Pages

sábado, 9 de março de 2013

Tempo para as ovelhas


Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora” (Jo.10.2-3)

A discussão sobre o exercício integral, ou não, do ministério pastoral é antiga, mas ainda persiste nos círculos cristãos. Vi o assunto ser posto sobre a mesa em artigo que li recentemente. Neste, o autor defende o ministério pastoral exercido em paralelo com outra atividade remunerada, a partir do ensino Bíblico de que em todas as coisas o cristão deve glorificar a Deus, não fazendo distinção entre sagrado e profano. Sua abordagem é pertinente aos nossos dias, não somente para edificação de pastores, mas, também, de todos os cristãos. Porém, vale salientar que o ministério pastoral não é comparado, nas Escrituras, com as demais atividades sociais, nem muito menos igualado. E como o apóstolo Paulo diz: “se alguém aspira o episcopado, excelente obra almeja” (1Tm.3.1).
Quando se trata de integralidade do ministério pastoral, a discussão gira em torno do tempo dedicado ao ministério; tempo dedicado ao pastoreio das ovelhas que Deus colocou aos cuidados do pastor. Quanto tempo o pastor precisa para pastorear suas ovelhas? Uns indicarão mais tempo outros menos e é possível que todos estejam certos se os contextos forem diferentes. De qualquer forma, vale em nossos dias a pergunta: Seria o pastor um pregador das multidões, anunciando a Palavra de Deus uma ou duas vezes por semana a todos os que têm “ouvidos para ouvir” (Lc.8.8)? Este era o papel dos apóstolos e evangelistas. Eles organizavam igrejas e pregavam o evangelho às multidões, enquanto alguns cristãos eram preparados para pastorearem as ovelhas de cada região. Além disso, conforme as Escrituras toda a igreja tem a missão de levar o evangelho ao mundo, mas Deus chama alguns homens para cuidarem das ovelhas trazidas pelo Senhor até eles, para que estejam sadias e preparadas para evangelizar, curadas de suas feridas e alimentadas com a Palavra de Deus.
Em seu consultório, o médico tem um bloco de receitas com o mesmo timbre e assinatura. No entanto, cada uma das receitas será preenchida de acordo com a necessidade dos pacientes, que deverão ser atendidos individualmente. E, para que isto possa ser feito com exatidão, o médico precisará conhecer cada um de seus pacientes, identificando a necessidade peculiar de cada um. Os remédios não serão os mesmos nem mesmo os exames que identificarão a doença e nem o acompanhamento será o mesmo durante o tratamento.
Em toda a Escritura, Deus trata o homem com pessoalidade. Deus mantinha um relacionamento pessoal com Adão e Eva no Jardim do Éden e, quando eles pecaram, o Senhor os tratou individualmente, disciplinando com distinção. A Bíblia chama os servos do Senhor pelo nome e Deus se relaciona pessoalmente com cada um deles, chamando-os à Sua aliança, fazendo promessas, exigindo obediência e mostrando Seu terno amor. Durante o ministério de Jesus, os judeus tinham uma vida sofrida e abandonada espiritualmente. As multidões estavam carentes de tudo, principalmente do amor divino que desconheciam por falta de ensino da Palavra de Deus. Então, Jesus se compadece das multidões, “porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt.9.36). Ele cura cada indivíduo de acordo com sua necessidade e lhes dá mensagem de acordo com a disposição do coração. Seus discípulos recebem tratamento distinto, uns dos outros, e nem os doze, que estavam sendo preparados para testemunhar o evangelho, eram tratados com igualdade.
Cristo é o perfeito pastor, modelo para todos os que desejam servir a Deus por meio deste ministério. Enquanto Jesus pregava às multidões, mantinha os olhos atentos sobre seus discípulos para que não se perdessem (Jo.17.12). Semelhantemente, enquanto prega às multidões, para que o evangelho seja ouvido nos quatro cantos da terra, o pastor está atento às ovelhas que Deus entregou em suas mãos. Para o ministro do evangelho, o cristão não é mais um na multidão, recebendo o batismo como “água benta aspergida sobre multidões”. O pastor vê as singularidades, trata cada caso com especificidade, afinal as ovelhas não são iguais.
Sou pastor de uma igreja com um pouco mais de cem membros. Com muito ensino da Palavra de Deus, em plena dependência do Espírito Santo e relacionamento contínuo com as ovelhas, estou conhecendo cada uma delas, a fim de chamá-las pelo nome, ou seja, com o propósito de identificar as características e necessidades pessoais de cada ovelha. Hoje, já é possível dizer quais são melindrosas e quais são mais fortes, quais são acomodadas e dificilmente se dispõe ao trabalho do Senhor, e quais são trabalhadoras, sempre prontas para toda obra. Quando uma adoece, trato de colocar nos ombros e levar até o aprisco onde receberá os devidos cuidados; quando a outra tenta se afastar, logo é trazida de volta por meio do cajado. Assim, cada uma recebe o tratamento que precisa, a fim de que todas sejam mantidas na presença do Senhor, o sumo pastor das ovelhas.
Você, pastor, conhece suas ovelhas? Está tratando suas feridas? Conhece suas dificuldades, pecados e necessidades? Percebe quando há problemas e vai atrás? O bom pastor dá a vida por suas ovelhas e percebe quando apenas uma, na multidão de ovelhas que há no campo, se afasta do rebanho (Jo.10.11; Lc.15.4). Portanto, quer seja atuando integralmente no ministério ou mesmo dividindo o tempo com uma profissão, dê tempo para as ovelhas. Pastorear requer tempo! Tempo para meditar na lei do Senhor, cuidando de si mesmo; tempo para preparar os sermões, a fim de pregar com excelência; tempo para elaborar os estudos que aprimorarão os cristãos no conhecimento de Deus; e, também, tempo para conhecer as ovelhas, a fim de cuidar de cada uma delas com singularidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário