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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Cristo, Salmos e você - SALMO 8



Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!” (Sl.8.1)


Davi era o grande rei de Israel, mas encontrava magnitude na formosura de Deus, não em um espelho. Ele tinha os olhos no Senhor e, sempre atento às obras das mãos de Deus, contemplava maravilhado a manifestação da glória do Senhor na criação, na providência e na história da redenção. A grandeza do Senhor e sua muita bondade atraíam Davi à presença de Deus diante do qual se aproximava com humilde e feliz coração, pois, no Senhor, ele encontrava a feliz e eterna salvação.

Mas, a glória de Deus não se manifestava em grandes coisas, somente. Sua maior glória haveria de ser manifesta por meio de uma criança suscitada pelo Senhor para ser o Redentor de seu povo. A vitória de Deus sobre os inimigos não viria de valentes como Davi, mas de uma descendência santa capaz de “emudecer o inimigo e o vingador” (Sl.8.2). Com tanta beleza na criação divina, aprouve a Deus revelar a plenitude de sua glória na morte e ressurreição de seu Filho eterno, desprezado pelos homens, exaltado pelos anjos, entregue pelo Pai eterno para morrer em nosso lugar.

E Davi conhecia bem essa esperança, pois lhe fora revelado que seu filho seria o Messias prometido (2Sm.7.1-29). Tal notícia o deixou maravilhado e grato, pois mediante este Filho, o reinado davídico estava garantido para sempre. Dessa forma, a grandeza do Senhor poderia ser percebida tanto na formosura e magnitude da criação, obras de suas mãos, quanto na pequenez e fragilidade da linhagem santa escolhida por Deus e preservada no decurso dos séculos, para que na “plenitude do tempo” (Gl.4.4) trouxesse à luz o Filho de Deus, Rei eterno sobre tudo e todos.

Encantado com a graça divina dispensada ao ser humano, Davi profetizou a humilde vida de Cristo, pequeno aos olhos dos homens, mas poderoso para redimir a criação: “Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos.” (Hb.2.6-7). Glória e humildade, grandeza e simplicidade andariam lado a lado no Filho de Deus. Por meio dEle, a magnificência do Senhor revelava-se completa por meio de seu sábio poder criador e seus santos atributos manifestos na justiça do Redentor. Confundindo a todos os inimigos, Deus traria salvação por meio da humilhação e morte de seu Filho e, assim, “despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl.2.15).

Muito antes de ser rei, Davi vivenciou a vida contemplativa como pastor de ovelhas. Enquanto cuidava de seu rebanho, Davi podia apreciar a criação a seu redor e refletir sobre o poder, criatividade e sabedoria de Deus, revelados na criação de todas as coisas. Durante os, aproximadamente, 15 anos em que Davi fugiu de Saul, ele teve a oportunidade de vislumbrar o cuidado divino que o sustentou no deserto e o protegeu, livrando-o de todos os seus inimigos (1Sm.24; 1Sm.26). Já em sua velhice, Davi louva a Deus por todas as fases de sua vida, reconhecendo que nos momentos mais difíceis dela, Deus mostrou-se sobremaneira mais presente: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam” (Sl.23.4).

Parece-nos que, no Salmo 8, Davi está desfrutando de paz em seu trono, semelhante a seus dias de pastor. Suas palavras são contemplativas. Ele aprecia os céus, a terra e o mar; as aves, os peixes e os gados. A criação inteira está diante de seus olhos que pacientemente a apreciam não só por horas, mas, provavelmente, por dias. Davi observa as minucias das obras de Deus. O tempo da guerra passou! Aquele era o momento para louvar a Deus por todas as suas grandiosas obras. Davi fora abençoado pelo Senhor com o deleite da paz, que já estava presente em seu coração e, naquele momento, também estava presente em seu reino. 

Enquanto Davi aprecia a criação divina, os adversários estão emudecidos. Portanto, Davi louva a soberania de Deus sobre todos os reinos da Terra. Ele foi o maior rei de Israel e como valente general de guerra subjugou as nações vizinhas, trazendo paz para o povo de Deus. Todavia, Davi reconhece que sua vitória sempre vem do Senhor (Sl.18). Na guerra, os olhos dos homens devem estar na batalha e o coração, focados na oração: dá-nos a vitória, ó Senhor dos exércitos! Todavia, ao receber a dádiva da paz, o povo é conclamado a dirigir a mente para a amplitude das obras presentes na criação, na providência e na redenção. Então, Davi louva a Deus contemplativo.

Davi foi um homem de grandes feitos. Desde sua adolescência, vira o operar de Deus em sua vida, proporcionando-lhe grandes proezas. Por duas vezes, Davi livrou suas ovelhas de animais ferozes (1Sm.17.34-37), reconhecendo que Deus o livrou daqueles animais selvagens. Após ser ungido pelo profeta Samuel (1Sm.16.13), tendo o Espírito do Senhor enchido sua vida, Davi foi à batalha com o gigante Golias, sendo ele ainda um adolescente. Desde então, grandes vitórias foram conquistadas até que os reinos circunvizinhos, a Israel, foram subjugados. O Deus de Israel revelou-se o Senhor dos exércitos, o Deus acima de todos os deuses dos povos.

Mesmo com todos os grandes feitos que realizara em sua jornada, Davi pergunta: “que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?” (Sl.8.4). Davi não pensava mais do que convinha sobre si mesmo. Ele sabia que era uma criatura pecadora indigna do favor divino. Mas, olhando para o ser humano, Davi via a imagem de Deus e seu grandioso papel de representante do Senhor na Terra. Mesmo após a queda de Adão, o homem continua carregando a imagem de Deus em si e sendo responsável por dominar toda a criação para Deus. E nisso, Davi vê a graça e a bênção do Senhor sobre os homens.

A sabedoria de Deus presente em suas obras encanta Davi que exclama novamente: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome” (Sl.8.9). A glória divina se manifesta nas grandes e pequenas obras de suas mãos. O fulgor do sol, a delicadeza das flores, a imponência das montanhas, a profundeza dos oceanos. Toda a criação manifesta a glória divina. Mas, dentre todas as obras, o ser humano é a mais importante, por meio do qual o Filho de Deus é glorificado em sua vida, morte e ressurreição.

Os judeus dos dias de Cristo não compreenderam isso. Seus olhos carnais só contemplavam a aparência, esperando sempre fama e riquezas. Por isso, eram incapazes de apreciar a glória de Deus manifesta em Cristo. Por conseguinte, aquela geração rejeitou a maior manifestação do poder divino contra todos os inimigos do povo de Deus: a crucificação de Jesus, “poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co.1.24). O Filho de Deus, então, ensinou, a seus discípulos, o não se guiarem pela aparência (Lc.17.20) nem buscarem glória de homens, mas uma vida de humilde serviço a Deus na sociedade (Mt.20.25-28). Assim, como Cristo não veio com glória aparente, também disse que “o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc.17.21).

Por essa razão, também Paulo exorta a igreja de Filipenses a seguir o exemplo de Cristo que manifestou a glória de Deus sem qualquer poder aparente, mas por meio da humilde obediência à vontade do Senhor (Fp.2.5-11). São estes que exaltam a Deus com a vida, sem que atraiam para si qualquer louvor. Eles são pequenos aos olhos dos homens, mas grandes diante do Senhor; instrumentos para a propagação da sabedoria de Deus: Cristo.

Portanto, de forma semelhante a Davi, contemple a glória de Deus manifesta tanto na grandeza e vastidão da criação quanto na simplicidade da vida e pregação da igreja de Cristo. Lembre-se que “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm.14.17), pois não veio “com visível aparência” (Lc.17.20), mas por meio da crucificação de Jesus. Então, não busque grandes coisas nem despreze as pequenas, pois a maior manifestação da glória de Deus não está visível aos olhos humanos, mas será revelada para todos no último dia.

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