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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O apostolado conforme a Escritura Sagrada

Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam. Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras.” (2Co.11.12-15)

A igreja do Senhor Jesus é chamada de apostólica. Este adjetivo aponta tanto para o fundamento doutrinário colocado pelos apóstolos escolhidos pelo Senhor Jesus quanto para o caráter missionário da igreja, pois foi enviada pelo Senhor para pregar o evangelho ao mundo. Portanto, o termo “apostólico” assume duas conotações: a primeira relacionada ao ofício instituído por Jesus e a segunda relacionada ao sentido mais amplo do termo que primariamente significa “enviado”, para se referir à pessoa que recebia a incumbência de levar uma mensagem oficial em nome de uma autoridade. É neste ultimo sentido que “apóstolo” foi usado para se referir a outras pessoas que não os Doze e Paulo.
Há alguns termos no Novo Testamento que tanto são usados em seu sentido mais comum quanto em referência ao ofício o qual denominam. É o caso do termo “diácono” usado para se referir ao grupo de oficiais escolhidos para servir a igreja (At.6.1-3; Fp.1.1; 1Tm.3.8), mas também para se referir ao serviço (ministério) em geral (At.1.17; Rm.11.13). Neste sentido mais abrangente, Paulo se refere a si mesmo e ao seu trabalho com o termo “diácono/diaconia” (1Co.3.5; 2Co.5.18). O mesmo ocorre com o termo “presbítero”, que tanto se refere à pessoa idosa quanto ao oficial que pastoreia a igreja (At.2.17; At.15.4). É evidente que há alguma relação entre os usos (diácono-servo; ancião/sábio-presbítero), mas enquanto um deles somente pode ser direcionado aos oficiais legalmente escolhidos conforme as Escrituras instruem, o outro sentido dos termos pode ser aplicados a muitas outras pessoas. Somente o contexto demostrará em qual sentido o termo está sendo usado pelo autor numa oração específica.
Apóstolo é um desses termos usados tanto em seu sentido comum quanto para designar um ofício específico (At.1.2; At.4.14; 2Co.8.23). Na grande maioria das vezes em que “apóstolo” aparece no Novo Testamento refere-se: aos Doze homens escolhidos por Jesus, ao substituto de Judas, Matias, e a Paulo, o último dos apóstolos. Mas, “apóstolo” também é usado para se referir a outras pessoas a partir de seu significado comum, presente, da mesma forma, no Antigo Testamento: “mensageiro”, “enviado” (Sl.77.49; Jo.13.16). Em Lucas 10.1, Jesus envia setenta discípulos para pregar a chegada do Reino de Deus. Esses setenta são “enviados”, verbo “apostoléo”, como mensageiros das boas novas. Nesse sentido, o termo “apóstolo” pode ser usado para qualquer pessoa que seja enviada pela igreja como a missão de pregar o evangelho. Contudo, ainda assim, as pessoas que receberam a designação (Barnabé, por exemplo) foram destinadas oficialmente, não como os Doze e Paulo, mas como missionários da igreja de Jesus, levando as boas novas.
Timóteo, Tito, Silas, Barnabé, Epafrodito, Lucas, Onésimo e muitos outros irmãos fizeram parte do ministério do apóstolo Paulo. Alguns deles eram pastores, outros não sabemos se realmente exerciam esse ministério. Timóteo era o mais próximo dos amigos e cooperadores de Paulo. Seu nome aparece em dez das treze cartas do apóstolo e, na ausência de Paulo, Timóteo organizava e ensinava as igrejas, preparando homens para serem presbíteros, corrigindo problemas presentes entre estes e exortando a igreja (1Tm.5.22). Contudo, em vez de Timóteo substituir Paulo como um supervisor, ele ajudava o apóstolo, tanto estando presente em sua jornada quanto cuidando da igreja em sua ausência, de forma que, quando Paulo chegava à igreja onde Timóteo estava, logo o apóstolo assumia tudo. Timóteo era um presbítero/pastor, mas, por sua íntima relação com Paulo, cumpria seu ministério auxiliando o apóstolo.
Ainda que Paulo tenha participado da ordenação de Timóteo, este foi ordenado sob a imposição de mãos do presbitério, da mesma forma como ele impunha a mão para ordenar outros presbíteros/pastores (1Tm.4.14). Não há indicação de alguma diferença entre sua ordenação e a ordenação dos demais presbíteros. Em 1 Timóteo 3.1-7, Paulo lista as qualificações dos bispos sobre os quais Timóteo poderia impor as mãos para que fossem ordenados. Junto aos critérios para a escolha de bispos, Paulo elencou o que era necessário para a escolha de diáconos. Se bispo e presbítero não são o mesmo ofício, por que, então, Paulo omitiu os critérios para a escolha dos presbíteros/pastores? É obvio que não houve omissão, pois o episcopado é uma referência à única liderança pastoral da igreja local: o presbiterato. Um pouco mais à frente, quando Paulo trata do salário desses líderes, ele os chama de presbíteros (1Tm.5.17). Na relação de ofícios escrita por Paulo à igreja de Éfeso, não aparece o suposto ofício intermediário, o “bispo”: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef.4.11). Desta forma, não há qualquer indicação nas cartas de Paulo, da existência de um ofício entre o presbiterato e o apostolado. Além disso, Timóteo e Tito não eram os únicos que auxiliavam Paulo. Epafrodito também era “companheiro de lutas” de Paulo (Fp.2.25) e realizava tarefas semelhantes às dos outros jovens pastores, Timóteo e Tito, na igreja de Filipos.
Conforme Calvino, a carta de Paulo a Timóteo não tinha como propósito apenas instruir Timóteo, mas ensinar outros também como uma carta pública. Além disso, uma vez que Timóteo deve ter encontrado alguns obstáculos na igreja, Paulo queria credenciar Timóteo embasando sua autoridade para realizar tudo o que Paulo o havia designado a fazer. A carta de Paulo a Tito cumpre semelhante propósito. Provavelmente, somente Tito e Timóteo receberam cartas, porque elas deveriam ser lidas por todos os líderes, não somente os que ajudavam Paulo, mas também pelos demais. Além disso, nem todas as igrejas apresentaram os mesmos problemas, tornando desnecessárias tais palavras de Paulo em outras regiões e ocasiões. Timóteo (nem outro personagem do Novo Testamento), portanto não recebeu sucessão do ministério de Paulo nem possuía outro ministério além do presbiterato.
Conforme Herron, apostolado, antes da morte e ressurreição de Jesus, vem da noção judaica de representatividade dos oficiais enviados em uma missão específica. Segundo Robert Duncan Culver, “embora a palavra seja antiga, e haja uma palavra hebraica equivalente-próximo usada no Antigo Testamento e na literatura Rabínica, o uso do Novo Testamento é sem precedente” (CULVER, 1977, p.131) O substantivo “apóstolos” não aparece na Septuaginta, mas o verbo “apostoléo” é usado 521 vezes, geralmente no contexto de uma missão importante: O corvo que deveria mostrar para Noé se as águas já haviam secado (Gn.8.7); os anjos do Senhor enviados para destruir Sodoma e Gomorra (Gn.19.13); o anjo enviado por Deus para guiar Abraão (Gn.24.7); o envio de Moisés para libertar Israel (Ex.3.14); o envio dos moços de Davi para falar com Nabal (1Sm.25.5) etc.
No Novo Testamento, o substantivo “apóstolos” é usado 80 vezes das quais 99% dessas ocorrências são indicações diretas e claras aos Doze homens escolhidos por Jesus, incluindo Matias no lugar de Judas, e Paulo, o último dos apóstolos. O verbo “apostoléo” aparece 132 vezes no Novo Testamento e também se refere ao envio para uma missão importante. Em Mateus 10, Jesus usa o verbo para se referir à missão dos apóstolos como representantes legais do Senhor Jesus: “Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.” (Mt.10.40). Desta forma, o termo está envolta de um caráter legal, oficial, que Cristo usa para denominar suas oficiais testemunhas, responsáveis pela mensagem oficial do evangelho de Jesus para sua igreja.
O apostolado foi algo extraordinário, à semelhança dos profetas do Antigo Testamento que desapareceram após os últimos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias. Sua existência cumpriu propósito determinado e temporário. Kuyper adjetiva o apostolado como Santo, por causa do caráter exclusivo deste ofício. Os apóstolos foram testemunhas de Jesus que viveram com Jesus e receberam o ensino direto de Jesus. Uma vez que um dos critérios para o apostolado era ter visto Jesus, a fim de ser testemunha de sua ressurreição, o ofício fica restrito àqueles que foram chamados pessoalmente por Jesus, ou que viram a ressureição de Jesus. Uma série de figuras no livro de Apocalipse apontam para os Doze apóstolos somente. A nova Jerusalém é edificada sobre 12 colunas, há 12 portas, 12 fundamentos (Ap.12.1; 21.12,14,21). Por essa razão, Paulo gastou muito tempo defendendo seu ministério apostólico, comprovando que se enquadrava nos critérios exigidos.
A escolha de Matias para ocupar a ultima vaga mostra que o circulo era fechado, não houve mais vaga. A nova Jerusalém está fundamentada sobre os 12 apóstolos, um número fechado. Por ser um grupo fechado até Paulo teve dificuldade de ter seu apostolado reconhecido por algumas igrejas. Eles haviam sido escolhidos pelo Senhor Jesus pessoalmente, receberam autoridade do Senhor para lançar o fundamento da igreja e eram testemunhas da ressurreição de Jesus. Além de Paulo e dos doze, incluindo Matias que foi escolhido pela direção do Espírito de Deus, nenhuma outra pessoa foi escolhida por Jesus para exercer o ministério apostólico. A autoridade deles estava no chamado pessoal recebido de Cristo e isto não era compartilhado com mais ninguém.
Pouco a pouco os apóstolos foram morrendo, ou sendo mortos, contudo a igreja não os substituiu, pois a igreja sempre compreendeu o caráter extraordinário do ministério apostólico. Caso houvesse qualquer necessidade de se manter os doze apóstolos permanentemente na igreja, após a morte de qualquer um deles haveria a substituição imediata, o que não aconteceu. Os “pais da igreja” não se viam como sucessores dos apóstolos, mas como ministros de Deus que deveriam propagar a Palavra deixada pelos apóstolos, À semelhança do que os pastores da presente geração devem fazer. Não há, na história da igreja dos primeiros séculos, a presença de apóstolos. Somente movimentos heréticos reivindicavam tal autoridade para propagarem suas heresias no meio da igreja. Somente na idade média aparecem as primeiras reivindicações de sucessão apostólicas, influenciados por doutrinas estranhas que ficaram à margem da igreja sem serem completamente destruídas.
Os movimentos apostólicos sempre estão intimamente relacionados com falsas doutrinas, como a teologia da prosperidade, além de criarem divisões no meio da igreja como aconteceu com Edward Irving criador da Igreja Católica Apostólica. Apesar de darem bastante ênfase ao número doze, contraditoriamente possuem centenas de apóstolos espalhados pelo mundo. Ao estarem em desacordo com a Palavra de Deus, muitas vezes discordando dela abertamente, o movimento demonstra que não procede de Deus que jamais poderia se contradizer. Tal movimento se assemelha muito aos movimentos gnósticos do segundo século que além de se considerarem portadores de revelações especiais também reivindicavam autoridade superior.
Em 1Co 12.28 e Ef 4.11, o apóstolo Paulo faz referência aos ofícios existentes na igreja naqueles dias, pois todos os cinco ministério ainda eram vigentes, necessários para edificar a igreja que ainda estava amadurecendo, pois as Escrituras do Novo Testamento ainda não lhes tinha sido dada.
No texto de Efésios 4.11, a lista se restringe aos ofícios e o apostolado aparece primeiro, pois foram postos por responsáveis pela colocação do fundamento da igreja (Ef.2.20). A liderança máxima da igreja era formada pelos apóstolos escolhidos pelo Senhor Jesus, inclusive Paulo, o ultimo a ser chamado por Jesus. As quatro vezes em que Paulo usa o termo “apóstolos” na sua carta aos Éfesos, ele está se dirigindo ao colegiado fechado de apóstolos (Ef.1.1; 2.20; 3.5; 4.11). A primeira menção (Ef.1.1) se refere a Paulo que estava, por meio da carta, dando Palavra de Deus para a igreja. A segunda e terceira aparição do termo (Ef.2.20 e 3.5), apontam para o papel fundamentador revelador dos apóstolos que seriam os instrumentos legais para revelar e administrar a revelação da Escritura da Nova Aliança. Por isso, a ultima vez em que aparece o termo apóstolo (Ef.4.11), ele vem em primeiro lugar, tendo em vista todo seu singular ofício dentro da igreja, mostrado por Paulo nas ocorrências anteriores. Uma vez que Paulo está se referindo aos apóstolos escolhidos por Jesus, administradores da revelação divina da Nova Aliança, não poderia estar se referindo à permanência do apostolado na história da igreja.
O fato de o termo aparecer junto a outros termos que permaneceram, “pastores e mestres”, não significa em hipótese alguma que o apostolado também devesse permanecer. Os apóstolos edificaram a igreja durante o primeiro século, colocando o fundamento e administrando a revelação. Após a morte de todos os apóstolos, os pastores e mestres, junto aos irmãos da igreja, edificam o corpo de Cristo, alicerçados no fundamento posto pelos apóstolos. Desta forma, pode-se dizer que os apóstolos sempre estão presentes na edificação da igreja, por meio das Escrituras sagradas.
Em 1 Coríntios 12.28, o apostolado aparece junto à lista de alguns dons, pois os irmãos da igreja estavam dando mais ênfase nos dons do que ao ministério dos apóstolos e consequentemente à Escritura dada por eles à igreja. Paulo não está dizendo que o apostolado é um dom simplesmente, mas que tem primazia dentre os ministérios, profetas e mestres, e mais ainda sobre os dons que aparecem por ultimo. Os cristãos deveriam não só honrar os apóstolos, mas principalmente ouvi-los obedientemente, pois deles viria a Palavra de Deus que estava pouco a pouco sendo revelada para a igreja. Dentre o conjunto de revelações, os livros do Novo Testamento, estavam as cartas dirigidas à igreja de Coríntios que deveria ser recebida como Palavra de Deus, a fim de ser obedecida. Vale salientar que a igreja tinha um sério problema com respeito à submissão. Irmãos se achavam muito espirituais, homens e até mulheres, e por causa dos dons que possuíam, rejeitavam a liderança oficial da igreja.
Desta forma, em nenhum dos textos, Paulo está defendendo a permanência do ministério apostólico, mas sua primazia que, no primeiro século, deveria ser dada aos apóstolos escolhidos pelo Senhor, a fim de que todos recebessem o fundamento posto por eles: Jesus Cristo. Após a morte dos apóstolos a igreja é submissa ao ensino apostólico por meio da humilde obediência à Palavra de Deus entregue por eles.

Um dos perigos da Nova Reforma Apostólica é sua aparência de piedade. Uma pessoa menos esclarecida no conhecimento das Escrituras Sagradas pode ser facilmente envolvida a aderir ao movimento. Os adeptos desse movimento citam as Escrituras, fazem referencia à necessidade de se buscar uma vida piedosa, utilizam-se da história da igreja e até fazem menção da reforma protestante e a volta de Jesus, inserindo, assim, o movimento dentro do curso histórico da igreja. Alguns dos erros teológicos da Nova Reforma Apostólica são:

Sucessão do ofício apostólico
Conforme a Nova Reforma Apostólica, o ministério apostólico é permanente e deve durar até a chegada de Jesus. A ausência desse ministério durante centenas de anos é atribuído a um erro da igreja e seus problemas históricos estariam relacionados a ausência dos cinco ministério: apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre.
Como já foi demonstrado acima, As Escrituras não ensinam a sucessão do ministério apostólico, erro cometido, também, pelo Catolicismo Romano. Os próprios apóstolos não escolheram novas pessoas para substituírem os que estavam morrendo nem muito menos acrescentaram outros ao grupo. Matias foi escolhido para fechar o número, pois se houvesse a possibilidade de haver outros apóstolos, não apenas Matias, mas outras pessoas poderiam ter sido inseridas uma vez que muitos irmãos, aproximadamente 500, foram testemunhas da ressurreição de Jesus (1Co.15.6). O apóstolo João, último dos apóstolos a morrer, não teve qualquer preocupação em manter uma sucessão apostólica. Não há qualquer ensino no Novo Testamento para que a igreja esteja escolhendo apóstolos, ou mesmo para que não deixe que esse ministério desapareça. Mas, há um cuidado com a escolha de presbíteros (pastores) que deveriam cuidar da igreja de Jesus, segundo o legado dos apóstolos, ou seja, segundo as Escrituras do Novo Testamento.

Autoridade acima das Escrituras
Os apóstolos do movimento atual reivindicam autoridade Escriturística, inclusive superior às Escrituras Sagradas. Eles discordam da Palavra de Deus e acrescentam seus próprios ensinos como se estes fossem sagrados.
Uma vez que as Escrituras são a Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito de Deus, não se pode esperar que o Espírito de Deus entrasse em contradição, ensinando algo por uma pessoa e depois desfazendo o que disse. Deus não mente e sua Palavra permanece para sempre. Uma das características das Escrituras é a unidade, a plena harmonia que há entre todos os Escritos de forma que não há contradição nem contraposição. Este fenômeno é atribuído à inspiração do Espírito de Deus que conduziu tudo de tal forma que as diferenças de tempo, personalidade e cultura não prevaleceram na Escrituração, e a inerrante Palavra de Deus foi transmitida e preservada fielmente.
Paulo disse que todo aquele que não ensina o evangelho fielmente deve ser “anátema”, pois “ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” (Gl.1.8-9). Ao desfazerem as Escrituras, os novos apóstolos deixam claro que não procedem de Deus, pois rejeitam a revelação do Espírito de Deus. Eles se mostram malditos, ensinando contra a Escritura, a fim de desviar o olhar dos pecadores da Palavra de Deus.
Além disso, as Escrituras ensinam que o ofício apostólico, ou os homens escolhidos para serem apóstolos de Jesus, não eram sagrados ou inerrantes, mas os Escritos deles, provenientes da inspiração do Espírito de Deus. O apóstolo Pedro foi exortado por Paulo por causa de sua dissimulação (Gl.2.11) e o próprio apóstolo Paulo recebeu um espinho na carne para não se ensoberbecer (2Co.12.7). Os homens não eram sagrados e sim seus Escritos. Contudo, os apóstolos atuais se consideram inerrantes e portadores de autoridade acima da Escritura Sagrada, blasfemando, assim, contra o Espírito de Deus.

Profecias sobre o fim do mundo
Não é nova a tentativa de acertar o dia da volta de Jesus. Em dois mil anos de história da igreja diversas pessoas dataram “profeticamente” a volta de Jesus e, obviamente, todas erraram. A Nova Reforma Apostólica, à semelhança de outros movimentos heréticos, também tem feito tentativas de datar a volta de Jesus, e se considera a ultima etapa da história da igreja. Conforme os adeptos, o movimento veio como precursor da segunda vinda de Jesus, e, portanto, estaríamos vivendo os anos finais do mundo antes do dia do juízo final. Não poderíamos esperar outro resultado senão mais uma frustração das expectativas proféticas da volta de Jesus. Desta forma, todas as datas profetizadas vão se passando e os líderes “profetas” vão arranjando desculpas para justificar o não cumprimento da falsa profecia.
As Escrituras não autorizam ninguém, nem os apóstolos que haviam sido escolhidos por Jesus, a marcar data para a volta de Cristo: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At.1.7). Ao contrário, aqueles que diziam que Cristo já havia chegado eram considerados hereges (Mt.24.23-26). A igreja apenas deveria esperar fiel e pacientemente (2Pe.3.9-10). O livro de Apocalipse é uma exortação à igreja, a fim de que esta aguarde com perseverança a volta de seu Senhor.

Teologia da Prosperidade
Normalmente os líderes da Nova Reforma Apostólica ensinam a teologia da prosperidade, também relacionada à ideia de que a igreja está vivendo dias que antecedem a volta iminente de Jesus.
No entanto, a Palavra de Deus aponta uma direção contrária. Uma análise teológico-bíblica dos juízos divinos nos conduz à clara conclusão que os dias que antecedem a visitação do Senhor são sempre marcados por caos e paganismo, como ocorreu nos dias do dilúvio, Sodoma e Gomorra, queda de impérios, cativeiro babilônico etc. A igreja deveria ser perseverante, pois seus dias seriam difíceis, pois o mundo que odeia Deus, também a odiaria e a perseguiria por causa de Cristo, o Senhor da igreja (Jo.15.20). Essa Palavra de Jesus não deve ser compreendida como exclusiva para os apóstolos ou para aqueles dias. Isto fica claro no livro de Apocalipse que é escrito para uma igreja vivendo no final do primeiro século, e em sua mensagem a igreja de Jesus é perseguida em muitas gerações e mesmo passando por um período de glória, logo seria alvo de perseguições outra vez (Ap.20). Esta é a razão pela qual o grande propósito do livro é exortar a igreja a ser fiel e perseverante em todas as circunstâncias, esperando sempre no Senhor que voltará para busca-la.
Os cristãos de nossos dias, portanto, deve analisar todos os movimentos à luz da Escritura Sagrada, sabendo que muitos dos líderes, aparentemente “piedosos”, são, na verdade, falsos obreiros que pretendem atrair para si discípulos (um intento claramente diabólico – Mt.4.9). Isto serve de alerta para os cristãos exigindo que estudem a Palavra de Deus e estejam bem preparados para refutar todo engano, dando clara “razão da esperança” que há em nós (1Pe.3.15).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALVINO, João. Pastorais. São José dos Campos-SP: Fiel, 2009.
CULVER, R. D. Apostles and the apostolate in the New Testament. Bibliotheca sacra. 134, 534, 131-143, Apr. 1, 1977.
HERRON, R. W. The origin of the New Testament apostolate. Westminster Theological Journal. 45, 1, 101-131, Mar. 1, 1983.
HINCKS, E. Y. The limit of the apostolate. Journal of Biblical Literature. 14, 37-47, Jan. 1, 1895.
KUYPER, Abraham. A obra do Espírito Santo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011.
MATOS, Alderi Souza. Edward Irving: Precursor do Movimento Carismático na Igreja Reformada. Fides Reformata 1/2, 1996.
NICODEMUS, Augustus. Apóstolos: A verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos: Editora Fiel, 2014.
NORRIS, F. B. The apostolate: a scriptural basis. Worship. 36, 2, 95-100, Jan. 1, 1962.
VOGELSTEIN, H. The development of the apostolate in Judaism and its transformation in Christianity. Hebrew Union College Annual. 2, 99-123, Jan. 1, 1925.



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