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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Marta ou Maria?



Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolher a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lc.10.42)



Há 100 anos, o homem se locomovia andando, galopando, em uma carroça puxada por cavalos, por meio de um trem ou, em maiores distâncias, navegando. Enquanto isso, os primeiros automóveis iniciavam sua jornada nos principais países do mundo. As viagens duravam dias ou semanas, a depender de sua distância dentro do próprio país. A correspondência era o meio mais popular de se comunicar entre os cidadãos comuns e demorava a ir de um lugar para o outro, enquanto o telefone ganhava terreno aos poucos. As notícias eram difundidas em pequeno número e longo tempo. O ritmo da vida era bem mais tranquilo do que estamos acostumados a ver em nossos dias.

Contudo, em apenas um século, o mundo avançou quase todas as áreas, num salto jamais visto na história humana. A máquina acelerou todos os processos, não somente industriais como, também, domésticos. Agora, homens vão e vem em velocidades surpreendentes e conseguem percorrer o mundo em horas. As informações foram potencializadas em escala tão alta que se tornou impossível acompanhar as notícias do dia a dia, divulgadas pelo mundo todo e vindas de todas as partes da Terra. As cidades não dormem, vivendo o cotidiano freneticamente, debaixo do julgo de produzir cada vez mais em menos tempo. E nunca, em toda a história humana, o hedonismo foi tão cultivado pela sociedade que busca satisfazer os mais íntimos desejos da mente, do corpo e do coração do pecador.

O frenesi que encontramos nas cidades é o mesmo que se encontra dentro de você. O medo do amanhã, a sensação de necessidades imediatas, a pressão das responsabilidades, a insegurança nas relações, o peso do desejo de ter e ser perante os outros estão esgotando a alma do ser humano. O avanço tecnológico do mundo tem custado um alto preço ao coração do homem. A vida é curta, naturalmente, e o ritmo urbano insaciável e consumista parece reduzir ainda mais nosso tempo de vida. O cidadão se tornou escravo de suas ambições desnecessárias, vivendo para manter uma máquina civil, a economia social, sem se dar conta que o preço é mais alto do que se pode pagar. Enquanto isso, a Palavra do Senhor nos conclama a parar tudo e ouvir a voz divina dizendo: “não andeis ansiosos de coisa alguma” (Fp.4.6).

O mal do século, todavia, não se encontra, propriamente, no avanço tecnológico. Ainda que pudéssemos parar o mundo, não seria possível dar paz ao coração do homem. Somente Cristo pode aquietar o coração ansioso e perturbado do homem pós-moderno, dando-lhe “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Fp.4.7). Só o Senhor Jesus “me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma” (Sl.23.2,3). A necessidade de todo homem, não só desse século, mas de todas as gerações, só pode ser saciada pelo Trino Deus que dispensa amoroso perdão para o pecador perdido, consolo sólido para o aflito coração e esperança verdadeira de novos e eternos dias, nos quais desfrutaremos de imarcescível felicidade.  

Para aquietar o coração dos pecadores, Deus enviou seu Filho. E enquanto Cristo esteve entre nós, trouxe paz aos corações falando às mais profundas carências da alma por meio da Palavra divina ministrada com excelência, ao passo que atendia a necessidades reais daqueles que carregavam no corpo as marcas de um mundo caído. Em sua jornada, Jesus entrou na casa de duas irmãs chamadas: Marta e Maria, como nos diz Lucas 10.38-42:


Lucas 10:38-42  Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa.  39 Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.  40 Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.  41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas.  42 Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.


Durante sua hospedagem na casa dessas irmãs, Jesus ensinava sobre o Reino de Deus, tendo encontrado em Maria um coração ávido por ouvir as maravilhas da redenção divina. Mas, enquanto Maria o ouvia atentamente, Marta, sua irmã, “agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços.” (Lc.10.40) preocupando-se em servir a mesa, arrumar a casa e causar uma boa aparência, proporcionando conforto para Jesus. Bem que as Palavras de Cristo do sermão do monte poderiam ecoar naquele momento: “Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt.6.25,33).

Cristo, o Messias prometido por milênios, o Filho de Deus, o Salvador do pecador, o restaurador da Criação, o Rei dos reis e Senhor dos senhores estava sentado na casa de Marta e Maria, mas os afazeres domésticos preocupavam mais o coração de Marta do que a presença ilustre do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1.29). As preocupações da vida podem cegar o coração do pecador, não o deixando ver aquilo que realmente importa na vida. A presença de Jesus era mais importante do que toda aquela casa e suas palavra mais preciosas do que qualquer banquete que Marta pudesse preparar. Mas, ela não conseguia ver o imenso privilégio que tinha diante de seus olhos.

O que realmente importa para você? Saber fazer juízo de valores é importante para a vida, pois sempre estaremos diante de caminhos que precisam ser escolhidos: passear no shopping ou ir ao culto? Resolver o problema sozinho ou orar antes de tomar qualquer decisão? Dinheiro e sucesso ou família? Ouvir a Palavra de Deus ou escutar apenas a voz do próprio coração? E, além da necessidade de fazermos escolhas, nos deparamos diariamente com a responsabilidade de ponderarmos o que realmente é necessário. Aquilo que não é necessário não deve tirar a paz de nosso coração. Mas, aquilo que realmente é necessário deve ser alvo de nossas orações constantes. Saber avaliar aquilo que realmente é importante nos ajuda a aliviar o coração de pesos desnecessários. 

Desse modo, você não ficará preocupado com questões supérfluas e conseguirá descansar o coração na certeza de que Deus cuida de seus filhos, pois Ele prometeu. Ter um coração em paz é de grande importância para os filhos de Deus, pois significa uma vida serena e segura no Senhor, como nos admoesta o apóstolo Paulo: 


Filipenses 4:6-7  Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.  7 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.


E falando em coração, como ele está? Seu coração tem vivido agitado e ansioso, preocupado com o alimento, o trabalho, os estudos, o futuro entre tantas outras coisas? Os problemas da vida lhe revelam sua pequenez e fragilidade, sua incapacidade de garantir estabilidade para seus projetos, a verdade de que você jamais terá o controle sobre seu viver. E tudo isso deve chamar a sua atenção para a necessidade de correr para Cristo e entregar toda sua vida para Ele. Mas, se em vez de pedir ajuda, você voltar-se para o próprio coração e o sobrecarregar deixando-o frenético e desesperado, então a ansiedade tomará conta de seu viver.

Não seja como Marta, que perdia seu tempo achando que agradaria o Senhor Jesus com preocupações demasiadas. Jesus afirmou: “Pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lc.10.42). Enquanto Marta se agitava, Maria derramava seu coração na presença do Senhor Jesus e o alimentava com as “Palavras de vida eterna” (Jo.6.68) que somente Cristo tem para dar. Suas necessidades estavam seguras diante daquele que multiplicava pães e peixes (Mt.14.16-21; 15.32-38); seu futuro estava garantido nas mãos daquele que iria lhe preparar morada certa por meio da redenção no Calvário (Jo.14.2,3).

Deus criou todas as coisas para Sua glória e tudo na criação existe e é sustentado pela graça do Senhor. Não existe ser autônomo e independente do Criador. Conforme o Salmo 145.15-16: “Em ti esperam os olhos de todos, e tu, a seu tempo, lhes dás o alimento. Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente.”. Portanto, não fomos abandonados aos nossos próprios cuidados. Fomos feitos para depender de Deus a respeito de todas as questões da vida, de modo que somos confortados pelo Senhor na certeza de que nosso “Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mt.6.32).

Por isso, Davi nos consola, dizendo: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará” (Sl.37.5). A Palavra de Deus nos conclama a buscar a Deus em todo tempo e em todas as necessidades na certeza de que Ele nos socorrerá: “invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sl.50.15). É certo que os problemas virão, contudo mesmo que “muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra” (Sl.34.19). A fé cristã está fundamentada nas Promessas do Senhor, reveladas nas Sagradas Escrituras. Suas promessas são “boas-novas aos quebrantados”, cura para “os quebrantados de coração” e consolo para “todos os que choram” (Is.61.1,2). Na fidelidade das Palavras de Deus descansamos a alma, pois mesmo que uma mãe venha “esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre", diz o Senhor: “eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is.49.15).

Por mais agitado que fique o seu coração, lembre-se que “não podes tornar um cabelo branco ou preto” (Mt.5.36). Portanto, “Confia os teus cuidados ao SENHOR, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado” (Sl.55.22). E quando passar pelo “vale da sombra da morte” (Sl.23.4) verás que “ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá” (Sl.139.10).

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