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sábado, 25 de julho de 2015

A origem da educação intelectual

Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.” (Jo.5.39)

Ao contrário do que alguns pensam, a educação intelectual não é criação dos filósofos gregos nem dos humanistas pós-medievais. Muito antes disso, o homem vem buscando o saber, organizando seus estudos e ensinando o conhecimento. Isso ocorreu naturalmente na história humana, pois diferente de todos os demais seres vivos, Deus fez o homem um ser racional, capaz de conhecer, estudar, investigar e ensinar. A Terra entregue ao homem para ser administrada, governada e utilizada é um mundo “conhecível”, feito para ser estudado e desenvolvido pelo homem; cenário para o desenrolar da história humana, palco para a revelação de Deus. Por isso, desde o inicio, a história do homem está intimamente relacionada com a busca pelo saber, aplicando-o nas mais diversas áreas da vida pessoal e social, preservando o conhecimento para as gerações futuras. Desejamos, aqui, demonstrar que encontramos nas Sagradas Escrituras a origem da educação intelectual, presente, principalmente, entre aqueles que receberam o importante papel de guardar os registros históricos da revelação de Deus.

Já nas primeiras páginas das Escrituras, encontramos o termo hebraico da ̔at (conhecimento) utilizado 90 vezes no Antigo Testamento e traduzido pela Septuaginta (LXX) por diversos termos gregos que compõe o campo semântico do conhecimento em geral: gnostós (conhecido), guinósko (conhecer), epistéme (conhecimento), oîda (conhecer, saber), epígnosis (discernimento), sünesis (compreensão), gnôsis (conhecimento), aísthesis (discernimento), sofía (sabedoria), epistamai (entender), epignómon (inteligente), frónesis (compreensão), analogízomai (considerar), bulé (propósito). O termo hebraico é amplo e pode se referir à observação mais simples (Jó.10.7), ao conhecimento das técnicas de trabalho (Ex.31.3) e, também, pode designar o conhecimento estrito, acadêmico, buscado sistematicamente (Ec.1.16,18). 

Não é sem razão que encontramos da ̔at principalmente nas literaturas sapienciais do período do reinado de Salomão: 10 ocorrências em Jó, 40 ocorrências em Provérbios e 7 no livro de Eclesiastes, totalizando 57 ocorrências, ou seja, 63% de seu uso no Antigo Testamento. Durante o reinado de Salomão, Israel viveu seu período clássico, a era de ouro política, econômica e também literária, pois além da conservação dos livros Sagrados outras literaturas foram produzidas (1Rs.4.30-34; Ec.12.12). Neste período, a busca pelo conhecimento ganha seu apogeu hebraico, apesar de haver na época apenas parte do Antigo Testamento.

A primeira ocorrência de da ̔at se encontra em Gênesis 2.9, fazendo parte do nome dado à árvore que produzia um fruto proibido, o único que não poderia ser comido: a árvore do “conhecimento” do bem e do mal. Isto não significa que o conhecimento estivesse associado ao pecado nem muito menos ao mal, pois Adão e Eva possuíam conhecimento do bem. Ao comer do fruto proibido, Adão e Eva teriam um conhecimento a mais, o conhecimento do mal. Em sua finitude, o homem deveria se contentar com o conhecimento do bem, dando graças a Deus, pois somente Deus é capaz de conhecer o bem e o mal sem, contudo, se inclinar para o mal. Por meio da árvore, Deus provou o coração deles, pois eles deveriam confiar na Palavra de Deus e obedecê-la. Contudo, ao surgir a dúvida no coração, a incredulidade curiosa conduziu Adão e Eva ao pecado, tendo desejado ser como Deus, conhecedor de todas as coisas. O conhecimento do bem e a Palavra de Deus não foram suficientes para nossos primeiros pais.

Mas, voltando um pouco à história da criação, antes da queda de Adão e Eva, a Escritura nos diz que após Deus ter criado o homem, Ele lhe deu a tarefa de nomear os seres vivos. Talvez pareça simples o primeiro trabalho dado ao homem, mas devemos lembrar que ainda em nossos dias ele é realizado por cientistas. Para desenvolvê-lo bem, o homem precisava observar as características de cada animal, conferindo para eles um nome que lhe fosse adequado. A inteligência do homem estava em perfeito estado, pois o pecado não havia entrado na criação, ainda. Adão possuía conhecimento revelado, desta forma a observação de Adão era límpida e precisa. Ainda no sexto dia da criação, o homem estava dando seus primeiros passos no conhecimento de seu próprio intelecto. 

O fato de ter sido criado em fase adulta, portador da fala e compreensão da linguagem, capaz de observar com precisão os fenômenos e denominá-los, demonstra que o conhecimento de Adão foi revelado, ou seja, dado por Deus. Adão não passou por qualquer processo de aquisição do conhecimento, apenas o articulou, pois já o possuía. Ele também era capaz de lavrar a terra de forma adequada, com toda a técnica necessária para o bom desempenho agrícola. Além desse, Adão possuía uma ampla gama de outros saberes, notados em seus filhos que aprenderam com o pai. Em Gênesis 4, Abel oferece sacrifício ao Senhor, demonstrando que o instrumento cortante e o fogo já eram dominados desde o princípio (Gn.4.4). Os descendentes de Caim desenvolveram ainda mais as técnicas com metais, fabricação de tendas, criação e uso de instrumentos musicais (Gn.4.17-24). Adão, durante longos anos, os ensinou aquilo que havia recebido por revelação de Deus. Ele havia sido criado em perfeito estado e seu conhecimento era bastante amplo.

É interessante notar que a prática de conferir nome de acordo com as características visíveis é também encontrada na nomeação de filhos. Nem sempre o nome dos filhos era escolhido aleatoriamente. Jacó e Esaú, por exemplo, receberam o nome após o nascimento, levando em consideração a observação dos pais a respeito das características vistas nos filhos (Gn.25.24-26): Esaú foi assim chamado, ao verem sua pele de cor avermelhada e seu corpo coberto de cabelos. Seu nome parece ser proveniente do verbo  ̔asah (fazer, pressionar, compelir) que tem sua forma bastante semelhante ao nome de Esaú no tronco piel  ̔aqev (calcanhar), por isso foi chamado de Jacó (ya ̔aqov, mão no calcanhar) que significa aquele que segura o calcanhar. Essa forma de nomear tem origem no primeiro trabalho científico de Adão, nomear os seres vivos de acordo com suas características.

Portanto, desde cedo o homem desenvolveu o saber e, também, o ensinou para a geração seguinte. O conhecimento de Adão foi passado adiante para os filhos: Caim, Abel, Sete etc. Eles escolheram desenvolver o que melhor aprouve para eles: Caim e sua descendência desenvolveram diversas técnicas que lhes proporcionaram segurança, conforto e lazer (Gn.4.17-24). Abel e Sete preferiram o conhecimento de Deus e preservaram toda a revelação inicial do Senhor, vivendo pela esperança da concretização da promessa redentora (Gn.4.26). A geração de Sete é composta de historiadores, arquivistas, sacerdotes, além de diversas outras profissões relacionadas com a sobrevivência (Gn.5.29; 6.14-17; 8.20; 9.20; 11.3-4). Não sabemos quando nem como nem em que forma a escrita teve início, mas considerando que Adão possuía o domínio da linguagem e outros saberes, não deveríamos subestimá-lo com respeito à escrita. 

A necessidade de se preservar os dados históricos e revelados fez com que o homem utilizasse os melhores meios de preservação: a escrita e a música. A Epopeia de Gilgamesh foi escrita aproximadamente 3 mil anos antes de Cristo e conta a história do dilúvio sob a visão de um povo pagão, mostrando quão antiga é a escrita. O dilúvio, as guerras entre os povos e diversos fenômenos naturais esconderam muito da história das nações. Contudo, o cuidado do povo de Deus, descendentes de Sete, em preservar a história e revelação de Deus fez com que tivéssemos em nossas mãos todas as informações necessárias com precisão.

Adão havia recebido conhecimento revelado, mas seus filhos deveriam adquirir o conhecimento por meio do ensino. A educação intelectual se torna necessária para que todo o conhecimento de Adão não se perdesse com sua morte. Os filhos, portanto são instruídos intelectualmente, motivados a transmitir o conhecimento para as gerações seguintes. Tanto na genealogia de Caim quanto na de Sete, encontramos a transmissão intelectual do conhecimento de forma que diversos saberes se propagam: o conhecimento da história, das técnicas e a preservação do conhecimento de Deus. O homem forma cidades, constrói com técnicas especiais, cria instrumentos diversos e luta pela sobrevivência numa terra hostil.

Além de tudo isso, a descendência de Sete precisava estar atenta aos perigos de um mundo em pecado, não se conformando com o mundo pecador, antes renovando a esperança por meio da constante reflexão acerca da redenção. O ensino teológico era necessário para preparar a geração seguinte frente aos desafios de um mundo hostil pecador. Encontramos tal reflexão na vida de Enos, filho de Sete, sacerdote do culto ao Senhor (Gn.5.26); na vida de Enoque, um homem íntegro que “andou com Deus” (Gn.5.22); na vida de Lameque, homem que perseverou em sua esperança, demonstrando sua fé ao colocar o nome de seu filho de Noé, que significa: o Senhor é consolo (Gn.5.28-29); e, também, na vida de Noé, um homem justo e íntegro que andava com Deus, na contramão de um mundo completamente perdido (Gn.6.8-9).

A educação intelectual fez parte da vida do povo de Deus desde o princípio da criação. Sua necessidade se vê frente aos desafios de preservar a história e a revelação divina, ensinar às gerações a vontade de Deus para que andem diante do Senhor com fidelidade e rejeitar a influência de um mundo em pecado, perigo constante para aqueles que esperavam na salvação do Senhor. O homem não partiu da estaca zero até desenvolver o conhecimento por meio da observação. Ao contrário disso, o homem havia recebido todo o conhecimento necessário, a fim de aplica-los nas diversas áreas da vida, desenvolvendo as vertentes do saber que havia recebido de Deus como conhecimento imputado em sua mente e coração. Portanto, nenhum saber humano surgiu ex nihilo (a partir do nada), mas do próprio Deus que o criou.

No decorrer das Escrituras, a educação intelectual será desenvolvida pelo povo de Deus; e geração após outra uma linhagem se dedicará em preservar e propagar tal conhecimento. Esse é um antigo e fundamental papel do povo de Deus e deve ser praticado ainda hoje. Os escritores da Palavra de Deus demonstram um fantástico domínio da arte de escrever, fazendo uso dos mais diversos recursos literários para registrar a Palavra do Senhor com fidelidade histórica e teológica. Hoje, não registramos mais Escritura Sagrada, pois Deus já completou sua Palavra, mas Ele nos exorta a estuda-la com dedicação e nos move pelo Espírito Santo para que a compreendamos e ensinemos para a geração seguinte. O mundo, à semelhança dos descendentes de Caim, não está preocupado com o conhecimento de Deus, pois busca apenas o que lhe proporciona conforto, riquezas e prazeres. No entanto, o povo de Deus se satisfaz em conhecer ao Senhor em quem tem todo seu deleite (Sl.119.174), afinal diz o Senhor: “o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR” (Jr.9.24).

sábado, 18 de julho de 2015

Deus não é homem para que minta

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm.3.16-17)

Juninho, um adolescente de 12 anos, ouviu os amigos comentarem sobre um show que ocorreria durante a madrugada do sábado seguinte. Empolgado com a ideia de estar com a turma, Juninho pede ao pai para que o deixe ir. O pai sabe que não será bom, pois nem Juninho tem idade adequada para estar na rua durante a madrugada nem o ambiente é propício para ele nem as amizades dele são boas companhias; e, portanto, Juninho corre o risco de ser mal influenciado. Assim, Juninho recebe um não paterno, acompanhado das explicações. Contudo, ele não se dá por satisfeito com a decisão do pai e corre para a mãe para que o deixe ir. Começam os argumentos para convencer a mãe de que não há problemas em ir ao show e, assim, Juninho quer invalidar a palavra do pai. Após ouvir todos os argumentos do filho, a mãe pergunta: - O que seu pai disse? Juninho responde: - Ele disse que não. Então, a mãe diz: Não é não, meu filho. Seu pai já deu a resposta e eu não posso anular aquilo que ele disse.

Algo semelhante acontece em nossos dias dentro do cristianismo. As pessoas estão recorrendo às “mães” para invalidar a Palavra de Deus e, assim, conseguir fazer a própria vontade. Uma série de movimentos dentro, e às margens, do cristianismo trouxeram para as igrejas o subjetivismo, o relativismo e o pluralismo doutrinário. E mesmo que tais movimentos sejam bastante distintos, é possível encontrar um ponto em comum: para todos eles, as Escrituras não são a Verdade absoluta, inerrante, infalível, suficiente e autoritativa dada por Deus para conduzir a igreja de todas as gerações até a volta de Jesus. As Escrituras não se encontram no centro da vida diária deles. A Palavra de Deus não é a regra de fé e prática dessas comunidades. Alguns adeptos poderão protestar nesse momento, mas não poderão negar que suas igrejas praticam o relativismo, o pluralismo e o subjetivismo doutrinário, pois invalidam a Palavra de Deus por qualquer sonho que tenham e tornam os próprios sentimentos mais importantes e autoritativos do que os ensinos objetivos das Escrituras Sagradas. Desta forma, demonstram que a Palavra de Deus não é a Verdade absoluta para eles, razão pela qual invalidam a Escritura por causa de tradições de homens.

Para o evangelicalismo de nossos dias, as igrejas que estudam, vivem e ensinam a Palavra de Deus com fidelidade e zelo são consideradas “frias”, pois ser “quente” é pular, dançar, falar de forma que ninguém compreenda, gritar sem prestar atenção ao culto e à mensagem, e viver atrás de “profetadas” de falsos profetas, pois não é suficiente o que Deus disse em sua Palavra. As Escrituras, por exemplo, são enfáticas em mostrar os problemas do casamento misto (Gn.6.1-6; Dt.7.3-4; Js.23.12-13; 1Rs.11.1-9; Pv.19.14; 31.30; Ed.9.1-2; Ne.13.23-27; Ml.2.11; 1Co.7.39; 2Co.6.14-18; ), mas a menina apaixonada encontra mil e umas desculpas para justificar um relacionamento entre luz e trevas. A Palavra de Deus proíbe, permanentemente, a liderança feminina (1Tm.2.11-15; 1Co.11.2-16), portanto a mulher não pode ser pastora ou presbítera em hipótese alguma, contudo se alguém disser que teve algum sonho, visão, desejo ou “calafrio”, simplesmente invalida todo o ensino Bíblico para fazer a própria vontade, supostamente, em nome de Deus (recomendo a leitura do artigo: A exclusividade do ministério pastoral masculino[1]). Desta forma, as Escrituras são facilmente negligenciadas pelas opiniões pessoais. Sem as Escrituras governando, de forma absoluta, o coração dos pecadores, cada um faz o que acha mais reto, semelhante aos dias de juízes (Jz.21.25).

No entanto, “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm.23.19). Quando alguém diz que Deus lhe revelou algo diferente e contrário do que está escrito na Palavra de Deus, essa pessoa está chamando Deus de mentiroso, pois está ensinando que Deus desfez sua própria Palavra. O que Deus disse está dito e ninguém pode anular, diminuir ou acrescentar nada, afinal está escrito: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando.” (Dt.4.2 // 2Co.11.3-4 // Gl.1.6-9 // Ap.22.18). O papel da igreja é conhecer a Palavra de Deus, obedecê-la fielmente e ensiná-la com zelo e dedicação, “pois aquele que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt.5.19). Sem o conhecimento de Deus, a igreja sucumbe no erro semelhante aos saduceus, “não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt.22.29). Aquele que deseja viver uma vida cheia do Espírito Santo deve buscar o Senhor na Palavra, examinando “as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo.5.39), disse Jesus.

Por causa do pluralismo, relativismo e subjetivismo doutrinários, diversas facetas do cristianismo deixaram de adorar a Deus em ESPÍRITO e em VERDADE para viver e ensinar tradições de homens e, assim, em vão adoram ao Senhor, “ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mt.15.9). Os sinais ao nosso redor demonstram que estamos vivendo dias de grande apostasia. É nesse ambiente de provações que a igreja é desafiada a ser fiel, e os verdadeiros cristãos são revelados, pois enquanto muitos irão após falsos profetas, líderes que proferem mentiras, os verdadeiros cristãos ouvem a voz de Jesus através da Palavra de Deus que é pregada fielmente por aqueles que Deus tem chamado para pastorear suas ovelhas. Portanto, não se deixe enganar pela aparência de piedade (2Tm.3.5), antes prove os “profetas”, pois nenhum profeta de Deus falará contra a Palavra de Deus (Mt.7.15; At.20.28-31; 2Pe.1.19-21; 2.1-3; 1Jo.4.1; ), pois o Espírito de Deus nos foi dado para nos guiar a toda Verdade (Jo.16.13). Não tenha dúvida que, por mais bonita que lhe seja a aparência e por mais doces que lhe pareçam as palavras, toda mentira procede do diabo que é pai da mentira (Jo.8.44). Conheça, obedeça e confie na Palavra de Deus, pois se Deus disse, Ele cumprirá, pois “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa” (Nm.23.19).


[1] Artigo disponível em: http://voxscripturae.blogspot.com.br/2017/08/a-exclusividade-do-ministerio-pastoral.html

sábado, 11 de julho de 2015

Espírito Santo na vida de Sete

A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do SENHOR.” (Gn.4.26)

Com a morte de Abel, a família de Adão e Eva ficou desestruturada e Caim, o único filho homem que restou, passou a morar longe seguindo seu próprio rumo. Adão e Eva tiveram várias filhas que não são contadas na genealogia (Gn.5.4) e uma delas se tornou a esposa de Caim, possibilitando a formação de um clã completamente independente da vida de seus pais.
O clã de Caim se multiplicou rapidamente. Em pouco tempo, construiu uma cidade e Caim deu-lhe o nome de seu filho: Enoque (Gn.4.17). Caim e seus descendentes não estavam interessados em agradar a Deus, por conseguinte não ofereciam sacrifícios ao Senhor, como Deus os havia ensinado quando Abel ainda estava vivo (Gn.4.7). O coração deste povo, distante de Deus, estava no mundo e suas riquezas, e, logo, desenvolveu a tecnologia, aparecendo artesãos, pecuaristas, músicos e artífices (Gn.4.20-22). Eles não viviam pela esperança da vida eterna, nem eram movidos pelo Espírito Santo a dedicar a vida ao Senhor. Eles viviam “sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.” (Ef.2.12).
O mundo sem Deus de nossos dias é semelhante ao clã de Caim. A tecnologia avança de forma impressionante, mas enquanto isso a degradação da sociedade se torna cada dia pior. O dinheiro é o deus do coração do homem que faz guerra, mata, engana e se prostitui por causa de ouro e prata. O homem ama a si mesmo incondicionalmente e tudo faz para se satisfazer. Enquanto isso, os filhos de Deus amam ao Senhor mais do que tudo (Dt.6.5). Para os filhos de Deus, o conforto não pode substituir o prazer de adorar ao Senhor, e em seu coração está à certeza de que nem só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus (Dt.8.3). Os olhos do povo de Deus estão fitos no Senhor e o seu prazer está na sua presença, onde há delícias perpetuamente (Sl.16.11).
No meio de toda a agitação pagã dos dias de Caim, Adão e Eva tiveram mais um filho homem. A este filho, eles o chamaram Sete. Eles tinham a esperança que Sete fosse um homem agradável a Deus como o foi Abel e se alegraram com o nascimento dele. Desta vez, a esperança de Adão e Eva não falhou e após o nascimento de Enos, o primogênito de Sete, os filhos de Deus recomeçam uma vida de adoração ao Criador, pois a morte de Abel havia extinguido os louvores ao Senhor. O nascimento de Sete é uma demonstração divina de que Deus é poderoso para cumprir suas promessas mesmo quando tudo parece perdido. Nada poderia impedir o agir de Deus! Fica evidente, desde o princípio, que a jornada até a chegada do filho prometido seria difícil, pois obstáculos seriam colocados no caminho, mas o Senhor se mostra poderoso e fiel para manter firme sua promessa, providenciando os meios para preservá-la viva em cada geração. Adão e seus descendentes deveriam confiar na promessa do Senhor e descansar o coração em Deus, vivendo para agradá-lo enquanto esperavam com paciência o cumprimento da promessa redentora.
Sete tomou a iniciativa de glorificar seu Criador, mesmo cercado de um mundo anti-Deus encabeçado por seu irmão Caim. Sua coragem proveniente do Espírito Santo, aquele que capacita os filhos de Deus para enfrentarem o mundo (2Tm.3.12; At.4.29), fez com que Sete desse continuidade às obras de Abel que eram justas e agradáveis ao Criador (Hb.11.4). Sete dará início a uma geração marcada pela tranquilidade e longevidade, um árvore genealógica caracterizada pela adoração a Deus, identificada pelos frutos de justiça, garantindo, assim, a preservação do conhecimento de Deus e da promessa redentora dada a Adão e Eva; transmitindo de pai para filho a Palavra do Senhor. Semelhante aos dias da criação, o Espírito de Deus estava pairando sobre os filhos de Deus para garantir que a vontade do Senhor seria realizada.
Com o nascimento de Enos, todos se alegraram, retomando a vida de adoração a Deus, pois ressuscitou a esperança da concretização da promessa redentora dada para Adão e Eva. Desta forma, a genealogia dos filhos de Deus começou a ser contada, e Sete foi um importante instrumento divino, guiado pelo Espírito de Deus, para educar seus filhos no temor do Senhor. Enquanto a descendência de Sete se propagava, lado a lado ia se multiplicando também a geração de Caim, desafiando a geração dos filhos de Deus a se manterem fiéis diante da tentação de viver uma vida confortável, mas longe de Deus, como viviam os filhos do primeiro homicida da história.
Enquanto o clã de Caim vivia segundo o coração pecador, multiplicando seus pecados a cada dia (Gn.4.23), a genealogia de Sete era marcada pela verdadeira adoração ao Senhor. O clã de Sete seria fundamental, pois o Messias prometido viria de um homem justo e não de um assassino (Caim). Com o nascimento de Enos, foi confirmada a casa de Sete que teria seu nome gravado na terra por seus filhos, mantendo viva a esperança da vinda do salvador. Sete foi instrumento do Espírito Santo para dar início à linhagem santa de onde o Filho de Deus nasceria para glorificar ao Pai, salvando os pecadores que Ele amou antes da fundação do mundo (Ef.1.4). Em todo tempo, Deus esteve conduzindo a vida de Sete para amá-lo e adorá-lo, assim como nos diz o livro de Provérbios que Deus inclina o coração do rei para onde deseja (Pv.21.1).
Caim ceifou um homem de Deus quando matou Abel, mas não conseguiu impedir o plano redentor do Senhor. Abel foi o primeiro mártir, mas Sete é o primeiro de uma longa e agraciada linhagem conduzida pelo Espírito Santo para fazer a vontade do Senhor. Enquanto houvesse um descendente de Sete, haveria a esperança da concretização da promessa Messiânica. Em tudo isso, é possível ver a presença do Espírito de Deus, dando graça ao seu povo, capacitando seus servos para fazer sua vontade, garantindo que tudo ocorrerá conforme seu querer. Semelhante ao livro de Ester, Gênesis não deixa explícita a atuação do Espírito Santo na vida de Sete e sua descendência, mas mostra as evidências de que Ele estava lá para encher e conduzir seu povo pelo caminho por onde deveriam andar.

De forma semelhante, a igreja é o instrumento de Deus para propagar ao mundo o evangelho redentor, poder de Deus para a salvação. A preservação da igreja não é garantida por homens fortes, mas pelo Espírito de Deus que enche seu povo e o conduz para que resista aos dias maus, persevere nas adversidades e faça sempre a vontade de Deus. A adversidade sempre estará presente, mas Deus garante que seu projeto não será frustrado, pois Ele é poderoso para confirmá-lo. Portanto, a igreja deve confiar e descansar no Senhor enquanto realiza a obra de Deus (1Co.15.58). A história de Rute nos lembra que Deus é poderoso para suscitar esperança quando tudo parece perdido (Jz.1.1-5//4.13-22). Não se deixe levar pelas circunstâncias, pois Deus mostra seu poder nas adversidades, vencendo os inimigos e suscitando grandiosa e poderosa salvação para seu povo. Apenas viva abundantemente para Deus e descanse o coração no Senhor, pois o Espírito de Deus está conosco.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Não por força nem por violência, mas pelo Espírito do Senhor

Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Zc.4.6)

Ainda que a igreja visível pertença ao Senhor, ela é composta de pecadores tanto convertidos quanto não convertidos. Isso acontece por duas razões: Primeiramente, a santificação não é uma obra instantânea como a justificação. O processo de santificação leva a vida toda e, muitos, se acomodam pelo caminho, se acostumando com pecados como a maledicência. Em segundo lugar, nem todas as pessoas dentro de uma igreja local são crentes de verdade. Jesus alertou que haveria joio no meio do trigo (Mt.13.24-30). Essas pessoas se dizem crentes, no início parecem com crentes, mas depois começam a mostrar a maldade do coração, se rebelando contra a Palavra de Deus. Por isso, encontramos diversos pecados que precisam ser combatidos no meio da igreja: inveja, insubordinação, soberba, imoralidades, maledicência, desejo por poder, preguiça, espírito de divisão, falta de amor, mentiras, intrigas, glutonarias e bebedice etc.
Como pastorear uma igreja assim? Não adianta ser um bom administrador de empresa, pois a igreja não é uma máquina nem um prédio, mas o corpo de Cristo, um organismo vivo que precisa do verdadeiro alimento. Aqueles que veem a igreja como uma empresa costumam matá-la sem perceber, ao tratá-la como uma máquina sem vida. Preocupam-se com o dinheiro que entra e o que sai, com o prédio e com algumas programações. As pessoas são tratadas como funcionários e não percebem que mesmo que haja certa organização, todos estão mortos, pois não foram alimentados com a Verdade nem estão cheios do Espírito de Deus que é o agente da vida. Nessas igrejas, organizadas por fora, mas mortas por dentro, as pessoas não conseguem vencer os pecados. Elas se preocupam com a extrema organização das sociedades internas, com a hora do culto, com a manutenção de tradições, mas não conseguem vencer pecados como a maledicência, tão comum no meio de muitos cristãos. Elas não foram pastoreadas, apenas administradas.
A igreja não precisa de administradores, ela precisa de pastores. Deus não está preocupado com a aparência da igreja, mas com seu coração. Por isso, mesmo quando Israel estava fazendo os cultos, aparentemente, de forma correta, Deus disse: “Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta” (Ml.1.10). Deus quer o coração do homem, de onde procedem tanto as coisas boas quanto as coisas ruins (Mt.15.17-20): “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos” (Pv.23.26). Por esta razão, Deus não chama administradores para cuidar de sua igreja, mas pastores para pastorearem o coração do povo de Deus. É o coração que precisa ser confrontado e conduzido pelo bom caminho. O coração precisa ser dominado e também alimentado com a Verdade.
Portanto, a igreja precisa ter maturidade na escolha daqueles que irão pastoreá-la. Amizade, familiaridade e aparência não fazem um bom presbítero nem pastor. As Escrituras dizem que é necessário ser homem cheio do Espírito Santo e da Verdade. Tudo que é necessário para se pastorear uma igreja vem do Espírito de Deus e da Escritura:

1)   Amor e zelo pelas Escrituras – A igreja é alimentada com a Verdade e a Palavra de Deus é a Verdade. Como uma pessoa pode pastorear bem a igreja se não conhece a Verdade que a alimenta? A falta de conhecimento e maturidade pode levar a igreja à ruina. Deus não está interessado em ter uma igreja cheia de pecadores não convertidos. Ele quer uma igreja saudável (Ef.5.25-27), que anda nos caminhos do Senhor (Sl.119.4), que tem prazer na lei do Senhor (Sl.1.2), que batalha pela Verdade que nos foi entregue por Deus (Jd.3). Afinal a igreja é coluna e baluarte da Verdade (1Tm.3.15).
2)   Verdadeira Piedade – A piedade não se orgulha de si mesmo, pois uma das características da verdadeira piedade é a humildade. A piedade é alcançada por meio de uma vida íntima com Deus. Ninguém consegue verdadeira piedade sem uma vida de oração e meditação. Jamais alguém poderá ser presbítero ou pastor se não tem uma vida profunda de oração e meditação nas Escrituras Sagradas. Piedade abrange o negar a si mesmo, zelar pela Verdade, saber ensinar a Escritura, buscar a paz e impedir a divisão, falar com sabedoria e graça lutando contra a maledicência, se relacionar com terno amor sem, contudo, tolerar os pecados no meio da igreja.
3)   Ser guiado pelo Espírito de Deus – O líder deve ser um homem visionário, guiado pelo Espírito de Deus. O que significa isso? Os grandes homens da história conseguiam perceber as consequências de atitudes do presente. Por exemplo: Neemias advertiu o povo quanto ao perigo do casamento misto, pois sabia que isso desviaria o coração da nação como aconteceu com Salomão e muitos outros (Ne.13.23-27). O povo não pensa nas consequências para o futuro, mas o líder precisa estar atento a tudo, a fim de adverti a igreja quanto aos perigos que ela não consegue ver. O que parece ser apenas uma brincadeira pode se tornar uma porta para o pecado. Foi o que aconteceu com o homossexualismo de nossos dias. As muitas piadas sobre homossexualismo foram acostumando as pessoas com o tema de forma que, aos poucos, as pessoas que eram completamente contrárias estavam mais maleáveis ao assunto. O líder precisa prever isso.
4)   Firmeza alicerçada em Deus – Por ultimo gostaria de falar da firmeza que Deus exigiu de Josué: “sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares” (Js.1.7). A vida de pastor é demasiadamente maltratada. O pastor precisa lutar contra lobos que querem entrar no rebanho para arrastas as ovelhas, e contra o joio que começa a se revelar, querendo desviar o trigo com mentiras adornadas de falsa piedade (At.20.29-30). Para muitos, o pastor é a pessoa que menos sabe dentro da igreja. Uns acham que sabem mais, outros acham que pastoreiam melhor, mulheres querem mandar no pastor e muitos reclamam sem parar, semelhante ao que fazia Israel no deserto (Ex.15.24; 16.2,6-9; 17.3). Diante de tudo isso, o pastor precisa estar firme, bem alicerçado na Palavra de Deus e com o coração nas mãos do Senhor. Será necessária muita paciência e perseverança para não desanimar nem deixar que o povo atrapalhe o bom pastoreio do rebanho. O bom pastor não é aquele que ouve e atende ao que o povo pede, mas aquele que guia o povo pelo caminho do Senhor mesmo que esse não queira, assim como deve fazer um pai com seu filho (Sl.23.1-4).

Diante de tudo isso, exclamamos quão necessário é o Espírito do Senhor no pastoreio da igreja. Portanto, se você não irá pastorear a igreja pelo poder do Espírito e da Palavra é melhor que não comece, pois Deus pedirá contas por não teres cuidado da igreja dEle da forma correta. E vocês que vão escolher alguém para pastorear, pensem com mais maturidade, pois amizade, familiaridade e aparência não fazem o pastor ou presbítero, mas o estar cheio do Espírito de Deus para pastorear a igreja de Jesus como Ele quer.