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sábado, 14 de maio de 2011

No Temor do Senhor


Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb.10.31)

No Segundo século da era cristã um homem chamado Marcião agrupou o evangelho de Lucas e dez epístolas de Paulo, considerando que estes seriam os únicos livros inspirados pelo bom Deus. Para Marcião, e outros gnósticos, o Antigo Testamento e os demais livros do Novo Testamento anunciavam um deus mau, que apenas julgava e condenava os pecadores. Este deus, portanto, era diferente do Deus que enviara Jesus, pronto para perdoar o pecador e dar a vida eterna. Por rejeitar a totalidade da Palavra de Deus, Marcião não conseguiu ver a santidade e o amor do Senhor caminhar juntos, manifestos na justiça e na misericórdia, no juízo e na graça. A Santidade, na morte daqueles que tomavam a Ceia do Senhor desrespeitosamente na igreja de Coríntios (1 Co.11.30), e o Amor, no perdão dispensado constantemente à Israel no Antigo Testamento.

A presente geração de crentes tem sofrido de um mal semelhante ao de Marcião. Cada qual tem feito seleção do que considera viável para a sua “fé”. Em nome de uma suposta liberdade cristã dão vazão à carne, regendo toda a vida religiosa pelo próprio coração enganoso (Jr.17.9; Jz.21.25). Consequentemente, a exortação ao arrependimento e mudança de vida tem deixado de ser tema das pregações nos púlpitos, que viraram palco para “shows da fé”. Ou se prega meros moralismos superficiais e insuficientes para salvar o pecador, ou se estimula o êxtase emocional, propagando falsas esperanças, “enganando o [...] povo, dizendo: Paz, quando não há paz” (Ez.13.10). Eles “curam superficialmente a ferida do [...] povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (Jr.6.14).

Com a extensa pregação do evangelho no primeiro século, multidões ouviram a Palavra de Deus e muitos se uniram à comunidade dos fiéis. No entanto, com o passar do tempo, nem todos demonstraram fruto do Espírito (Gl.5.22,23), fruto de uma legítima conversão de mente e coração. Essas pessoas começaram a trazer problemas para a igreja, motivando a divisão das comunidades, se ocupando “com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1 Tm.1.4), tornando “evidente que [andavam] segundo os homens (I Co.3.4) e não segundo Cristo. Também promoveram falsas doutrinas dentro da igreja, conduzindo cristãos a passar “tão depressa daquele que [...] chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que [...] perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo (Gl.1.6,7). Além disso, eram pedras de tropeço para os novos convertidos e vergonha perante os pagãos, praticando “imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai” (ICo.5.1).

O autor de Hebreus, como um profeta responsável, exorta a igreja quanto às conseqüências desse caminho tortuoso. Aqueles que conheceram a Palavra e desfrutaram das bênçãos no seio da igreja, não poderiam voltar ao mundo outra vez para servir aos ídolos do coração. Cristo não morreria outra vez por eles, para cobrir a multidão de seus pecados (Hb.10.26). Se voltassem à vida de pecados estariam regressando ao mundo e, portanto, morrendo para Deus.

Considerando que os destinatários do livro de Hebreus eram judeus, eles bem conheciam a história de seus pais. Todos os que quiseram voltar para o Egito morreram no deserto, pois recusaram ouvir o Senhor e “endureceram a sua cerviz e na sua rebelião levantaram um chefe, com o propósito de voltarem para a sua servidão no Egito” (Ne.9.17). Eles “endureceram o rosto mais do que uma rocha” (Jr.5.3), deixando de crer nas promessas de Deus. De forma semelhante, aqueles que iniciaram a jornada cristã não poderiam olhar mais para trás, pois “ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus (Lc.9.62).

Os judeus se vangloriaram por causa da presença do Templo em Jerusalém, “dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este” (Jr.7.4), considerando que nenhum mal lhes podia acometer. A nação vivia uma vida pecaminosa, cometendo “abominação sem sentir por isso vergonha; [sem saber] que coisa é envergonhar-se” (Jr.6.15). Contudo, Deus veio com juízo sobre Jerusalém e matou muitos do povo (2 Cr.36.17), enquanto outra parte foi levada para o cativeiro de uma nação pagã (2 Rs.25.11). Uma terceira parte ficou de resto, jogada à fome e miséria numa terra destruída (Jr.12.11).

As narrativas do Antigo Testamento são ensino e exortação para a igreja, “tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente” (2 Pe.2.6). Por isso, o Senhor nos exorta a que “esforcemo-nos, [...], por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hb.4.11). Em Romanos 11.21, Paulo alerta a igreja de que “Se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará”. Deus é o vingador de todo e qualquer que vive confrontando-O numa vida pecaminosa, irreverente e irresponsável. Deus é o justo juiz do Antigo e Novo Testamento, “mostrando a Sua santidade naqueles que se cheguem a Ele e sendo glorificado diante de todo o povo” (Lv.10.3), como ocorrera com Nadabi e Abiu (Lv.10.1-2), e com Ananias e Safira (At.5.1-11).

Deus é amoroso e gracioso para com todos os que confiam na justiça de Seu Filho e no poder de Seu Espírito. Mas, o Senhor é temível e terrível para os com todos os desobedientes e rebeldes. E, por ser temível e terrível Ele deve ser sempre obedecido por todos: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Sl.2.10,11). Por isso, “o temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam” (Sl.111.10).

Não deixe que o mundo, o diabo e o seu coração pecador lhe atrapalhem a caminhada cristã. Siga as mesmas instruções que Paulo deu à Timóteo: “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes (1 Tm.4.16). Volta para o primeiro amor antes que seja tarde demais. Corrige a tua vida e dedica-a completamente a Deus, antes que Ele tire-a de você. Verta lágrimas de um coração arrependido e “Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (Joel 2.13).

Subjugue o teu corpo e a tua vida para que “não venha [...] a ser desqualificado” (1 Co.9.27). Pense na severidade de Deus para teres medo de pecar contra Ele. Pense na misericórdia de Deus para confessares teus pecados a Ele. Pense no amor de Deus para servi-lo com alegria e dedicação. Por fim, ouça o que ensina o livro de Provérbios e reconheça a misericórdia de Deus “em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal; será isto saúde para o teu corpo e refrigério, para os teus ossos” (Pv.3.6-8).

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