Pages

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cristianismo?

Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl.1.6)

Aproximadamente trinta anos após a morte e ressurreição de Cristo, a mansidão e humildade aprendida com Ele (Mt.11.29) estava sendo substituída pelo orgulho humano (Gl.6.3); trinta anos após o início da propagação do evangelho do Reino, a manifestação do poder transformador e misericórdia aos marginalizados estavam sendo trocados pelo legalismo e intransigência religiosa; apenas trinta anos depois da operação graciosa do Espírito nos dias de pentecostes, os cristãos da Galácia estavam “passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl.1.6). Em tão pouco tempo, os gálatas deixaram a beleza do evangelho pela insensatez do coração pecador.
O que se dizer dos dias atuais? Dois mil anos de lutas, impasses, desafios e violências que o cristianismo sofreu; dois mil anos de distância temporal entre esta geração e o “primeiro amor” (Ap.2.4). Este, portanto, é o desafio dos pastores e pregadores contemporâneos: aproximar, ao máximo, as ovelhas do século XXI aos dias de Cristo; preparar “o caminho do Senhor” (Mt.3.3), dispondo o coração dos pecadores para ouvir, entender, guardar e obedecer as Santas Palavras do Senhor Jesus. Seja debaixo de uma árvore, numa tenda ou casa de taipa, na rua ou no meio de um auditório lotado, o pregador expõe, através da sua vida, a santidade do Senhor e ao abrir de seus lábios desafia os pecadores ao arrependimento, atraindo-os, pela vida e pregação, à graça do Senhor Jesus.
O que houve com o amor “de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” ao Senhor, o único Deus (Lc.10.27)? E, o amor ao próximo, chamado por Jesus de “segundo, semelhante a este” (Mt. 22.39), por que deixou de ser resumo da Lei (Gl.5.14)? Por que os cristãos nem mesmo lembram-se do que disse Jesus: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo.13.34)?
A trilogia de Paulo (amor, fé e esperança) deu lugar ao poder, dinheiro e fama dos “popstars” das denominações. São apóstolos, papas, bispos, pastores, presbíteros, diáconos, entre outros, que lutam pela proeminência, que gostam “de exercer a primazia” (3Jo.9), enquanto Cristo disse: “Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lc.22.26). Onde está o cristianismo puro e simples deixado por Jesus e pregado pelos apóstolos?
Tradições, ambições e muitos pecados soterraram o evangelho de Cristo, obscurecendo o entendimento da “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm.12.2). Restou a esta geração fundamentos frágeis e medíocres como “madeira, feno, palha” (1Co.3.12). Em vez de apontar “o caminho, a verdade e a vida” (Jo.14.6), que é Cristo, aos pecadores, por causa dos supostos cristãos “o NOME de Deus é blasfemado entre os gentios” (Rm.2.24); não foi em vão que Gandhi afirmou: “admiro o vosso Cristo, mas abomino o vosso cristianismo” (Mahatma Gandhi).
Em vez de construções pomposas, “cultos pirotécnicos” e política eclesiástica minuciosamente organizada, Deus quer “que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Mq.6.8). O cristianismo foi posto por “bom perfume de Cristo” (2 Co.2.15), como “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe.2.9).
Através do verdadeiro cristão o mundo é atraído a Cristo; através do verdadeiro cristão, o mundo vê o poder transformador de Deus na vida daqueles que se aproximam da cruz, alcançando-os pela “graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus” (1 Tm.1.14), tornando-os “modelo a quantos hão de crer nEle para a vida eterna” (1 Tm.1.16). Por causa da nova vida gerada pelo Espírito Santo, através da Palavra de Deus, na vida do pecador, o mundo deveria dizer: “certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente” (Dt. 4.6).
À quem a tua vida conduz? A Cristo ou para nada? O cristão que não expõe a beleza de Cristo ao mundo “para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt.5.13). A inércia da vida de muitos supostos cristãos tem conduzido pecadores à indiferença com o cristianismo. O que fazer, então? É preciso voltar a Cristo. Cristianismo é Cristo manifesto na vida de pecadores alcançados pela graça de Deus. Pois, mesmo que não houvesse mais “templos” formosos o cristianismo permaneceria através da vida dos cristãos, “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm.14.7). O mundo pergunta: O que é o cristianismo? E, você, cristão, deveria mostrar que é Cristo em tua vida?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ecos do Silêncio de Deus

Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio.” (Lm.3.26)

“O silêncio é estressante!” Tal afirmação parece estranha e contraditória, mas para aquele que está acostumado com buzinas soando, sirenes gritando, músicas estridentes tocando, junto ao som quase que contínuo do trânsito agitado, não é tão complicado entender.
O homem urbano está acostumado com a agitação diária e o barulho frenético das grandes cidades. O estresse, que pode levar à depressão, já foi chamado de mal do século, mas hoje parece não incomodar tanto. O homem da cidade grande já não consegue “sobreviver” em tranquilos campos verdejantes.
Este é o ambiente dos cristãos desta geração. Quando se está com pressa procura-se um lanche rápido no McDonald's. A arte de cozinhar dá lugar às comidas industrializadas pré-cozidas para microondas. Quando o celular apresenta algum problema, simplesmente compra-se outro. Quando o atendimento num estabelecimento comercial demora um pouco, deixa-se de ser cliente, pois ninguém aguenta esperar mais. O pastor deve ser rápido em sua mensagem dominical e, de preferência, este texto que você está lendo não deveria ser tão longo.
Este fenômeno dura até que circunstâncias obriguem-no a parar. Uma doença imprevisível; problemas familiares aparentemente insolucionáveis; desemprego inesperado... Aquele que tinha em suas próprias mãos as soluções diárias e planos perfeitos na mente, agora se vê inutilizado e incapaz de vencer o desafio que se mostra intransponível.
Neste momento, o cristão se prostra na presença de Jesus. Relembra suas fraquezas e necessidades diante de Deus e a fronte altiva se curva humildemente para buscar o auxílio do Senhor. Mas, como é difícil esperar! Você lê o Salmo 30 e nas palavras do salmista encontra ânimo e esperança para o dia seguinte, certo de que “ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl.30.5). No entanto, a manhã seguinte se mostra inerte. Nada mudou! Os problemas continuam sendo os mesmos.
Será que Deus não vê sua angústia? Será que o Senhor não ouviu suas orações? Sua aflição aumenta por um momento, pois se sente sozinho em sua luta. A mensagem da cruz parece não ser suficiente em seu coração, esquecendo-se que “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5.8). Mas, por que Deus não lhe socorre “no dia da angústia” (Sl.50.15)? Como é difícil ouvir o silêncio de Deus!
Contudo, “os olhos do SENHOR repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor” (Sl.34.15). Deus ouviu o seu clamor e conhece a angustia do seu coração, afinal “se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mt.7.11). Enquanto você chora na presença do Senhor, Ele trabalha para que sua vida seja aperfeiçoada na tribulação (Rm.5.3-5). Enquanto você se aflige em meio ao problema, Deus realiza Sua Santa, boa e perfeita vontade (Rm.12.2), para que Ele seja glorificado em sua pequena vida.
A agitação e o barulho do dia a dia fizeram-no surdo para com a voz de Senhor. Não há mais tempo para meditar profundamente na Palavra de Deus; não há mais sensibilidade para perceber a necessidade de mudanças em sua vida. Ouça os ecos do silêncio de Deus! Você verá que seu maior problema é seu próprio coração inquieto. Longe da agitação lembrarás os grandiosos livramentos que o Senhor já operou em sua vida. Perceberás que há coisas muito importantes para serem mudadas e resolvidas em seu coração e mente, em seu modo de agir e falar. Afinal, “que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mt.16.26).
No silêncio contemplamos melhor as maravilhas de Deus ao nosso redor; no silêncio conhecemos melhor nosso próprio coração e aprendemos a esperar no Senhor. Aprendemos como “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8.28). Pois, é no silêncio que entendemos que o maior e melhor projeto de Deus para nós é a eternidade com Cristo.
Então, enquanto você espera a resposta divina para os seus problemas, descanse sua alma nos braços do Senhor e incline bem o seu ouvido para ouvir tudo que Deus está fazendo em sua vida.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Cristão na Sociedade

Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele.” (1 Co.9.22,23)

Ruth A. Tucker, em Seu livro: Até os confins da Terra, escreveu: “Talvez ainda mais significativo do que a evangelização conduzida pelos pregadores leigos foi o testemunho informal que se manifestava através da vida diária dos crentes. "Nessa época, todo, cristão era um missionário," escreveu John Fox em seu clássico Livro dos Mártires. "O soldado tentava ganhar recrutas para o exército celestial; o prisioneiro procurava levar o carcereiro a Cristo; a menina escrava sussurrava o evangelho ao ouvido de sua senhora; a jovem esposa pedia ao marido para ser batizado a fim de que suas almas não se separassem após a morte; todos os que haviam experimentado a alegria de crer tentavam atrair outros para a fé.” (TUCKER, 1986).
A propagação do evangelho no Brasil tem ocorrido através de projetos evangelísticos, grandes ou pequenos, traçados pelas igrejas locais que seguem ou criam métodos de levar objetivamente a mensagem aos não convertidos. Contudo, ainda que seja legítima tal iniciativa, a preocupação com “projetos oficiais” da igreja tem substituído a ênfase no testemunho diário e ativo do cristão em meio à sociedade.
Deus tem chamado pessoas de diversas ocupações na sociedade, do mais pobre ao mais rico, do simples e tranqüilo trabalhador rural ao corrido e agitado homem da cidade grande. São: professores, médicos, donas de casa, estudantes, motoristas, comerciantes, pedreiros, advogados, faxineiros entre outras muitas ocupações. E, não obstante, terem o projeto missionário de Deus em suas mãos no dia a dia, eles dedicam-se a anunciar o evangelho somente nos “projetos oficiais” que suas igrejas elaboram. Dedicam-se ao trabalho durante 6 dias e entregam apenas 1 dia para aquele que fez todos os 7. Assim o indivíduo “está cristão” em vez de “ser cristão”. Sua identidade e atuação como cristão ocorre apenas quando está envolvido com as programações da igreja. Ele “vai à igreja” em vez de “ser parte ativa da igreja” no dia a dia. Nos demais momentos ele é uma pessoa como as demais, vivendo para si mesmo. Que desperdício de tempo e mão de obra!
Não foi isso que o Senhor Jesus ensinou e que os apóstolos transmitiram à igreja! Ao libertar um jovem possesso da escravidão do diabo, o Senhor Jesus diz: “Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti” (Mc.5.19). O jovem queria se retirar de sua cidade, mas era exatamente lá, junto aos conhecidos e desenvolvendo seu trabalho diário, que aquele jovem seria testemunha do que Deus pode fazer na vida de um pecador perdido que se encontra com Cristo.
Não foi diferente com a igreja após o pentecostes. A igreja contava “com a simpatia de todo o povo” (At.2.47) no dia a dia, à semelhança de Dorcas que fazia “túnicas e vestidos” (At.9.39) para as amigas, testemunhando o amor de Deus em seu coração e mostrando que “mais bem-aventurado é dar que receber” (At.20.35). Contudo, hoje, o cristão tem sido incentivado a viver “fora do mundo”, em quatro paredes que insistem em chamar de igreja.
É exatamente onde você está, dentro da sociedade, que Deus lhe usará para que o evangelho da graça chegue aos olhos, ouvidos e coração daqueles que ainda não experimentaram a nova vida em Cristo. É necessário, portanto, que você mude sua cosmovisão exclusivista e institucionalizada e comece a contemplar o Reino de Deus. Disse Jesus em sua oração: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo.17.15). Enquanto Deus guarda sua vida, você deve sal e luz no mundo (Mt.5.13-16). O Trabalho deixará de ser um modo de ganhar dinheiro somente, e você trabalhará, “fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef.4.28), testemunhando a graça divina e mostrando que o evangelho mudou todo seu viver.
A sociedade precisa de médicos que trabalhem com amor, tratando os pacientes com dignidade, mostrando que acima de sua habilidade com a medicina está o poder de Deus para curar o que crê. A sociedade precisa de advogados que lutem pela justiça e que defendam o oprimido, mostrando que Cristo é Justo Deus e misericordioso salvador. A sociedade precisa de donas de casa que cuidem da família com zelo e amor, ensinando os filhos a integridade revelada na Palavra de Deus e educando a geração seguinte para ser uma geração comprometida com Cristo.
Projetos evangelísticos podem espalhar a boa semente, mas o “ser cristão” no dia a dia, dentro da sociedade é a forma Bíblica de se cavar, colocar a semente, adubar, regar e acompanhar o crescimento da Palavra de Deus no coração daqueles que viram o testemunho cristão, ouviram o evangelho e, então, passaram a experimentar a graça de Deus em seu próprio coração.