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sábado, 1 de abril de 2017

A Bíblia e o prazer

Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias.” (Pv.5.18-19)

Ano passado, conheci um senhor que sofre de Disgeusia, ou seja, perda do paladar. Para ele, tanto faz comer um delicioso churrasco gaúcho ou uma porção de chuchu cozido na água sem sal. Ele sente a necessidade de comer, mas não sente o gosto nem das coisas boas nem das ruins. Já pensou se tivéssemos sido criados assim? Poderíamos ter necessidades sem satisfações na vida. Todavia, porque Deus é bom, somos capazes de sentir a criação ao nosso redor. Desta forma, vivemos não apenas pela necessidade de sobreviver, pois temos em nosso corpo a capacidade de desfrutar das maravilhas da criação de Deus.

O Senhor nos deu sentidos por meio dos quais podemos experimentar diversas sensações, boas ou ruins (olfato, paladar, tato, audição e visão). Um aroma agradável causa satisfação, uma comida deliciosa proporciona deleite, um toque diferente desperta prazer, boa música alegra o coração e a beleza da criação causa bem-estar naquele que a contempla. Nosso corpo foi perfeita e detalhadamente formado para desfrutar das maravilhas de uma criação encantadora que possui aroma, sabor e beleza.

Deus nos criou amplamente sensitivos e em grande medida as coisas ao nosso redor causam satisfação. Tudo isso aponta para a bondade do Senhor, pois Ele mesmo nos proporciona todo bem-estar. Nosso Criador é a causa de todo bem que desfrutamos, pois Ele mesmo criou tudo muito bom (Gn.1.31) e deu ao homem o prazer de desfrutar de todas as boas coisas que Ele criara (Gn.1-2). Portanto, prazer, satisfação, alegria e bem-estar têm em Deus sua causa primária e devem ser desfrutados na presença dEle (1Tm.4.4). Quando experimentamos algo que promove alegria ao nosso coração, devemos lembrar-nos de seu autor, pois Deus é o criador de tudo isso.

Tendo em vista que os prazeres da criação nos foram dados por Deus, não devemos usufruir de tais bênçãos fora da presença do Senhor. Querer sentir alegria longe de Deus é semelhante e celebrar uma festa sem querer a presença daquele que a patrocinou dispondo do lugar, ornamentação, músicas comidas e bebidas. Fazer isso não somente expressa profunda ingratidão, mas, também, desaforo, pois sem o proporcionador de nossas alegrias não poderíamos sentir qualquer prazer na vida. Portanto, é evidente que devemos adorar a Deus por todos os benefícios que nos tem concedido, desfrutando-os com gratidão e santidade, fazendo de suas bênçãos confiadas a nós instrumentos para a propagação de sua muita bondade. Isso significa que podemos usufruir de tudo o qual Deus criou desde que Ele seja convidado a estar presente em todas as nossas alegrias, a fim de que o adoremos por tudo que Ele nos deu.

O sexo faz parte do conjunto de bênçãos sensoriais que o Senhor nos concedeu graciosamente. E como as demais bênçãos mencionadas aqui, o sexo também deve ser desfrutado na presença do Senhor, com gratidão e santa alegria, pois ele expressa a bondade de Deus para com sua criação (Pv.5.18-19). E para que o sexo possa ser usufruído diante de Deus, de forma a glorificar seu Santo NOME, o Senhor nos deu regras importantes que o tornam seguro, saudável, santo e agradável. Por isso, Deus deu ao homem apenas uma mulher, unindo-os em aliança de vida, a fim de formar, com ela, uma família, berço de uma vida sexual boa e agradável.

Em Gênesis 2.18-25, a Escritura revela a origem da família e, dentro do seio familiar, a dádiva divina do prazer sexual concedido para que o homem e a mulher pudessem se alegrar em Deus que os abençoou com tantas maravilhas. Os deleites preparados para o homem seriam desfrutados dentro de uma aliança em que o homem “se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn.2.24). Mais que intimidade, pela qual não se envergonhavam um do outro (Gn.2.25), o homem teria compromisso de vida, refletindo a bondade de Deus em seu cuidado com a esposa, a fim de proporcionar-lhe um prazer puro que a aproximaria de Deus em adoração e gratidão por todas as boas dádivas concedidas pelo Senhor (Hb.13.4).

Contudo, o fato do Senhor considerar “não ser bom que o homem esteja só” (Gn.2.18) não estava relacionado somente à solidão. O Senhor “buscava a descendência que prometera” (Ml.2.15), seu Filho Bendito, por meio da qual um grande povo seria separado para Deus. O prazer sexual, então, tanto foi um presente gracioso do Senhor para alegrar o dia a dia do homem quanto um meio para alcançar seu propósito de constituir um grande povo santo, no meio do qual nasceria seu Filho, Jesus Cristo. Desta forma, prazer e redenção seriam manifestos dentro do ambiente familiar onde o amor de Deus se expressaria em provisão, proteção, redenção, esperança e alegrias.

Portanto, você não precisa fugir do prazer, mas precisa olhar para ele por meio de Cristo. Em Jesus, o prazer não é egoísta, mas altruísta, pois busca dar satisfação para o outro, alegrando-se em ser benção para o cônjuge; não é impuro, mas santo, pois ele é experimentado em pleno acordo com a vontade de Deus revelada na Sagrada Escritura, sempre em oração; não é a finalidade da vida, mas uma bênção no meio dela, que aponta para a muita bondade de Deus, pois o prazer não deve ser buscado a qualquer custo, mas, sim, esperado no Senhor, a fim de que o glorifique por meio de nossa gratidão.

Todavia, o pecado transforma as bênçãos divinas em ídolos do coração do homem. Em vez de adorar a Deus pelo que Ele deu ao homem, o pecado conduz o coração do pecador a rebelar-se contra o Senhor, usufruindo do prazer de forma afrontosa a Deus. Glutonaria e bebedice tornam a satisfação da alimentação em idolatria do prazer e, em vez de agradecer a Deus pela comida e bebida, o pecador faz delas seu ídolo, tornando-se escravo dessas coisas enquanto despreza aquele que as criou. O mesmo ocorre com todas as demais sensações que Deus concedeu ao homem. Sempre que o prazer tem um fim em si mesmo, Deus é substituído pelo prazer e, ao invés de aproximar-se do Senhor o pecador é afastado de Deus.

Ao desfrutarmos das maravilhas da vida diante de Deus anunciamos ao mundo que a esperança de uma vida feliz encontra-se no Senhor. A dor, angústia e sofrimento fazem parte da vida humana por causa do pecado presente na criação. E por essa razão, o homem constantemente cria meios para fugir de tais amarguras da vida, tentando evitar aflições. Nesses momentos, o cristão proclama que Deus é nossa fonte de satisfação presente e futura, por meio do qual podemos superar as lutas da vida. Além disso, comunicamos que as bênçãos do Senhor são concedidas dentro de uma relação pactual, ou seja, de um compromisso de vida entre Deus e seu povo.

Por meio da esperança em Deus, o cristão adverte que os prazeres não são a finalidade da vida humana (hedonismo), pois o propósito das bênçãos divinas é atrair-nos para o Senhor no qual o pecador encontra a esperança de felicidade eterna. Os prazeres que desfrutamos na vida, na presença de Deus, tornam-se pequenas demonstrações da felicidade eterna, pois nos lembram de que Deus é o autor de todas as coisas boas. Portanto, viva as maravilhas da vida na presença do Senhor e O glorifique em tudo, desfrutando dos prazeres que Ele criou para serem experimentados dentro do Reino de Deus, para a glória de Cristo Jesus.

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