos apóstolos e por isso precisa do mesmo remédio: a voz profética anunciando a justiça, misericórdia e graça de Deus. O projeto de Deus de recriar o mundo, resgatando um povo Seu, continua em voga. Mas como a igreja tem vivenciado a cosmovisão divina e pregado o projeto de Deus para o mundo?

Estamos cercados de pecados, dentro e fora da igreja. Temos lideranças políticas e eclesiásticas manchadas com o pecado, corrompidas por causa do dinheiro e do status, e a sociedade está mergulhada na maldade. Cada esfera da vida social tem revelado a necessidade de mudanças. Quem estaria apto para levantar voz profética, denunciando os pecados da sociedade e anunciando a justiça, misericórdia e graça divinas? É claro que é a igreja, a agente de Deus para anunciar Sua Palavra e Reino. Não há outra instituição que tenha recebido a missão de ser “Sal e Luz” neste mundo estragado e escuro (Mt.5.13-16).

Enquanto assistimos televisão, o mundo ao redor gira e o pecado se prolifera. Em seu bairro um homem é roubado, mas a rua onde foi roubado é longe de sua casa; na política milhões são desviados, mas não parece afetar seu bolso; o sistema de saúde pública é precário e muitos morrem por isso, mas você tem plano de saúde; o liberalismo está mudando nossas leis e concedendo a oportunidade para a proliferação do pecado, mas sua família parece que não sofrerá os danos desses males; o ensino público é péssimo, com problemas morais (homossexualismo) e antibíblicos (darwinismo), mas seu filho estuda em escolas particulares e você só está interessado em ver seu filho ter uma boa profissão.

Em tudo isto você está dizendo: E EU COM ISSO?. Estamos cercados de problemas sérios e destruidores, mas enquanto parecem não afetar sua vida pacata, sentado numa poltrona assistindo televisão, você continua inerte. O mundo está se destruindo e o maligno está entrando em nossas casas e igrejas para “roubar, matar e destruir” (Jo.10.10), mas as igrejas comemoram festas de aniversários, pulam e brincam em passeatas sem objetivos e procuram algo para se entreterem dentro de quatro paredes.

O dilema, meus irmãos, é que os problemas sociais já alcançaram nossas vidas, nossas famílias e igrejas. Por onde andamos ouvimos músicas imorais e vazias de qualquer conteúdo proveitoso. Vemos outdoors com mulheres seminuas e insinuações provocantes. Somos alvo da violência na cidade e temos medo de usar objetos mais valiosos na rua, pois poderemos ser alvo de assalto. Estes problemas sociais afetam nossas famílias. Mas você não vê. Seus filhos estarão aprendendo que, um dos pecados mais sérios descritos na bíblia: o homossexualismo (ou sodomismo), deve ser tratado com naturalidade. Será que não precisamos nos levantar de nossas poltronas confortáveis e tomar alguma providência?

Espero que ao final desta leitura você não diga em seu coração: E EU COM ISSO?

Um comentário:

  1. De fato, Pastor Alexandre, o problema da ausência de paticipação política/social na vida cristã é real, e é algo que, particularmente, me incomoda muito enquanto ser humano e sujeito da sociedade global.Tenho visto muitos homens e muitas mulheres que se dizem comprometidos e comprometidas com o Reino de Deus, porém, incapazes de "mover uma palha" pra mudar a realidade que tá posta aí...penso que existe uma coisa chamada "cidadania celeste" e outra chamada "cidadania terrena" e não consigo concebê-las dissociadas...assim sendo: EU TENHO TUDO A VER COM ISSO!!!

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