Pages

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Reino de Deus em nós

Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” (Lc.17.21)


Há dois mil anos atrás, Jesus, nascido numa manjedoura, filho de carpinteiro, residindo na pobre cidade de Nazaré, trouxe ao mundo a inauguração do maior, mais duradouro e mais glorioso Reino que o mundo já presenciou: o Reino de Deus. Esse Reino é maior que nosso mundo, pois diz respeito a toda a criação divina, visível e invisível, de um canto a outro do universo criado por Deus. Esse Reino tem início na eternidade e durará por todo o sempre, manifestando o Senhorio divino sobre todas as coisas criadas nos céus e na terra. Esse Reino é santo, justo, verdadeiro e glorioso, pois é governado pelo santíssimo Deus, Senhor dos senhores e Rei dos reis. Esse Reino cósmico-celestial já está entre nós! Mas como evidenciá-lo ao mundo?


Ainda que o Reino de Deus exista desde a eternidade, o pecado tornou a criação indigna da glória dessa Reino, então o império das trevas tomou conta do mundo. Desde a queda de Adão e Eva, o império das trevas (Cl.1.13) se instalou na criação como um parasita, corroendo tudo o que Deus havia criado para a sua glória. As implicações disso podem ser vistas em toda a história humana, pois o pecado se prolifera rapidamente e ferozmente. Em pouco tempo, aparece o primeiro homicídio (Gn.4.8), o orgulho (Gn.4.17), a poligamia (Gn.4.19) e toda sorte de violência e injustiça (Gn.4.23-24). O pecado se alastrou tanto que Deus decidiu dar cabo de toda carne e reduzir o tempo de vida do ser humano (Gn.6.3), recomeçando a história humana a partir de uma única família que se manteve temente a Deus: 


Gênesis 6:5  Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração [

Gênesis 6:11-12  A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.  12 Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra


Apesar de todos os danos causados pelo pecado, Deus não desistiu do propósito de resgatar a sua criação. Ele poderia ter exterminado tudo, mas preferiu manifestar sua graça, bondade, misericórdia, amor, longanimidade, paciência e benignidade libertando e restaurando a criação que estava sob o jugo do império das trevas: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm.5.8).


O caminho até a volta do Reino de Cristo foi longo e difícil. Abel, o primeiro homem temente a Deus, foi morto por Caim, na tentativa de impedir o cumprimento da promessa divina a respeito do salvador prometido (Gn.3.15). Assim como os homens e os anjos não sabiam como se daria a salvação, quem faria parte da genealogia do Filho de Deus, também Satanás não fazia ideia quais seriam os progenitores do Messias. Toda a criação aguardava a revelação do projeto redentor que estava sendo descortinado aos poucos pela Palavra de Deus:


1 Pedro 1:10-12  Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada,  11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.  12 A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar


Desde então, diversas foram as investidas do diabo para impedir que Deus consumasse a obra redentora. Afinal, a redenção da criação implica, também, na destruição de Satanás (Ap.20.7-15). Primeiro foi o assassinato de Abel, frustrado pela providência divina, suscitando outro descendente em seu lugar: Sete (Gn.4.25-26). Em Gênesis 6, após a multiplicação dos filhos de Caim, Satanás seduz os filhos de Deus, a fim de contaminá-los. A miscigenação entre os filhos de Sete e os filhos de Caim acarretou na corrupção dos filhos de Deus. A influência do mundo maligno foi tão grande que apenas uma família temente a Deus permaneceu perseverando em sua fé: a família de Noé (Gn.6.8-9).


As promessas divinas encontraram três adversários atuantes ao longo da história: O diabo, o mundo e o pecado (Ef.2.1-3). E por toda a história, esses três adversários se levantaram com o propósito de impedir o agir de Deus em favor de seu povo (Zc.3.1-5) e, consequentemente, da criação (Rm.8.19-21). Podemos ver essa atuação maligna na fome que assolou a terra de Canaã (Gn.37-50), na tirania de Faraó matando os israelitas (Ex.1-2), na oposição de Seom (amorreus) e Ogue (rei de Basã) no deserto (Nm.21), na ousadia de Balaque para amaldiçoar Israel (Nm.22-24), na ambição de Balaão que ensinou Balaque a armar ciladas para Israel (Nm.25.1-9; 31.16; Ap.2.4), na investida dos cananeus contra Josué (Js.10), nas tentativas de Saul e Absalão para matarem Davi, no ódio irracional de Hamã que desejava aniquilar totalmente os judeus (Et.8.5) e nas muitas guerras travadas contra Judá e Jerusalém com o fim de dominar e miscigenar o povo (Ed.9-10). Durante esse tempo, apenas algumas pessoas estiveram atentas ás promessas do Senhor (Hb.11):


Hebreus 11:35-40  Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição;  36 outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.  37 Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados  38 (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.  39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa,  40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados


Contudo, enquanto isso, boa parte dos homens ignoravam a seriedade do plano de redenção. Os muitos pecados da nação escolhida, durante o Antigo Testamento, sem nenhuma preocupação com um verdadeiro arrependimento e mudança, tornavam a jornada redentora em um cenário caótico. Por essa razão, Deus realizou a dura e necessária purificação dos judeus por meio do cativeiro da Babilônia (2Cr.36). Os judeus foram levados cativos para a Babilônia em 586 a.C., e a partir desse episódio, Judá foi subjugado por diversos reinos sequencialmente: Babilônico, Medo-Persa, Grego, Ptolomaico e Selêucida, e Romano (Dn.2). Toda a experiência vivida por Israel, naquele período, fez com que o povo ansiasse pela reconstituição de seu próprio reino, livre e glorioso à semelhança do reinado nos dias do rei Salomão: “Eram, pois, os de Judá e Israel muitos, numerosos como a areia que está ao pé do mar; comiam, bebiam e se alegravam. Dominava Salomão sobre todos os reinos desde o Eufrates até à terra dos filisteus e até à fronteira do Egito; os quais pagavam tributo e serviram a Salomão todos os dias da sua vida.” (I Rs.4.20-21). Enquanto, no período interbíblico, os judeus criaram uma expectativa de tornarem-se um reino próspero e dominante na terra através da chegado do messias libertador, o dia da chegada do Reino dos céus estava próximo e viria através do Deus-homem sentado num jumentinho.


Jesus trouxe o Reino glorioso de Deus, manifestado em seu poder sobre o império das trevas: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.” (Mt.12.28). No entanto, os judeus não conseguiram ver em Cristo um Rei e nem em suas obras a chegada do reinado libertador e próspero tão esperado por todos. Israel não entendeu que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Rm.14.17). Jesus estava anunciando um reinado isento de interesses políticos corruptos, maior que construções formosas, à parte do domínio econômico mundial. O Reino de Cristo não era deste mundo e por não ser deste mundo, não tinha associações e interesses nas ambições do mundo (Jo.18.36). O Rei desse reino foi simples, humilde, servo, desprezado. Por isso, os judeus não lhe deram crédito algum. Qual a razão de ser deste reino tão aparentemente impotente? Onde está a glória deste reino celeste anunciado por um carpinteiro?


Jesus estava trazendo “um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,” (Dn.2.44). O Reino dos céus é a manifestação do poder e glória, graça e vida abundante de Deus entre o Seu povo. Cristo, o mediador e o herdeiro do Reino dos céus, veio com poder, libertando os endemoninhados, curando os enfermos, restaurando os marginalizados (Mt.11.5). Cada gesto e Palavra de Jesus era uma manifestação de poder, glória, graça e abundância da vida do Reino de Deus. 


Como mostrar ao mundo a presença real do Reino de Deus que é invisível, ausente de estrutura física e palpável, no entanto, glorioso e superior a todo e qualquer reino deste mundo? Como revelar o poder, a glória, a graça e abundante vida deste Reino? Como disse o Senhor Jesus aos fariseus: “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lc.17.20-21). 


O Reino de Deus é propagado através da Pregação da Palavra de Deus e por meio da vida daqueles que são súditos, e filhos, deste Reino eterno. A igreja, desta forma, precisa continuar pregando o evangelho a todas as gerações e nações, para que o Reino dos céus continue a crescer. O senhorio de Deus abrange toda a criação, mas somente aqueles que estiverem unidos a Cristo são considerados parte do Reino de Deus (Ef.2.11-22). A igreja prega a justiça e a santidade do Reino de Deus, mostrando ao mundo os valores eternos e perfeitos deste Reino sem mancha. Enquanto os reinos humanos são marcados pelo pecado e todo tipo de injustiça, o Reino eterno de Cristo é santo, como Santo é o Senhor do Reino. Mas, ainda que o Reino seja santo e justo não é excludente. A graça divina, presente no Reino de Deus, possibilita ao pecador, que reconhece com sinceridade sua condição miserável e sua necessidade da justiça de Cristo, a inclusão no perfeito Reino divino através da justiça do justo e justificador, Jesus. Dentro deste reino invisível, mas glorioso, o pecador justificado encontra vida abundante. 


Neste Reino recebe-se o amor incondicional de Deus, que alcança até o mais solitário dos homens (1Jo.4.7-21); a paz de Deus que excede todo entendimento, capaz de guardar os corações nas lutas da vida (Fp.4.6-7); a esperança da vida eterna, que concede sentido às frágeis vidas humanas (1Co.15; 1Pe.1.3-5); a alegria no Senhor, mesmo em meio a lágrimas diante das aflições do mundo (Fp.4.4); e “toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef.1.3). Ao anunciar o agir de Deus, poder, glória, graça e abundante vida, a igreja está anunciando o Reino presente e eterno de Seu Filho, dominando e subjugando os poderes deste século.


Todas as vezes que você submete seus pensamentos à santidade do Senhor Jesus, você estará revelando o poder do Reino de Deus para subjugar sua vida ao Reinado eterno e poderoso de Jesus. Assim, ocorrerá com cada gesto e palavra dita ou evitada, por causa do conhecimento da Palavra de Deus. Dessa forma, você mostrará ao mundo que o Reino de Deus é realmente poderoso, não só para justificar o pecador, como também para transformá-lo com poder, moldando-o ao caráter de Cristo (2Co.3.18). O mundo verá que o poder transformador deste Reino é glorioso, ou seja, santo, justo, verdadeiro, amável (Gl.5.22-23). Verá ainda, que tais valores, poderosamente restaurados no pecador, agora justificado, trazem consigo, de forma graciosa, a vida abundante desse Reino, concedendo o prazer de ser súdito do Reino de Deus. Nesses termos, vê-se a seriedade de cada palavra e ação da igreja perante o mundo, que carrega consigo a mensagem do poder e graça que o Reino veio trazer para os pecadores arrependidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário